26/10/2018

‘Essa elite nunca foi omissa, sempre foi é conivente’

‘Essa elite nunca foi omissa, sempre foi é conivente’

Entrevista com Sebastião Bomfim, dono da rede de artigos esportivos Centauro

manifesto divulgado por associações da construção civil e do mercado imobiliário endereçado aos presidenciáveis causou desconforto entre apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL). Para Sebastião Bomfim, dono da rede de artigos esportivos Centauro, o texto, que traz reivindicações como a “defesa firme e obstinada da democracia” é eleitoreiro e vem de setores que deram sustentação aos governos do PT.

“Em defesa da democracia todos somos. Está implícito”, disse. “Mas quem está querendo explorar o discurso de frente democrática neste momento é o PT”, afirmou Bomfim, que procurou a reportagem para expor sua insatisfação.

Por que se opõe ao manifesto?

Um manifesto publicado a poucos dias do segundo turno das eleições me parece ter sido produzido com intuito político e eleitoral. O tal pacto pela democracia é uma ideia que o PT quis construir. Quem assina o manifesto é uma turma que quer preservar a Constituição, mas que faz parte de um setor que foi muito exposto pela Lava Jato, que adora comprar lei ordinária. Agora querem se colocar como arautos da democracia? Essa elite empresarial nunca foi omissa, ela sempre foi é conivente. Quem fala na compra de lei ordinária não sou eu, é o ex-ministro Antonio Palocci, que fez delação. Trata-se de um manifesto completamente despropositado.

Mas eles não se declararam a favor de Fernando Haddad.

E precisa? Quem está construindo uma narrativa de defesa da democracia é o PT. Claro que todo mundo apoia a democracia. Eu não apoio? Isso está implícito em todos. O que me deixa consternado é que vem de empresários de setores que atuaram muito próximos aos governos do PT. Lideranças desse setor chegaram a fazer parte de horário político do PT. É absolutamente hipócrita e altamente eleitoreiro.

Vimos associações apoiarem Jair Bolsonaro esta semana. Também foi errado?

Não advogado por apoiarem A ou B. Mas essa elite é que deu sustentação ao PT o tempo inteiro. Política dos campeões nacionais, por meio de legislação, por meios de acessos (ao governo), pelo desenvolvimento dentro de Minha Casa Minha Vida. Jair Bolsonaro me pediu para gastar sola de sapato em sua campanha, mas essa turma tem a canela inchada de tanto andar nos corredores do Congresso. Estão agora perplexos porque vão lidar com um Congresso renovado ao qual não estão acostumados. Minha repulsa é um setor que é foco principal da Lava Jato vir agora se arvorar em defesa da democracia.

Mas assinam o manifesto associações variadas, de empresas que não estão na Lava Jato.

Quero deixar claro que conheço excelentes empresários da construção, que tiveram dificuldades enormes com rescisão de contrato e outros problemas no governo do PT. Mas, de forma geral, me revoltou profundamente. Uma velha elite empresarial acostumada a benesses de legislação vir agora falar em defesa da democracia.

Não o preocupa declarações como a de Eduardo Bolsonaro sobre o fechamento do STF?

Ele errou redondamente, mas falou numa hipótese. É preciso ver o contexto. Mas independentemente disso, qualquer deputado que queira agredir qualquer instituição tem de ser recriminado. Não importa o partido ou sobrenome. Sou democrata convicto e absoluto.

Bolsonaro falou no domingo que “marginais vermelhos” iriam para cadeia ou teriam de deixar o País. Como vê esse tipo de declaração?

Frases de efeito estão sendo ditas nas duas campanhas. Esse segundo turno é plebiscitário. Claro que, se tiver que alguém sair do País por uma questão de perseguição política, sou o primeiro a me opor – e saio eu mesmo do Brasil. Mas estou convicto de que não estamos diante de um risco à democracia. Haddad também falou que o vice de Bolsonaro é torturador. Esses excessos estão acontecendo dos dois lados. Mas é porque o clima de campanha esquentou (O Estado de S.Paulo, 26/10/18)