27/09/2018

Estudo detecta contaminação por micotoxinas em ração para gado de corte

Estudo detecta contaminação por micotoxinas em ração para gado de corte

Todas as amostras de ração para bovinos de corte avaliadas pela pesquisadora Letícia Custódio, da Unesp de Jaboticabal, apresentaram contaminação por micotoxinas - substâncias tóxicas aos animais produzidas por fungos. Além disso, 7% das amostras continham alto nível de contaminação. A conclusão consta de estudo realizado no âmbito da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, e divulgado hoje.

Conforme Letícia Custódio, durante muito tempo se acreditou que pelo fato de as micotoxinas serem metabolizadas no rúmen (pança) de bovinos, os animais não seriam afetados. Porém, a pesquisa concluiu que, caso o gado se alimente dessa ração contaminada, pode perder até 26 quilos de peso corporal no fim do processo produtivo. Letícia diz que a metabolização realmente ocorre, "mas isso vai depender da quantidade de ração que o animal está consumindo e qual micotoxina está presente" "Existem algumas que não são metabolizadas no rúmen", explica.

O fungo que produz essas toxinas está naturalmente presente na matéria-prima utilizada na ração - milho e farelo de soja, entre outros ingredientes de origem vegetal. "Por isso é praticamente impossível haver uma dieta para confinamento sem contaminação, ainda que mínima", comenta Letícia.

Importante, então, é manter as micotoxinas em níveis baixos no alimento, a fim de diminuir os danos causados pelas substâncias. "Nos meus experimentos, mesmo com uma contaminação considerada baixa, observamos uma queda de 200 gramas de ganho médio diário por animal - o que equivale, no fim do processo produtivo, a 26 quilos a menos no peso corporal do animal", reforça a zootecnista.

A pesquisadora diz que para minimizar a contaminação devem ser adotadas boas práticas de fabricação da ração, de manejo agrícola e de armazenamento do alimento. Em grãos úmidos e danificados, por exemplo, os fungos se multiplicam muito mais rapidamente. "Práticas como a colheita tardia e a armazenagem incorreta promovem um ambiente favorável para muitas espécies desses organismos", informa.

Entre as possibilidades de reduzir os prejuízos causados por micotoxinas à saúde dos bovinos estão os adsorventes, substâncias de origem sintética ou natural que se ligam às micotoxinas e impedem que sejam metabolizadas pelos animais, podendo ser misturadas à ração já formulada.

"É uma estratégia para quando o alimento já está contaminado ou o criador não sabe", pontua Letícia Custódio. Para a zootecnista, compensa para o produtor utilizar o adsorvente como uma forma de segurança. "Pode ficar mais caro fazer a análise do que usar o adsorvente", pondera. Além disso, armazenar a ração em locais secos e ventilados para evitar a proliferação de fungos é outra importante medida (Broadcast, 26/9/18)