Exportação de material genético avícola cresce 33% no semestre
Segmento compensa queda nas vendas de carne; para associação, Brasil é a bola da vez.
Este não é um bom ano para a avicultura, principalmente no que se refere ao mercado externo. O volume exportado de carne e as receitas obtidas no primeiro semestre, em relação a igual período de 2017, tiveram quedas de 17%.
O país, acostumado a evoluções contínuas nas exportações de carne de frango, vê o mercado encolher. Nem tudo está perdido, porém. Há um avanço constante nas exportações de material genético, que soma 33% no primeiro semestre.
De janeiro a junho deste ano, os brasileiros aumentaram em 29% a exportação de pintos de um dia e em 35% a de ovos férteis, em relação ao primeiro semestre de 2017.
O avanço do Brasil nesse segmento da avicultura, até então prioridade de países desenvolvidos, se deve a vários fatores. “A biosseguridade é uma das chaves dessa evolução. A alta segurança no setor acaba sendo um bom marketing para o país.”
A afirmação é de Ailton Locateli, gerente de planejamento e comércio exterior da Aviagen América Latina, empresa que vem obtendo evolução de 25% a 30% ao ano nas exportações de material genético.
Para Ariel Antônio Mendes, diretor de relações institucionais da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), “o Brasil é a bola da vez em material genético”. O país vem se preparando há tempos para a criação de linhas puras.
Além disso, o Brasil tem uma condição diferenciada em relação a vários de seus concorrentes. É o segundo maior produtor de carne de frango e o maior exportador mundial, mas o único, entre os grandes produtores, que nunca foi afetado pela gripe aviária.
Isso permite que as grandes empresas externas façam um backup de suas linhagens no país. Se algo dá errado em seus países de origem, a linhagem está garantida no Brasil.
O país tem hoje aves de elite, que servem de ponto de seleção para chegar ao frango comercial. Esse processo demora de quatro a cinco anos.
As granjas brasileiras estão preparadas para a produção de bisavós, avós, matrizes e produtores comerciais de frango de corte.
Mil fêmeas altamente selecionadas, do tipo pedrigee —após passar por um processo de reprodução de tetravó, bisavó, avó e matriz—, vão resultar na produção final de 1,8 bilhão de frangos de corte.
Assim como há uma busca constante de novas tecnologias pelos consumidores —troca-se de celular para a obtenção de novas aplicabilidades do aparelho—, a genética dos animais se renova constantemente.
Com ela, é possível uma redução anualmente no consumo de ração e ganho de peso nas carcaças de frango. No caso das matrizes, buscam-se maior fertilidade e melhor qualidade dos pintinhos.
Locateli acredita que o Brasil ainda tem muito a crescer nas exportações de genética. Há um reconhecimento do produto brasileiro, e o país está livre da influenza aviária.
A Aviagen exporta para mercados já abastecidos pela matriz e desenvolve projetos para países como Equador e Peru.
Para o país ganhar mais mercado externo, contudo, algumas coisas precisam ser mudadas, principalmente na logística.
A Aviagen coloca material genético para Paraguai, Uruguai e Bolívia por meio de estradas. As longas viagens não são ideais para os pintinhos.
As vendas para a Venezuela, por exemplo, passam primeiro por Miami, devido às dificuldades nas rotas aéreas (Folha de S.Paulo, 17/7/18)