05/11/2024

Europa deve adiar lei antidesmatamento, diz chefe de órgão mundial do café

Europa deve adiar lei antidesmatamento, diz chefe de órgão mundial do café

Vanusia Nogueira, presidente da Organização Internacional do Café. Foto Luis Jaime Acosta – Reuters

 

Por David Lucena

 

Tendência é que Parlamento aprove adiamento, segundo presidente de entidade que acompanha o processo.

 

A presidente da Organização Internacional do Café, Vanusia Nogueira, disse que a tendência é que o Parlamento Europeu aprove a proposta para adiar a aplicação da sua lei antidesmatamento.

"Nesse momento existem alguns partidos querendo negociar um pouquinho as condições para aprovar ou não, mas eu acredito que a aprovação sai", disse Vanusia no último sábado (2), em Franca (SP), onde esteve para o Cup of Excellence, cerimônia que premiou os melhores cafés da safra atual.

 

Brasileira, Vanusia fica baseada em Londres, onde está a sede da OIC, órgão máximo do setor e que é ligado às Nações Unidas. Ela, portanto, tem acompanhado de perto as negociações na Europa para tentar adiar a aplicação da lei.

 

Questionada sobre qual o posicionamento oficial da OIC sobre o assunto, Vanusia adota cautela. Como a própria União Europeia é membro da OIC, o órgão precisa manter certa neutralidade, explica.

 

"Mas a representação da União Europeia junto à OIC é pela Comissão Europeia, que foi quem sugeriu o adiamento. Então nós podemos dizer que nesse momento existe um consenso com os membros da OIC que o mais prudente é que realmente tenhamos esse adiamento", diz.

 

Um dos os pontos em negociação entre os partidos do Parlamento Europeu é por quanto tempo a lei deveria ser adiada, mas há ainda a discussão sobre eventual alteração do conteúdo da lei —alguns setores defendem até a derrubada da norma.

 

"Existem alguns partidos que estão dizendo ‘sim, nós concordamos, aprovamos, mas não queremos que a lei seja revisitada, como eles dizem", afirma. Ou seja, alterar a lei não está descartado, embora o mais provável, por ora, é que haja apenas um adiamento.

 

"Alguns países estão prontos [para se adequar à lei], alguns países estão quase prontos e muitos países estão a caminho de ficarem prontos. Se todos eles vão estar com tudo ajustado, tudo acertado, até o final do ano que vem ou não, esta é uma dúvida. Então, esse é um dos pontos das negociações. Se 12 meses serão suficientes ou não para todos", afirma.

 

Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR, da sigla em inglês) proíbe a importação de produtos provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020 e incide sobre café, soja, óleo de palma, madeira, couro, carne bovina, cacau e borracha. Segundo estimativas do governo brasileiro, a medida poderia afetar cerca de 30% das vendas para o bloco europeu.

 

Pela nova proposta da Comissão Europeia, a norma passa a ser aplicada em 30 de dezembro de 2025 para as grandes empresas e em 30 de junho de 2026 para as micro e pequenas empresas. O Conselho Europeu concordou com a ideia, mas a palavra final cabe ao Parlamento, que deve votar a proposta ainda neste mês.

Inicialmente, a lei começaria a valer em 30 de dezembro deste ano.

 

PREÇOS PODEM CONTINUAR SUBINDO

Questionada sobre a alta dos preços do café, Vanusia explica que uma das razões para isso é que há dúvida sobre o que existe de estoque no mundo. A outra —e mais importante— é o clima.

"O aumento vem acontecendo desde outubro do ano passado. E isso vem muito em função de todos os eventos severos climáticos que tivemos nos grandes países produtores no mundo todo", diz.

 

Para entender se o preço dará um alívio ou não nos próximos meses, uma questão crucial neste momento é o nível de pegamento da florada na safra brasileira.

 

"Isso vai influenciar diretamente qual vai ser a safra brasileira do próximo ano, para a gente ver em que ponto estamos desse processo de ajuste, desse equilíbrio entre oferta e demanda", diz (Folha, 5/11/24)