Europa deve adiar lei antidesmatamento, diz chefe de órgão mundial do café
Vanusia Nogueira, presidente da Organização Internacional do Café. Foto Luis Jaime Acosta – Reuters
Por David Lucena
Tendência é que Parlamento aprove adiamento, segundo presidente de entidade que acompanha o processo.
A presidente da Organização Internacional do Café, Vanusia Nogueira, disse que a tendência é que o Parlamento Europeu aprove a proposta para adiar a aplicação da sua lei antidesmatamento.
"Nesse momento existem alguns partidos querendo negociar um pouquinho as condições para aprovar ou não, mas eu acredito que a aprovação sai", disse Vanusia no último sábado (2), em Franca (SP), onde esteve para o Cup of Excellence, cerimônia que premiou os melhores cafés da safra atual.
Brasileira, Vanusia fica baseada em Londres, onde está a sede da OIC, órgão máximo do setor e que é ligado às Nações Unidas. Ela, portanto, tem acompanhado de perto as negociações na Europa para tentar adiar a aplicação da lei.
Questionada sobre qual o posicionamento oficial da OIC sobre o assunto, Vanusia adota cautela. Como a própria União Europeia é membro da OIC, o órgão precisa manter certa neutralidade, explica.
"Mas a representação da União Europeia junto à OIC é pela Comissão Europeia, que foi quem sugeriu o adiamento. Então nós podemos dizer que nesse momento existe um consenso com os membros da OIC que o mais prudente é que realmente tenhamos esse adiamento", diz.
Um dos os pontos em negociação entre os partidos do Parlamento Europeu é por quanto tempo a lei deveria ser adiada, mas há ainda a discussão sobre eventual alteração do conteúdo da lei —alguns setores defendem até a derrubada da norma.
"Existem alguns partidos que estão dizendo ‘sim, nós concordamos, aprovamos, mas não queremos que a lei seja revisitada, como eles dizem", afirma. Ou seja, alterar a lei não está descartado, embora o mais provável, por ora, é que haja apenas um adiamento.
"Alguns países estão prontos [para se adequar à lei], alguns países estão quase prontos e muitos países estão a caminho de ficarem prontos. Se todos eles vão estar com tudo ajustado, tudo acertado, até o final do ano que vem ou não, esta é uma dúvida. Então, esse é um dos pontos das negociações. Se 12 meses serão suficientes ou não para todos", afirma.
Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento da União Europeia (EUDR, da sigla em inglês) proíbe a importação de produtos provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020 e incide sobre café, soja, óleo de palma, madeira, couro, carne bovina, cacau e borracha. Segundo estimativas do governo brasileiro, a medida poderia afetar cerca de 30% das vendas para o bloco europeu.
Pela nova proposta da Comissão Europeia, a norma passa a ser aplicada em 30 de dezembro de 2025 para as grandes empresas e em 30 de junho de 2026 para as micro e pequenas empresas. O Conselho Europeu concordou com a ideia, mas a palavra final cabe ao Parlamento, que deve votar a proposta ainda neste mês.
Inicialmente, a lei começaria a valer em 30 de dezembro deste ano.
PREÇOS PODEM CONTINUAR SUBINDO
Questionada sobre a alta dos preços do café, Vanusia explica que uma das razões para isso é que há dúvida sobre o que existe de estoque no mundo. A outra —e mais importante— é o clima.
"O aumento vem acontecendo desde outubro do ano passado. E isso vem muito em função de todos os eventos severos climáticos que tivemos nos grandes países produtores no mundo todo", diz.
Para entender se o preço dará um alívio ou não nos próximos meses, uma questão crucial neste momento é o nível de pegamento da florada na safra brasileira.
"Isso vai influenciar diretamente qual vai ser a safra brasileira do próximo ano, para a gente ver em que ponto estamos desse processo de ajuste, desse equilíbrio entre oferta e demanda", diz (Folha, 5/11/24)