Eventos climáticos extremos são desafio para energias renováveis
Pal Strom, vice-presidente de Operações e Manutenção da norueguesa Scatec - Divulgação
Com operações em quatro continentes, Scatec afirma que setor precisará se adaptar para enfrentar chuvas e ventos mais fortes.
Apontadas como solução para a redução das emissões de gases do efeito estufa, as energias renováveis também terão que se adaptar à emergência climática. O alerta é de Pål Strøm, vice-presidente de Operações e Manutenção da norueguesa Scatec, que tem atividades em quatro continentes.
"O que temos visto nos últimos anos é que os eventos climáticos são mais frequentes e mais extremos do que no passado", diz ele. "Isso gera algumas necessidades, tanto no que diz respeito ao projeto e construção de nossas usinas de energia quanto em como as operamos."
As adaptações são um fator adicional de custo dos projetos, que demandarão mais aço ou cimento, por exemplo. No Brasil, a empresa inaugurou recentemente a usina solar Mendubim, no Rio Grande do Norte, já com sistema de drenagem mais robusto para enfrentar inundações.
Strøm afirma que os prêmios de seguro para o setor já refletem o aumento do risco e as adaptações são fundamentais para garantir melhores contratos. "É difícil prever o clima futuro, mas é isso que estamos tentando fazer."
Como as mudanças climáticas têm impactado os negócios ao redor do mundo?
O que temos visto nos últimos anos é que os eventos climáticos são mais frequentes e mais extremos do que no passado. Isso gera algumas necessidades, tanto no que diz respeito ao projeto e construção de nossas usinas de energia quanto em como as operamos.
Os principais riscos aos quais estamos expostos são chuvas intensas e inundações, ventos fortes e tempestades de raios. Na Malásia, por exemplo, construímos uma de nossas usinas solares bastante próxima à costa em uma área muito plana. E experimentamos chuvas sem precedentes devido às recentes monções, com volumes de água que a usina não foi capaz de lidar.
Inicialmente, tivemos que desligar a usina, pois a água estava subindo acima dos módulos solares. A usina foi desconectada e então tivemos inundação de alguns equipamentos. Então a usina, ou parte dela, ficou inoperante por um tempo antes de conseguirmos colocá-la de volta em operação.
Que tipo de medidas podem ser tomadas para evitar danos?
Nesse caso específico, estamos elevando alguns dos equipamentos para garantir que fiquem mais distantes do solo. Se isso acontecer novamente, pelo menos teremos um pouco mais de margem antes que os equipamentos sejam inundados. E estamos ampliando o sistema de drenagem para que possa escoar a água de forma mais eficaz.
Estamos aumentando os esforços e foco em nossos procedimentos internos, para que o pessoal da usina seja treinado e equipado para uma resposta rápida. Também instalamos sensores e equipamentos de alarme ou basicamente sensores que se comunicam com nossa sala de controle, o que pode nos dar um aviso antecipado se um clima extremo estiver se aproximando.
A Scatec tem um orçamento específico para essa questão, para esses impactos das mudanças climáticas?
Não um orçamento específico, mas é um risco que precisamos gerenciar. É parcialmente gerenciado por meio do design. E também afeta os prêmios de seguro, porque uma das principais formas de mitigar o risco de condições climáticas extremas é através de seguros. Os prêmios de seguro devido a condições climáticas extremas na indústria de energias renováveis aumentaram nos últimos anos.
Esse cenário impactará o custo dos projetos no futuro próximo? Será mais caro construir energias renováveis?
No geral, existem diferentes fatores puxando os custos em direções diferentes. Os custos dos componentes que compramos continuam a diminuir. Mas esse efeito das mudanças climáticas isoladamente está aumentando os custos. Precisamos construir nossas plantas com mais aço ou mais cimento, por exemplo. Há um componente de custo aí.
Operação de energia solar da empresa norueguesa Scatec, em Apodi (CE) - Divulgação
A Scatec acabou de iniciar as operações de uma usina de energia solar aqui. Ela foi projetada levando esse risco em consideração?
Quando projetamos Mendubim, levamos em consideração nossa experiência anterior, então esperamos que isso não seja um problema lá. Temos canais de drenagem robustos, o que nos deixa preparados para fortes chuvas.
É difícil prever o clima futuro, mas é isso que estamos tentando fazer. Além de chuvas fortes ou inundações, já experimentamos no Brasil ventos fortes e atividades de raios. Em Apodi [usina solar no Ceará], tivemos experiências com ventos fortes, que podem arrancar painéis ou dobrar as estruturas. Também fizemos algumas reformas e melhorias com base na experiência, para garantir que sejamos resilientes.
Também em Apodi, a comunicação dentro da planta é feita por fios de cobre que passam e se comunicam por toda a planta. E esse fio de cobre era propenso à atividade de raios, que afetavam alguns dos sistemas de comunicação no local. Para Mendubim, mudamos a abordagem e implantamos comunicação sem fio. E isso será a norma daqui para a frente.
E quanto à mão de obra? Esses impactos criarão habilidades diferentes?
Digamos que a principal habilidade que precisamos ao operar uma planta é pessoas que possam operar a planta. Mas há habilidades adicionais necessárias para gerenciar emergências e situações críticas. Não estamos contratando um tipo diferente de pessoas, mas estamos reforçando nossos esforços em treinamento e garantindo que as pessoas sejam treinadas em resposta a emergências e combate a incêndios, em resgate de vida, esse tipo de habilidade.
Outro elemento importante aqui é a associação com outros atores locais. Pode ser a brigada de incêndio local, podem ser hospitais, podem ser especialistas na área que precisamos recorrer se houver um problema específico. Não é apenas o que fazemos sozinhos, mas como juntamos isso com outros parceiros nas regiões para garantir que estamos cobertos.
RAIO-X
Pål Strøm, 48
Engenheiro eletricista formado pela Universidade de Ciência e Tecnologia da Noruega, possui MBA na Escola de Negócios da Noruega. Trabalhou por 15 anos na Starkraft antes de assumir um cargo na Scatec. É vice-presidente de Operações e Manutenção da companhia desde novembro de 2022 (Folha, 20/8/24)