Exportações de proteína animal subsidiam as gôndolas brasileira

Ricardo Santin Foto Divulgação
Por Ricardo Santin
O elevado nível das exportações permite aos produtores atender, transversalmente, às demandas do mercado nacional.
Pouco se fala sobre isso, mas o brasileiro é o principal cliente da proteína animal produzida em nosso país: 65% da carne de frango, 75% da carne suína e 99,1% dos ovos.
A produção é ditada pela demanda brasileira e das exportações. No ano passado, a oferta interna de carne suína cresceu 1,9%. A de carne de frango, neste ano, será 2,1% maior, superando 10 milhões de toneladas.
Contudo, vez ou outra, surge a ideia da limitação ou até da suspensão das exportações como estratégia contra a inflação. A ideia reside numa visão equivocada, que presume que o custo e a rentabilidade da produção permaneceriam os mesmos e que toda a produção encontraria lugar nas gôndolas do Brasil.
As exportações não afetam a oferta interna. Pelo contrário: o elevado nível das exportações permite aos produtores atender, transversalmente, às demandas do mercado brasileiro.
No consumo de frango, a demanda interna é por cortes como peito, coxa e sobrecoxa, enquanto outros produtos, como pés e miúdos, são procurados pelo mercado internacional. Foto: Nilton Fukuda/Estadão
Vejamos o exemplo da carne de frango: por aqui, há maior demanda por cortes como peito, coxa e sobrecoxa. Outros produtos, como pés e miúdos, são procurados pelo mercado internacional.
Esses produtos embarcados, por serem mais rentáveis, subsidiam a venda interna de carnes, permitindo um preço mais acessível para o mercado brasileiro. Ao mesmo tempo, como toda a produção encontra destinação, diminui-se a necessidade de maior rentabilização por corte para compensar o custo de produção.
Agora, imaginem um cenário sem comércio internacional. Se as exportações brasileiras fossem cotizadas ou suspensas, teríamos de lidar com uma grande quantidade de produtos que não seriam assimilados, como os pés de frango. O efeito seria imediato: aumento de preço, desbalanceamento da distribuição e retração da produção para se ajustar à demanda interna – até 35% menor em aves e 25% menor em suínos.
O Brasil detém um dos mais altos consumos de proteína animal do planeta – são mais de 100 quilos per capita anuais. Isso ocorre porque temos um dos preços mais baixos do mundo. Para ter ideia, enquanto aqui o quilo do frango inteiro custa R$ 12,00 no atacado, em países da África o produto sai por US$ 4,50 (ou R$ 25,00). O quilo de filé de peito custa R$ 22,00 no Brasil, enquanto na Alemanha o preço é de R$ 6,00 (ou R$ 35,00).
Atentar contra o livre comércio não coloca em xeque apenas o equilíbrio produtivo setorial, dezenas de milhares de postos de trabalho e as riquezas geradas pelas exportações. Pode, também, ter um efeito inverso ao pretendido: tornar ainda mais caro produzir e, assim, gerar mais inflação (Ricardo Santin é presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA); Estadão, 23/4/25)