Exportações de soja despencam, mas carne, café e açúcar compensam perda
Soja sendo descarregada em fazenda em Sarandi, no Rio Grande do Sul. Foto Reprodução - Diego Vara - Reuters
Chineses reduzem compras do agro brasileiro; Sudeste Asiático avança.
A balança comercial do agronegócio brasileiro continua em ritmo ainda mais acelerado do que o de 2023, apesar da redução internacional dos preços de algumas commodities.
As exportações de produtos relacionados ao agronegócio somaram US$ 141 bilhões nos dez primeiros meses deste ano, atingindo US$ 168 bilhões no acumulado de 12 meses. Em 2023, as exportações haviam chegado a US$ 166,5 bilhões, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
A participação da China diminui. Líderes na importação de soja, uma das commodities que tiveram retração nos preços, os chineses deixaram US$ 44,9 bilhões nas compras relacionadas ao agronegócio no Brasil neste ano, abaixo dos US$ 51,1 bilhões de janeiro a outubro de 2023.
Os chineses gastaram menos, mas os países do Sudeste Asiático elevaram as compras em 16%, principalmente com a aquisição de carnes, açúcar e algodão.
Indonésia, Vietnã, Tailândia e Filipinas são os destaques nesse bloco de países. Os filipinos assumiram, pela primeira vez, a liderança nas compras de carnes suínas do Brasil neste ano.
A soja registra a grande desaceleração nas receitas. Até outubro, as exportações do complexo da oleaginosa (grãos, farelo e óleo) renderam US$ 50,4 bilhões, US$ 10 bilhões a menos do que em igual período do ano passado.
A perda de receitas com a soja foi compensada pelos ganhos com carnes, açúcar e café. Apenas este último já atinge US$ 9 bilhões neste ano, US$ 3,2 bilhões a mais do que em igual período de 2023.
O Brasil ganha participação mundial nas exportações de café verde, mas perde cada vez mais na de produto torrado e moído, com maior valor agregado.
Os gastos com as importações de café torrado ou moído deste ano somam US$ 71 milhões, acima dos US$ 27 milhões do valor das exportações do mesmo produto.
Alguns setores têm impulsionado a balança comercial mais do que os outros nos anos recentes. As exportações de açúcar atingiram US$ 16 bilhões de janeiro a outubro, 272% a mais do que em iguais meses de há cinco anos. Nesse mesmo período, o complexo soja teve evolução de 76%, e o de carnes, de 64%.
A relação comercial brasileira cresce nos blocos econômicos da América do Norte, do Oriente Médio e da África. Perde força, porém, na União Europeia e na América do Sul.
As exportações de produtos relacionados ao agronegócio para os Estados Unidos subiram 21% neste ano. As vendas são variadas e vão de café e carnes a açúcar, madeira, celulose e etanol. Resta saber se o presidente eleito vai impor taxas também sobre parte desses produtos, principalmente devido a pressões dos setores produtivos internos.
As importações do agronegócio também crescem e atingem US$ 34 bilhões neste ano, 5% a mais do que as de igual período de 2023.
As maiores despesas brasileiras são com a compra de fertilizantes. Mesmo com a queda nos preços médios internacionais, os gastos ficaram em US$ 11,4 bilhões neste ano.
As importações de agrotóxicos se mantiveram estáveis neste ano em valor, em US$ 3,9 bilhões. O volume adquirido, no entanto, subiu para 651 mil toneladas, 44% a mais do que o de 2023.
A compra de cereais, principalmente a de trigo, pesou na conta das importações. A quebra interna de produção já obrigou o país a adquirir 5,7 milhões de toneladas neste ano (Folha, 12/11/24)