11/01/2023

Etanol: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22

Etanol: Análise Conjuntural Agromensal Cepea/Esalq/USP Dezembro/22

ETANOL CEPEA

RETROSPECTIVA DE 2022:

O volume de etanol exportado pelas usinas brasileiras foi um dos destaques da safra 2022/23 e ajudou a reduzir a oferta do biocombustível no mercado interno – ressalta-se que, no ciclo anterior, a menor oferta limitou as exportações brasileiras de etanol.

 

Entre abril e novembro de 2022, o Brasil exportou 1,84 bilhão de litros do biocombustível, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), acima dos 1,26 bilhão de litros escoados em igual período da temporada anterior.

 

A receita arrecadada de abril a novembro somou US$ 1,35 bilhão, montante 91,1% superior ao do mesmo período da safra 2021/22 (US$ 705,8 milhões). As exportações líquidas mensais (resultado da subtração do volume importado do total exportado pelo País) tiveram média de 205,4 milhões de litros (de abril a novembro de 2022), contra 137,5 milhões de litros em igual período do ciclo 2021/22.

 

Se, por um lado, as exportações foram expressivas, por outro, a demanda interna por etanol hidratado seguiu desaquecida. Isso porque, com o aumento das vendas de gasolina C nas bombas – devido à vantagem competitiva de preço –, a procura por etanol anidro cresceu, em detrimento da demanda pelo hidratado.

 

Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o volume de hidratado consumido em território nacional entre janeiro e outubro de 2022 ficou próximo dos 13 bilhões de litros, redução de 10% no comparativo com o mesmo período do ano anterior, que foi de 14,4 bilhões de litros.

 

De gasolina, foram consumidos 34,9 bilhões de litros, crescimento de 9,6% em relação aos 31,8 bilhões de litros registrados entre janeiro e outubro de 2021 (ANP). Ainda de acordo com a ANP, a relação média entre o preço do etanol hidratado e o da gasolina C em São Paulo entre 1º de abril e 31 de dezembro de 2022 foi de 71,9%.

 

Em média, nesse período, a gasolina C custou R$ 5,72/litro, e o etanol, R$ 4,10/litro nas bombas paulistas. A diferença absoluta entre os preços dos dois combustíveis chegou a ser de 1,62 Real/litro no balanço da parcial da safra 2022/23.

 

Nesse cenário, os preços dos etanóis hidratado e anidro nas usinas foram pressionados na parcial da safra 2022/23 – vale lembrar que, na temporada 2021/22, o clima desfavorável e a quebra da produção impulsionaram as cotações do anidro e do hidratado, que atingiram patamares bastante superiores aos praticados em ciclos anteriores.

 

Cálculos do Cepea mostram recuos de 14% nos preços do hidratado e do anidro, respectivamente, na parcial da atual safra frente aos da anterior – em termos reais (os valores foram deflacionados pelo IGP-M de dezembro), com médias de R$ 2,8799/litro e de R$ 3,2807/litro entre abril e dezembro/22.

 

Considerando-se as últimas quatro temporadas, as atuais médias estiveram acima das registradas em 2019/20 e em 2020/21, também em termos reais, mas abaixo das de 2021/22. Quanto à liquidez, o cenário foi de poucos negócios entre abril e dezembro, visto que compradores se mostraram cautelosos.

 

A indefinição tributária sobre os combustíveis preocupava os agentes do mercado, que aguardavam por um posicionamento do governo para, então, definirem suas metas para 2023.

 

Nas usinas, o volume de cana-de-açúcar processado entre abril e a primeira quinzena de dezembro (safra 2022/23) somou 538,98 milhões de toneladas, avanço de 3,13% frente ao do ciclo 2021/22, conforme dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia).

 

Para a próxima temporada, espera-se aumento significativo na alocação da matéria-prima para a produção de açúcar em detrimento da de etanol, o que poderia elevar os preços do biocombustível.

 

NORDESTE

Nos estados nordestinos acompanhados pelo Cepea, a safra 22/23 se iniciou na segunda quinzena de julho na Paraíba, e em setembro em Pernambuco e em Alagoas. O cenário desta temporada tem se mostrado diferente do observado em safras passadas, com boa parte das usinas priorizando as produções de açúcar (destinado à exportação) e de etanol anidro.

 

Além disso, neste ano-safra, observou-se aumento de produto contratado, limitando os volumes destinados ao mercado spot. Quanto aos preços, em termos reais, houve queda desses estados frente aos da safra 2021/22. Na parcial da temporada 2022/23 (de agosto/22 a dezembro/22), o preço médio mensal do etanol hidratado em Pernambuco foi de R$ 2,5679/litro, 21,41% menor que o do mesmo período da safra anterior, em termos reais (valores deflacionados pelo IGP-M de dezembro/2022).

 

Para o anidro, a baixa foi de 24,35% na mesma comparação, a R$ 3,2809/litro. Em Alagoas, a média do preço do hidratado caiu 24,54%, para R$ 2,4768/litro, e a do anidro, 23,27%, para R$ 3,3395/litro. Na Paraíba, o valor médio do etanol hidratado foi de R$ 2,6291/litro, retração de 21,32%, e para o anidro, as cotações recuaram 21,93%, para R$ 3,4078/litro.

 

Vale lembrar que o início da moagem de cana foi adiado nas usinas em alguns momentos, devido às condições climáticas. O volume de chuvas foi bem expressivo, principalmente em algumas regiões de Pernambuco e de Alagoas, chegando a danificar parte dos canaviais e alguns maquinários.

 

Por outro lado, a quantidade e a melhor distribuição das precipitações em 2022 permitiram o acúmulo de umidade nos solos, aumentando as expectativas de safra maior para os nordestinos. Para a Paraíba, a estimativa de produção de cana-de-açúcar é de 6,75 milhões de toneladas, aumento de 18,7% frente à da safra 21/22, segundo dados do Sindalcool-PB.

 

Além disso, estimase produção de 425 milhões de litros de etanol (anidro e hidratado) no estado, incremento de 19,9% no mesmo comparativo. Em Alagoas, a expectativa é de que mais de 19,5 milhões de toneladas de cana sejam processadas na safra 22/23, dando continuidade à tendência de alta já observada na temporada 21/22. Para a produção de etanol, espera-se aumento de 8,6%, chegando a 485,6 milhões de litros de etanol total, conforme dados do Sindaçúcar-AL (Assessoria de Comunicação, 4/1/23)