Ex-ministro conquista corações no setor de energia e deve virar referência
Em um descontraído evento do setor elétrico promovido por uma comercializadora de energia em agosto passado, o deputado federal e ex-ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho aproveitou alguns minutos de sua presença no palco para, em tom de brincadeira, pedir doações eleitorais aos presentes.
Apesar de ter gerado risos, a fala parece ter sido levada bem a sério pelo público daquela noite, formado por alguns dos principais executivos da indústria de energia. O parlamentar por Pernambuco conquistou a reeleição meses depois com uma campanha que recebeu doações de quase 40 profissionais do setor elétrico.
Ex-membros do governo, dirigentes de associações que representam investidores, presidentes de elétricas e consultores em energia responderam por praticamente metade da arrecadação da campanha do deputado, que teve os demais custos bancados por seu partido, o Democratas (DEM).
O presidente da comercializadora Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, que organizou o evento no ano passado, doou 100 mil reais para Coelho Filho, uma das maiores contribuições, e disse que também promoveu campanha para que outros empresários fizessem o mesmo como pessoa física.
“Ele chamou para compor seu time pessoas extremamente competentes e conhecedores do nosso mercado”, afirmou Vlavianos.
Alçado ao Ministério de Minas e Energia pelo presidente Michel Temer em 2016, com apenas 32 anos e nenhuma experiência na área, Coelho Filho conquistou elogios de especialistas após chamar para a secretaria-executiva da pasta o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Paulo Pedrosa.
Também foram bem vistas no mercado as nomeações do até então diretor da consultoria PSR, Luiz Barroso, para a chefia da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), e do ex-CPFL Energia Wilson Ferreira Jr. para o comando da estatal Eletrobras.
Pedrosa e Barroso depois doaram 10 mil reais cada para o ex-ministro, enquanto Ferreira contribuiu com 15 mil e o ex-diretor financeiro da Eletrobras, Armando Casado, com 5 mil.
“Eu sempre soube que alguém ia um dia me ligar para perguntar disso. Fiz porque era democrático, está na lei, e acho que ele é um parlamentar que vai dar uma contribuição enorme ao país. Ele montou um time para um projeto de país, de modernização... e ele conquistou a equipe dele, tornou-se um amigo querido”, disse Pedrosa à Reuters.
“O Fernando tem tudo para ser referência. Ele aprendeu muito rápido e demonstra conhecimento do assunto, além de ter uma incrível capacidade de comunicação, o que é fundamental. Ele tem tudo para ser protagonista no debate, não só energético”, afirmou Barroso, que hoje é presidente da PSR.
O presidente do Fórum de Associações do Setor Elétrico, Mario Menel, que contribuiu com 5 mil reais para o político, afirmou que Coelho Filho já tem se movimentado, por exemplo, para pautar no Congresso o quanto antes um projeto de lei visto como importante para resolver uma briga judicial sobre o risco hidrológico na operação de hidrelétricas.
Ele disse que também será importante o envolvimento do parlamentar em discussões sobre um projeto em tramitação que prevê uma reforma regulatória na indústria de eletricidade.
“Os problemas do setor elétrico hoje estão dentro do Congresso Nacional para serem resolvidos. São leis importantes, que podem dar uma nova configuração. Então, conto com isso. Não só eu, todo mundo. Ele sabe que tem uma responsabilidade com o setor porque ele cativou as pessoas”, disse Menel à Reuters.
DIVERSAS ÁREAS
As contribuições para a campanha vieram de representantes de diferentes segmentos da área de energia, incluindo dirigentes de associações que representam investidores em energia eólica (Abeeólica), comercializadores de energia (Abraceel), distribuidoras (Abradee) e geradores (Apine).
Houve ainda ajuda de executivos de comercializadoras, como Esfera Energia, Focus, CMU Energia, Compass e Delta Energia, de geradoras, como a francesa Engie, e da transmissora Cteep.
Uma conselheira da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Solange David, contribuiu com 2 mil reais.
Para muitos, a ideia foi contribuir para um político visto como da “nova geração”, em oposição a antigos “caciques” do setor de energia, alguns dos quais não se reelegeram, como o senador e ex-ministro da área Edison Lobão, do MDB.
“Houve uma renovação, e a ‘velha guarda’ do setor elétrico não está mais lá, então tem que aparecer uma vanguarda”, disse a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.
“Até pela idade e pelo espírito dele, ele acabou sendo uma voz nova e um ouvido novo. Para nós ele fez uma gestão muito boa e existia efetivamente um receio de que a gente perderia esse interlocutor na Câmara caso ele não conseguisse se reeleger”, disse o CEO da Esfera, Braz Justi, que doou 100 mil reais.
PETRÓLEO E BIOENERGIA
As contribuições na pessoa física por empresários à campanha do deputado federal não se restringiram ao setor elétrico, mas envolveram também outras áreas ligadas à atuação da pasta, como petróleo e principalmente bioenergia.
O ex-presidente da Petrobras Pedro Parente ajudou com 25 mil reais. Já o presidente da Raízen, maior produtora global de etanol de cana, Luis Henrique Guimarães, doou 100 mil reais, enquanto, Rubens Ometto, chairman da Cosan/Raízen, contribuiu com 50 mil reais.
Outros executivos de bioenergia também fizeram doações generosas, como Henrique Penna de Siqueira, da Jalles Machado, e Paulo Fernando Cavalcanti de Moraes, do Grupo Japungu, além de Irineu Boff, da Oleoplan, com 80 mil, 60 mil e 50 mil reais.
“A doação foi feita porque acho ele um excelente candidato, sério e com o qual tenho afinidades ideológicas”, disse Parente, em nota.
Guimarães, da Raízen, disse que suas doações “foram feitas sem nenhuma vinculação” à sua atividade profissional ou empresarial. “Conheço o trabalho e proposta de todos e as doações são minha contribuição para a democracia no Brasil”, acrescentou.
Ometto disse que “as doações eleitorais foram realizadas em caráter pessoal e seguem as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e demais normas aplicáveis”.
Os executivos de Jalles Machado, Grupo Japungu e Oleoplan não responderam pedidos de comentário.
O RenovaBio, programa nacional de biocombustíveis, que incentiva a produção de etanol e biodiesel e estabelece metas anuais de redução de emissões de gases causadores do efeito estufa, foi sancionado e teve algumas diretrizes publicadas em período em que Coelho Filho estava à frente do ministério (Reuters, 15/2/19)