EUA avaliam adiar tarifa sobre aço, mas querem sinalização sobre etanol

Alckmin deve voltar a falar com autoridades americanas na próxima semana para tratar das tarifas. Foto Cadu Gomes - VPR
Conversa entre os dois países foi classificada como produtiva pelo governo brasileiro; cobrança sobre assuntos comerciais que incomodam os EUA já era esperada
O secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick, e o representante comercial dos EUA (USTR), Jamieson Greer, vão levar ao presidente Donald Trump o pleito do Brasil para que seja adiada a implementação da sobretaxa sobre o aço importado brasileiro. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, esse foi um dos avisos dados na quinta-feira, 6, ao vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em reunião por videoconferência que durou quase uma hora com os dois auxiliares do republicano.
Em troca de um eventual adiamento da tarifa, os americanos querem abrir o diálogo sobre temas caros para o governo trumpista, em especial o imposto de importação que o Brasil aplica sobre o etanol comprado dos EUA, considerado muito alto pela administração americana.
De acordo com pessoas a par das conversas, a expectativa é a de que Alckmin, Lutnick e Greer voltem a se falar na próxima semana. Até lá, os governos irão trocar informações técnicas sobre os temas em tratativa. Além disso, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, terá uma conversa ainda nesta sexta-feira, às 12h, por telefone com o representante do USTR.
O prazo para a tarifa de 25% sobre o aço importado pelos Estados Unidos entrar em vigor está se aproximando. A previsão é que a alíquota mais alta já passe a valer na próxima quarta-feira, 12, o que foi reafirmado por Trump na terça, 4. O Brasil, contudo, tenta negociar uma saída com os americanos, como a manutenção das cotas de exportação para os EUA acordadas ainda em 2018, no primeiro mandato do republicano.
Pelo acordo, o Brasil pode exportar anualmente 3,5 milhões de toneladas de aço semiacabado e 687 mil toneladas de laminados aos EUA, arranjo que evitou a sobretaxa anunciada pelo republicano em seu primeiro mandato. O volume importante de placas de aço exportadas daqui aos Estados Unidos foi uma das informações destacadas na reunião com os auxiliares de Trump. Como o item é complementar à indústria siderúrgica de lá, o Brasil argumenta ser importante que os EUA mantenham a parceria comercial, de modo que a produção interna dos americanos não tenha seus custos elevados.
Números da balança comercial entre o Brasil e os Estados também foram destacados na reunião. Os dois países mantêm uma balança de cerca de US$ 80 bilhões, com um superávit de US$ 200 milhões para os americanos. Além disso, dos dez produtos que o Brasil mais importa dos Estados Unidos, oito a tarifa é zero. A tarifa média ponderada efetivamente recolhida é de 2,73%, bem abaixo do que sugerem as tarifas nominais, destacou o Mdic em nota sobre o encontro.
A conversa entre os dois países foi classificada como produtiva por integrantes do governo brasileiro. Já era esperado que os Estados Unidos fizessem alguma cobrança sobre assuntos comerciais que incomodam o país, como é o caso das tarifas sobre o etanol, uma demanda histórica dos americanos.
Há uma pressão antiga dos Estados Unidos para redução do imposto de importação aplicado pelo Brasil sobre o produto norte-americano, de 18% ante 2,5% da tarifa cobrada para o etanol brasileiro que entra nos Estados Unidos. O item já foi citado diretamente por Trump em suas reclamações sobre as tarifas cobradas pelos parceiros comerciais que o republicano considera exageradas (Estadão, 8/3/25)