Estilo brigão de Trump impulsiona exportações do agronegócio brasileiro
Legenda: Presidente Donald Trump (reprodução/internet)
Brasil tentou seguir dinâmica ao impor viés ideológico às relações comerciais, mas reação de produtores foi mais resistente.
O estilo brigão de Donald Trump na política externa ajudou o agronegócio brasileiro. No último ano de seu mandato, o presidente dos Estados Unidos deixa sequelas para o agronegócio americano.
Uma das primeiras medidas de seu governo foi abandonar ou revisar acordos comerciais. Na sequência, comprou briga com chineses e europeus, dois dos principais mercados dos EUA.
No primeiro semestre de 2018, quando Trump iniciou uma guerra de tarifas com a China, as exportações de produtos agrícolas e de produtos relacionados à agropecuária americana somaram US$ 72 bilhões.
Nos primeiros seis meses deste ano, recuaram para US$ 66 bilhões, com queda de 8%.
No mesmo período, as exportações brasileiras, considerados apenas os alimentos, ficaram em US$ 43 bilhões, 7% mais do que as de janeiro a junho de 2018.
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O governo do Brasil também tentou seguir a dinâmica de Trump, impondo um viés ideológico às relações comerciais, mas a reação do agronegócio brasileiro foi mais segura do que a dos americanos, não permitindo intrigas com os principais parceiros.
Foi assim com a China, vista pelo presidente Jair Bolsonaro como um país que queria dominar a economia brasileira, e com os árabes, que se sentiram desconfortáveis com a intenção de mudança de embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
Não ficou de fora dessa intriga brasileira o Irã. Para seguir padrões de Trump, a família Bolsonaro colocou esse país na lista das provocações.
Analisando as diversas regiões econômicas do mundo, o produto brasileiro tomou o lugar do dos americanos em várias delas, principalmente nas de maior expressão.
As exportações brasileiras de alimentos de janeiro a junho deste ano para o leste asiático cresceram 20%, em relação às 2017, primeiro ano do mandato de Trump. As americanas encolheram 11%.
A Ásia, além de ter a China, o principal mercado de alimentos para os exportadores mundiais, concentra uma vasta população em outros países. Eles estão abrindo seus mercados.
O Brasil avançou muito nas exportações para China, Japão e Coreia do Sul, mercados tradicionais. Os maiores crescimentos, porém, ocorreram em mercados novos como os da Indonésia, da Tailândia, do Vietnã e das Filipinas. Neste último país, a evolução foi de 113% na comparação do primeiro semestre de 2017 com igual período deste ano.
Neste período, o Brasil elevou as receitas em 8% na União Europeia, enquanto os americanos perderam 5%. No Oriente Médio, ambos perderam.
Os americanos tiveram uma evolução maior das exportações apenas em mercados menores, como os da América Central e do norte da África. Os EUA aumentaram as exportações para o norte da África em 50%, enquanto o Brasil reduziu em 23%.
América Central e norte da África somaram receitas de apenas US$ 4,6 bilhões neste ano para os americanos.
A China é o grande diferencial na balança comercial dos dois países. Os chineses diversificaram a pauta de importação nos últimos anos e, além da soja, ampliaram as compras de carnes, algodão e celulose.
No caso brasileiro, neste primeiro semestre de 2020, as exportações de soja para a China renderam 21% mais do que as de 2017. No caso americano, houve queda de 64%.
Quanto às carnes, devido à ocorrência da peste suína africana no país, a China elevou as compras tanto do Brasil como dos Estados Unidos. Neste último, a opção foi por carne suína. No Brasil, os chineses elevaram as compras de carnes bovina, suína e de frango.
A defesa da cadeia do agronegócio brasileiro para que a política não interferisse nos negócios surtiu efeito. As exportações aumentaram.
Os Estados Unidos exportaram o correspondente a US$ 137 bilhões no ano passado em produtos agrícolas. As importações foram de US$ 131 bilhões. Já o Brasil exportou US$ 97 bilhões e importou US$ 14 bilhões.
Os dados dos EUA são do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA). Os do Brasil são dos ministérios da Agricultura e da Economia (Folha de S.Paulo, 11/8/20)