26/03/2025

EUA veem ressurgir variantes da gripe aviária; Brasil resiste à doença

EUA veem ressurgir variantes da gripe aviária; Brasil resiste à doença

 

Gripe aviária tem causado desequilíbrio no quadro de oferta e demanda na avicultura dos Estados Unidos Foto Bob Nichols USDA

 

Segundo o Ministério da Agricultura, país segue sem registros em planteis comerciais de aves.

 

Surtos de gripe aviária em várias partes do mundo têm provocado desequilíbrios no quadro de oferta e demanda na cadeia produtiva de aves. Nos EUA, por exemplo, o preço dos ovos atingiu níveis históricos, e o país voltou a lidar com variantes do vírus influenza que não eram vistas desde 2017. Enquanto isso, a avicultura comercial do Brasil “resiste” e se mantém longe da doença.

 

Milho mais caro deve continuar elevando os preços dos ovos

 

Em território americano, a crise provocada pela gripe aviária levou o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) a anunciar mais de US$ 1 bilhão em ações de prevenção, controle e pesquisa de vacinas contra a doença. E, na última semana, declarações vindas de outro órgão do alto escalão causaram polêmica.

 

secretário de Saúde, Robert F. Kennedy Jr., defendeu a manutenção de galinhas infectadas nos planteis, para, segundo ele, haver uma seleção entre as suscetíveis e as imunes à doença. Pesquisadores e representantes da avicultura do país contestaram as declarações, alegando que a tese do secretário, se colocada em prática, poderia ter o efeito contrário ao pretendido e espalhar ainda mais a gripe aviária no país.

 

Em território brasileiro, dados do Ministério da Agricultura apontam a ocorrência de 166 casos de gripe aviária no território nacional desde o dia 15 de março de 2023, data do primeiro registro. São 163 ocorrências em aves silvestres e outras três em criações de subsistência. Neste momento, não há nenhuma amostra em análise laboratorial. As autoridades já coletaram 1,04 mil e realizaram 3,81 mil investigações de suspeitas.

 

Como as granjas comerciais não têm focos da doença, o Brasil mantém seu status de livre de gripe aviária e consegue destaque no mercado global. É esse diferencial sanitário que ajuda a indústria do país a registrar sucessivos resultados positivos nas exportações de carne de frango e de ovos.

 

“O mercado internacional segue com alta demanda por carne de frango do Brasil, seja em consequência às rupturas de fluxo de comércio geradas entre nações com registros de H5N1, ou como resultado de medidas de apoio ao abastecimento interno de países com dificuldades”, disse, no início deste mês, em nota, o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.

 

Exportações

 

As exportações de carne de frango do Brasil em fevereiro foram as melhores para o mês. Os embarques somaram 468,4 mil toneladas, 17,9% a mais que no mesmo período no ano passado. A receita cresceu 23,1% na mesma comparação, para US$ 870,4 milhões. Na soma do primeiro bimestre, foram 911,4 mil toneladas (+13,6%) e US$ 1,696 bilhão (+22%).

 

As exportações de ovos do Brasil somaram 2,527 mil toneladas em fevereiro, aumento de 57,5% em relação a fevereiro de 2024. Na mesma comparação, os exportadores faturaram 63,2% a mais, chegando a US$ 4,884 bilhões.

 

Entre os destaques, os Estados Unidos, que, passaram a comprar ovos brasileiros para o seu abastecimento interno e ficaram em segundo lugar no ranking dos principais destinos. No primeiro bimestre, os embarques somaram 4,884 mil toneladas (+38,2%), e o faturamento totalizou US$ 9,122 milhões.

 

“Mesmo representando menos de 1% do total produzido pelo Brasil, o incremento do volume exportado indica a confiança internacional no setor produtivo brasileiro”, ressaltou Santin, também em nota. A ABPA tem defendido, inclusive, que, pela sua baixa representatividade na oferta e demanda brasileira, as exportações pouco influenciam nos preços internos do ovo, que também subiram.

A manutenção, pelo menos até o momento, do status sanitário do Brasil não significa, no entanto, que o país está imune. Nem livre de riscos. Afinal, o vírus segue em circulação e seu principal vetor são aves migratórias.

 

“Portanto, aplicar medidas de biosseguridade nos estabelecimentos avícolas visando limitar a exposição de aves domésticas a aves silvestres, principalmente migratórias e/ou aquáticas, é a principal medida de mitigação de risco para introdução do vírus da influenza aviária no plantel avícola nacional”, destaca o Ministério da Agricultura.

 

O alerta é global. O informe mais recente da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) datado de fevereiro, indica que, só no mês passado, mais de 11,4 milhões de aves morreram por causa da doença, a maior parte nas Américas. Foram detectados 121 novos surtos na avicultura em 17 países e territórios diferentes. O continente americano liderou, com 54.

 

“Dado que a gripe aviária de alta patogenicidade (HPAI, na sigla em inglês) está se espalhando pelo mundo, a vigilância contínua é necessária em aves silvestres e domesticadas”, reforça a OMSA, em boletim mensal de atualização sobre a doença referente ao mês de fevereiro.

 

De outubro de 2024 a setembro de 2025, que a Organização usa como referência de comparação anual no relatório, o número de casos de gripe aviária de alto potencial transmissivo na avicultura em escala global foi de 949. No período imediatamente anterior (outubro de 2023 a setembro de 2024), foram 786.

Infecção por gripe aviária pode causar perdas em planteis e sanções comerciais em escala global. Foto Mira - Divulgação

 

O que é a gripe aviária?

