07/03/2018

Excesso de açúcar indica safra com alta de etanol e preço menor nas bombas

O diretor industrial da Viralcool, em Pitangueiras (SP), Nadir Nascimento Junior

Gerente industrial diz parte da produção destinada à exportação vai se transformar em etanol para o mercado interno. Especialista explica que valor do biocombustível deve estabilizar até o meio do ano.

   O excesso de açúcar no mercado internacional e a consequente desvalorização do preço do produto indicam que a próxima safra de cana-de-açúcar no Brasil, com início em um mês, deve ser mais alcooleira do que açucareira.

O aumento da produção e da oferta de etanol, por sua vez, deve fazer o biocombustível ficar mais barato nas bombas. Pelo menos essa é a previsão dos especialistas em agronegócio até o fim do primeiro semestre, quando o preço tente a estabilizar.

Especialista em estrutura de mercado e planejamento estratégico, o consultor José Carlos de Lima Júnior explica que a expectativa é que o preço do etanol chegue a, no máximo, 70% do valor cobrado pelo litro da gasolina nos postos de combustível.

“Na verdade, é a primeira vez, desde a nova política de preços da Petrobrás, que vamos ter uma safra em que, naturalmente, com a oferta de álcool, o preço cai para o consumidor. A gente precisa considerar que o preço vai estar, vamos dizer assim, parametrizado com o preço da gasolina”, afirma.

Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) apontam que o volume de etanol hidratado consumido em janeiro chegou a 1,3 bilhão de litros, o maior já registrado para o primeiro mês do ano. Na comparação com o mesmo período de 2017, o crescimento é de 55%.

“O preço do açúcar não deve subir e nem cair para o produtor local. Em contrapartida, a gente vai ter uma grande oferta de álcool no mercado, que pode derrubar o preço cobrado nas bombas”, diz Lima Júnior, projetando alta no consumo.

Gerente industrial de uma usina de açúcar e etanol em Pitangueiras (SP), Nadir Nascimento Junior – Foto - explica que o aumento do estoque de açúcar no mercado internacional é consequência de uma supersafra na Índia, um dos maiores produtores do mundo.

O preço do produto reduziu cerca de 30% no ano passado e continua em queda: a saca com 50 quilos de açúcar custa em média R$ 50, o menor valor em três anos. Por esse motivo, entre 15% e 20% da cana que seria destinada à produção de açúcar vai se transformar em etanol.

“Esse ano deve ser uma safra de etanol para todo mundo, porque há uma sobra muito grande de açúcar e o preço está muito baixo, não está compensando produzir”, diz o gerente. “O preço do etanol tende a se estabilizar ao longo da safra, às vezes cai até um pouco mais”, completa.(G1, 7/3/18)