Estoques de carnes no varejo dos EUA dariam somente para mais 15 dias
Os estoques norte-americanos de carnes têm capacidade para atender a demanda do varejo nos Estados Unidos somente por mais 15 dias, em meio aos fechamentos de frigoríficos por causa do coronavírus, disse o CFO da JBS, Guilherme Cavalcanti (Foto), o que levou o governo Trump a planejar uma medida para manter o funcionamento das unidades.
O presidente dos EUA, Donald Trump, deve assinar um decreto ainda nesta terça-feira, tendo como base o Ato de Defesa da Produção, para exigir que as plantas continuem em operação, garantindo a oferta de alimentos no país, afirmou uma autoridade sênior do governo.
Durante participação em webinar, o CFO citou a medida do presidente americano. “Veio uma ordem de cima porque ordens locais às vezes são conflitantes”, avaliou.
Cavalcanti ressaltou que a própria JBS teve duas unidades de bovinos nos EUA que suspenderam atividades, depois que funcionários testaram positivo para o vírus, e já retornaram as operações.
Segundo ele, uma planta de bovinos e uma de suínos ainda seguem fechadas.
Além disso, ele lembrou que concorrentes como Tyson Foods e Smithfield também anunciaram fechamentos, o que comprometeu a oferta da proteína no país.
“Temos capacidade ociosa nas plantas do Brasil para exportar carne para os EUA se necessário. Temos capacidade na Austrália para exportar aos EUA se necessário”, disse.
A diversificação geográfica da JBS é uma vantagem competitiva para a empresa em momentos de crise, seja na questão sanitária ou financeira, afirmou. “Isso traz uma estabilidade maior para nossas margens.”
Segundo Cavalcanti, somente no Brasil, a companhia conta com 37 unidades na área de bovinos, sendo assim, se houver foco da doença em uma planta, isso não compromete significativamente a capacidade de produção de carnes da empresa.
Na última semana, um surto da Covid-19 atingiu cerca de 20 empregados de uma unidade de aves da JBS em Passo Fundo (RS), segundo o Ministério Público do Trabalho, marcando a primeira disseminação em grande escala do vírus em um frigorífico no Brasil.
O fato da empresa atuar na produção das três principais proteínas de origem animal —aves, suínos e bovinos— também é visto pelo CFO como um fator que eleva a competitividade da empresa em meio à crise do coronavírus.
“Se o mundo enfrentar uma recessão econômica por causa do coronavírus, o consumidor pode optar por carnes mais baratas e poderemos atendê-lo. No nosso caso, um setor tende a completar o outro.”
PLANOS
Cavalcanti ressaltou que a crise do coronavírus chegou no melhor momento financeiro da companhia, o que limita os danos de uma recessão econômica para a empresa.
“A empresa abriu muito limite de crédito com os bancos (anteriormente) e agora eu estou aproveitando para tomar esses recursos quando houver necessidade sem comprometer a alavancagem”, disse.
Desta forma, o plano de abertura de capital nos Estados Unidos, principal movimentação da companhia nos últimos tempos, está mantido, mesmo em meio ao cenário de crise da Covid-19.
“Temos muito valor pra destravar com a listagem nos EUA. O plano de abertura de capital continua o mesmo, somente a velocidade do projeto foi reduzida porque não podemos sequer viajar para os EUA.”
Uma estratégia da companhia que foi suspensa temporariamente é a de aquisições. “A gente vinha em um momento de expansão, mas agora o objetivo é manter a produtividade, é manter as plantas operando, os empregos. Aquisição, não vamos olhar agora”, disse.
Segundo ele, quando houver uma clareza maior no cenário, a companhia poderá fazer “um exercício de alocação de capital” e voltar com este tipo de estratégia de expansão.
A diretora de Relações com Investidores da JBS, Christiane Assis, acrescentou que a expectativa é de que as exportações vão continuar fortes nos próximos meses, puxadas pela China.
“A peste suína africana elevou muito o nível das exportações e isto deve permanecer”, destacou (Reuters, 28/4/20)
Trump determinará que fábricas de processamento de carnes fiquem abertas
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja determinar que as unidades norte-americanas de processamento de carnes, que têm enfrentado preocupações relacionadas a surtos de coronavírus, permaneçam abertas para garantir a oferta de alimentos do país, disse uma autoridade sênior do governo.
Trump deve assinar um decreto ainda nesta terça-feira, tendo como base o Ato de Defesa da Produção, para exigir que as plantas continuem em funcionamento, afirmou a autoridade.
A ordem foi elaborada para dar às empresas, entre elas a Tyson Foods , mais proteção pela responsabilidade no caso de algum funcionário contrair o coronavírus como resultado da necessidade de ir ao trabalho.
O decreto também incluirá orientações para minimizar os riscos aos trabalhadores mais vulneráveis ao vírus, segundo a autoridade.
Mais cedo, Trump disse que seu governo estava trabalhando em conjunto com a Tyson Foods, e que o decreto abordaria preocupações sobre as responsabilidades das empresas.
“Estamos trabalhando com a Tyson... Nós vamos assinar um decreto executivo hoje, acredito, e isso vai resolver qualquer problema de responsabilidade”, disse Trump a repórteres no Salão Oval da Casa Branca.
“Estamos trabalhando com a Tyson, que é uma das maiores companhias nesse mundo. E sempre trabalhamos com os produtores. Há bastante oferta.”
A autoridade sênior do governo, falando em condição de anonimato, afirmou que se ações não fossem tomadas, a grande maioria das unidades de processamento poderia ser fechada por um período de tempo, reduzindo a capacidade de oferta de carnes dos EUA em até 80%.
“Isso é parte de nossa infraestrutura fundamental”, disse a autoridade em relação às plantas de processamento.
Membros do governo e parlamentares republicanos têm afirmado que os negócios que estão reabrindo precisam de proteção às responsabilidades, para evitar eventuais processos por funcionários que contraírem a doença (Reuters, 28/4/20)