Exportação em alta – Editorial Folha de S.Paulo
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Agropecuária e setor extrativo garantem fluxo de dólares e fôlego à economia.
Em meio às dificuldades da economia brasileira, há fatores positivos. Entre eles está a relativa estabilidade trazida pela boa situação das contas do país com o exterior.
Neste ano o saldo da balança comercial atingirá o maior patamar nominal já registrado. De janeiro a novembro, as exportações superaram as importações em US$ 89,3 bilhões, em alta de impressionantes 56% ante o mesmo período de 2022. Esperam-se ao menos US$ 93 bilhões até dezembro.
O impulso vem do setor agropecuário e da indústria extrativa. A safra recorde de grãos garantiu expansão de 8,2% nas vendas externas do setor, com receita de US$ 76,3 bilhões. A alta de 22,8% no volume embarcado compensou a queda de 9,8% nos preços. A participação nas exportações totais continua a crescer, de 22,8% em todo 2022 para 24,6% neste ano.
As cotações elevadas do minério de ferro mantêm as receitas do setor extrativo, que também conta com saldos crescentes na exportação de petróleo. Nos próximos anos a perspectiva é de contínuo crescimento dessas rubricas.
À diferença do ocorreu nos anos 2000, quando o país viveu um período de bonança graças à disparada dos preços de matérias-primas que decorreu da demanda chinesa, desta vez a expansão dos saldos comerciais se dá principalmente por maiores quantidades.
O lado negativo é a continuidade do mau desempenho das exportações da indústria de transformação, que continuam a cair em volume e também nos preços. Até novembro observa-se redução de 3,6% das receitas, que atingiram US$ 161,5 bilhões.
Na medida mais ampla dos fluxos de entrada e saída relativas a comércio de bens e serviços, a chamada balança de transações correntes, o déficit caiu de US$ 56,7 bilhões (3% do PIB) em 2022 para US$ 34 bilhões (1,6% do PIB) nos 12 meses encerrados em outubro.
Isso significa que o país precisa atrair menos capital estrangeiro para equilibrar as contas.
De fato, há queda de cerca de 23% nos investimentos diretos nos 12 meses até outubro, para US$ 54,5 bilhões (2,7% do PIB). A retração não deixa de ser preocupante e pode decorrer de incertezas a respeito da política econômica. Mesmo assim, os valores ainda são elevados e dentro de patamares históricos.
Na soma geral, há permanência das reservas cambiais em torno de US$ 340 bilhões, nível confortável nas comparações internacionais. Não é por acaso que a cotação do real se mostra estável mesmo diante das fragilidades nacionais.
A contribuição do setor externo propicia certo espaço de manobra ao país, que entretanto não pode ser desperdiçado por imprudência na política econômica. (Folha, 12/12/23)