 

A gripe aviária é uma doença altamente contagiosa, causada por variantes do vírus Influenza. Atualmente, grande parte dos casos de alto potencial transmissível registrados no Brasil e em outras partes do mundo é da cepa H5N1. No entanto, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) contabiliza outros subtipos, como H5N3, H5N8, cm prevalência de um em detrimento de outro, a depender da região.

 

Mais recentemente, nos Estados Unidos, as autoridades identificaram um foco de gripe aviária da cepa H7N9, que não era encontrada no país desde 2017. A ocorrência levou ao sacrifício de mais de 47 mil aves em uma granja no Estado do Mississippi.

 

A doença pode atingir tanto aves silvestres quanto domésticas e planteis de criação, além de mamíferos. O ser humano também pode contrair, embora os casos sejam mais raros.

 

Como se transmite a gripe aviária?

 

Os principais vetores da gripe aviária são aves migratórias. Pássaros silvestres aquáticos, como patos, marrecos, gansos e cisnes, são hospedeiros naturais do vírus. O meio de transmissão mais comum para aves domésticas é o contato com animais infectados ou secreções, como fezes e fluidos corporais.

 

Água e objetos contaminados também podem ser vetores da doença. Nos poucos casos de infecção humana de que se tem registro, o contágio se seu pelo contato direto com animais doentes ou com ambientes contaminados.

 

Quais são os sintomas da gripe aviária?

 

  • Depressão intensa;
  • Dificuldade respiratória, tosse, espirros, muco nasal;
  • Torcicolo, opistótono, andar cambaleante;
  • Queda de postura, produção de ovos deformados, com casca fina ou sem pigmentação;
  • Hemorragias, nas pernas e as vezes nos músculos;
  • Edema (inchaço) nas juntas das pernas;
  • Cianose e focos necróticos na crista e na barbela;
  • Diarreia aquosa esverdeada ou branca e desidratação;
  • Muco excessivo ou hemorragia da traqueia;
  • Edema subcutâneo na região da cabeça e pescoço, inchaço da cabeça, olhos, crista, barbela e juntas das pernas;
  • Coloração roxa das penas, cristas e barbelas;
  • Hemorragias musculares;
  • Petéquias (pontos hemorrágicos) no peito, gordura abdominal e interior da carcaça;
  • Severa congestão dos rins, às vezes com depósitos de uratos;
  • Hemorragias e degeneração dos ovários;
  • Hemorragias na mucosa do pró-ventrículo principalmente na junção com a moela;
  • Focos de hemorragias na mucosa do intestino.

 

Se a gripe aviária atingir uma criação comercial, o que pode acontecer?

 

Países que notificam surtos de gripe aviária altamente patogênicos enfrentam barreiras sanitárias que limitam a comercialização nos mercados interno e internacional, com prejuízos à avicultura comercial, seja a de corte (para carne) seja a de postura (para a produção de ovos).

 

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa a cadeia produtiva no Brasil, no mercado interno, a consequência seria restrição de trânsito e comércio de aves e subprodutos na região do estabelecimento onde a doença foi detectada, com efeitos no quadro de oferta e demanda. No mercado externo, poderia haver restrições ou bloqueio de comércio.

 

Como manter as criações longe da gripe aviária?

 

  • Preserve as estruturas de proteção dos aviários, incubatórios, fontes de água e fábricas de ração para evitar contato com aves silvestres, roedores e outros animais;
  • Evite visitas de pessoas e veículos na granja e instale aviso de ENTRADA PROIBIDA;
  • Siga as medidas de desinfecção de equipamentos e de roupas usadas na granja;
  • Quando possível, garanta local para banho e troca de roupa e forneça vestuário próprio da granja, para os trabalhadores e visitantes;
  • Procure manter sua criação fechada pelo menos na época de migração de aves vindas da América do Norte, de novembro a março;
  • Mantenha sempre limpa a área ao redor dos aviários e instalações sem entulhos;
  • Proíba o acesso das aves de criação a lagos, açudes, poças ou tanques de água;
  • Mantenha os bebedouros e comedouros protegidos de aves silvestres;
  • Trate com cloro a água de bebida das aves e a água de aspersão nos aviários (mínimo 3 ppm de cloro);
  • Evite fornecer água de superfície para sua criação;
  • Mantenha o estoque de ração sempre protegidos das aves silvestres e outros animais;
  • Garanta o tratamento adequado das carcaças, ovos descartados e compostagem com isolamento deste local das aves silvestres e outros animais;
  • Garanta o tratamento adequado da compostagem antes de ser usada como adubo;
  • Garanta que o entorno dos aviários não tenha plantação de árvores frutíferas, cereais ou outra vegetação que atraia aves silvestres;
  • Mantenha os registros de controle de trânsito de pessoas e veículos sempre atualizados;
  • Mantenha atualizado os controles de índices zootécnicos e manejo sanitário.

 

Identificada a gripe aviária, que medidas são adotadas?

 

Ao identificar uma situação suspeita de ocorrência de gripe aviária, a recomendação das autoridades é o contato imediato com autoridades de defesa sanitária locais. A notificação de casos é obrigatória. A Organização Internacional de Saúde Animal (OMSA) recomenda adotar medidas como isolamento e vigilância da região afetada, abate sanitário, desinfecção e monitoramento de outras localidades suscetíveis em uma área demarcada pelas autoridades (Globo Rural, 25/3/25)