27/03/2018

EUA e China provocam tensão no mercado de soja

EUA e China provocam tensão no mercado de soja

A guerra comercial entre Estados Unidos e China ganhou contornos mais claros na semana passada e, nessa queda de braço, as exportações de soja do Brasil tendem a ser beneficiadas. Na última quinta-feira, o Ministério do Comércio da China divulgou uma lista prévia de produtos americanos a serem sobretaxados para a entrada no país. A tarifa vai de 15% a 25%, mas a relação definitiva só deve sair em duas semanas.

Embora a soja não tenha aparecido na lista, a eventual inclusão da oleaginosa já provocou a paralisação dos negócios no mercado brasileiro no fim da semana passada e também levou nervosismo à bolsa de Chicago na última sexta-feira.

Segundo Nilo Gutoch, da ASP Corretora, de Primavera do Leste (MT), o produtor evitou fechar negócios na expectativa de que o prêmio pago pela soja brasileira nos portos sobre a cotação da bolsa de Chicago aumente ainda mais. Na sexta-feira, os contratos futuros com entrega para julho fecharam a US$ 10,3925 em Chicago, com baixa de 1,5 centavo de dólar. Em alguns momentos do pregão, no entanto, a soja chegou a cair 20 centavos, diante do temor de retaliações à soja americana.

A tensão entre EUA e China e os problemas na safra da Argentina já vinham gerando escalada do prêmio pago pela soja brasileira. Na sexta-feira, em Paranaguá, o prêmio alcançou 85 centavos de dólar, o dobro de igual período de 2017, segundo Ana Luiza Lodi, da INTL FCStone.

Analistas consideram improvável que a China imponha restrições à soja americana, pois o país asiático necessita do produto e o Brasil não consegue atender toda a demanda. Mas concordam que a disputa deve levar a um aumento da participação da soja brasileira nas importações chinesas. "Uma taxação à soja americana só aumentaria o custo da produção para a indústria processadora da China", afirma Enilson Nogueira, da consultoria Céleres.

O Brasil é o principal exportador de soja para a China e embarcou 54 milhões de toneladas ao país em 2017, segundo a Secex, o equivalente a US$ 21 bilhões. Os EUA exportaram 32,9 milhões de toneladas ao país, ou US$ 14 bilhões.

Ainda que não seja possível saber o destino da soja, as vendas externas brasileiras do produto já registram alta forte neste mês, um período tradicionalmente mais fraco. Até o dia 18, as exportações somaram 5,1 milhões de toneladas, segundo a Secex. Por dia, o volume embarcado é 9,6% maior que no mesmo período de 2017.

A última estimativa do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) indica que o Brasil deve exportar um total de 70,5 milhões de toneladas de soja no ciclo 2017/18, alta de 11,7% sobre a safra anterior. Mas esse número pode ser maior. "As nossas exportações podem chegar a 79 milhões de toneladas ou até onde nossos estoques permitirem", afirma Luiz Fernando Gutierrez Roque, da Safras & Mercado (Assessoria de Comunicação, 26/3/18)