29/04/2021

Expansão do agronegócio aumenta o preço das terras – Por Celso Ming

Expansão do agronegócio aumenta o preço das terras – Por Celso Ming

A escalada das commodities e o aumento da demanda por alimentos são alguns dos fatores que contribui para a elevação dos preços dos contratos de venda e arredamento das terras agrícolas destinadas ao cultivo de grãos.

O bom desempenho do agronegócio tem pressionado para cima os preços da terra voltada para a atividade agrícola em todo o País. Pelos levantamentos da consultoria IHS Markit, os preços aumentaram, em média, 10,7%. Saíram de R$ 23.603 por hectare no primeiro bimestre de 2020 para R$ 26.141 no mesmo período de 2021. (Veja a tabela.) 

A alta não se restringe aos negócios de compra e venda. Abrange os arrendamentos (aluguéis) de glebas, que avançaram, em média, 72% no período de 12 meses terminado em dezembro. Mas mantém uma peculiaridade: diferentemente do mercado de terras, os contratos de arrendamento vêm sendo indexados às cotações das commodities. (No gráfico, a evolução dos preços da soja e do milho.)

 Mesmo em meio à pandemia e à fraca atividade, o aquecimento da demanda interna e externa por alimentos e o receio de desabastecimento ao redor do mundo, que impulsionou a exportação para a China, contribuíram para o avanço da agropecuária no País, que cresceu 2% em dólares em 2020.

A desvalorização do real (alta do dólar no câmbio interno), de mais de 3% nestes quase quatro meses do ano, também contribuiu para o aumento da renda da agricultura em reais. É mais um fator que joga pelo aumento da procura por glebas. O professor e pesquisador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio VargasFelippe Serigati, entende que não se pode descartar o aumento da inflação nesse movimento: “A terra é reserva de valor. É natural que a demanda por esse ativo se aqueça quando a inflação acelera”.

Mas, como acontece com outros imóveis, a terra é um bem de segurança cujos negócios têm, em geral, baixa liquidez. No Sul e no Sudeste, áreas tradicionais na produção agrícola e dotadas de melhor infraestrutura, os preços são mais altos do que no restante do Brasil. Essa diferença, como aponta a analista de mercado da IHS Markit, Leidyane Brito, contribui para o desenvolvimento das novas fronteiras agrícolas

Pela disponibilidade de terras mais baratas, as Regiões Norte e Nordeste têm se consolidado como boas opções de investimento para o agronegócio. “O Matopiba (região agrícola formada por parte dos Estados do MaranhãoTocantinsPiauí e Bahia) apresenta índices de expansão para cultivo de grãos acima da média e propicia investimentos para o plantio de uma segunda safra, o que reforça o retorno dos produtores”, afirma Leidyane.

Ajudam a região as concessões de ativos de infraestrutura (aeroportos, terminais portuários e ferrovias), o que tende a melhorar a logística e facilitar o escoamento da produção. O setor enfrenta falta de oferta de terras para arrendamento, mesmo nas áreas de fronteira como o Matopiba e a Sealba (área agrícola que engloba parte dos Estados de SergipeAlagoas e Bahia).

Como um dos grandes desafios do País é avançar na produção agrícola e na oferta de terras sem desmatamentos, Renato Rasmussendiretor de inteligência de mercado da consultoria StoneX, entende que facilitar o investimento estrangeiro nesse mercado pode desencadear um movimento de recuperação de áreas subutilizadas, geralmente de pastagens degradadas.

Projeto de lei que facilita a compra, a posse e o arrendamento de propriedades rurais no País por pessoas físicas ou empresas estrangeiras está em tramitação na Câmara dos Deputados. A proposta limita em até 25% a área administrada por estrangeiros por município. Para sociedades formadas por empresas e pessoas de uma mesma nacionalidade, o limite será de 10%. Informações da StoneX, baseadas em dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural, dão conta de que capitais estrangeiros detêm 4 milhões de hectares no País (0,47% do território brasileiro). Como os dados são autodeclaratórios, o número real pode ser maior (Celso Ming - é comentarista – com Pablo Santana; O Estado de S.Paulo, 29/4/21)