Faesp: Meirelles conseguiu votar quitação plena e irretratável da gestão
FOTO CAPA FABIO MEIRELES - DIVULGAÇÃO
FOTO INTERNA -Grupo de dirigentes da Sindicatos Rurais fazem protesto em frente ao prédio da sede da Faesp/Senar em São Paulo
Dentre todos os abusos e absurdos cometidos pelo comendador Fábio Meirelles, que há meio século dirige com mão-de-ferro a Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, talvez um dos maiores, foi sua proposta apresentada na Assembleia Geral Ordinária a Extraordinária realizada no último dia 8 de maio de 2023.
A Assembleia Geral, segundo denúncia publicada pela Folha de S.Paulo em sua edição de 7/5/23 (Vide a matéria abaixo), visava votar a “quitação ampla, plena, rasa, geral e irretratável” da sua administração até hoje, “nada podendo reclamar dos gestores quanto ao passado, natureza ou tempo e a que título for”.
Ou seja, o comendador Fábio Meirelles, astuta e espertamente, buscou garantir uma espécie de “passe-livre” para todos os malfeitos, as irregularidades e desmandos que cometeu ao largo de meio século em que ocupa a presidência da entidade que representa os sindicatos e produtores rurais do Estado de São Paulo.
Não satisfeito em conseguir um atestado de idoneidade que o livraria de prestar contas, não apenas aos dirigentes sindicais paulistas mas ao próprio sistema Judiciário, o comendador lançou como seu sucessor na presidência o filho Tirso, procurando ampliar ainda mais a presença da família Meirelles no comando da entidade.
As eleições na Faesp estão convocadas para o próximo dia 4 de dezembro e um expressivo grupo de dirigentes e produtores rurais do Estado de São Paulo formou uma chapa de oposição que vem enfrentando uma série de contratempos burocráticos impostos pelo atual presidente.
Os problemas e obstáculos impostos pelo comendador Meirelles levaram os oposicionistas a ingressarem com ação e denúncia de “fraude processual” que está em fase de julgamento final na 23ª Vara do Tribunal Regional do Trabalho 2ª Região. A sentença para a ação, que poderá influenciar as eleições do próximo dia 4 de dezembro, será conhecida na próxima 3ª feira (28) (Da Redação, 24/11/23)
Matéria: Presidente da Faesp há 48 anos quer votar quitação plena e irretratável da gestão
Fábio Meirelles, presidente da Faesp, durante evento da Agrishow em 2017 – Foto Alf Ribeiro Reprodução
Fábio Meirelles, 94, está à frente de entidade rural desde 1975
7.mai.2023 às 14h00
Por Guilherme Seto
Presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) desde 1975, Fábio Meirelles, 94, convocou uma assembleia para tentar votar nesta segunda-feira (8) a quitação "ampla, plena, rasa, geral e irretratável" da administração até hoje, "nada podendo reclamar dos gestores quanto ao passado, natureza ou tempo e a que título for".
A votação na assembleia será secreta e, caso não haja o número mínimo de delegados representantes presentes às 9h15, ela será realizada qualquer que seja o número de participantes a partir das 9h30.
Representante de empresários rurais do Estado, a Faesp foi bancada historicamente pela contribuição sindical obrigatória. Com o fim da obrigatoriedade nos últimos anos, os recursos do tipo caíram, mas ainda assim acumularam mais de R$ 3 milhões em 2021. Em 2016, o repasse chegou a R$ 16 milhões.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos rurais.
Opositores de Meirelles na entidade apontam a medida como uma manobra abusiva e sem validade legal em sua tentativa de dar um salvo-conduto a quase meio século de administração. Um dos principais adversários do presidente da Faesp é Paulo Junqueira, produtor rural que é próximo de Jair Bolsonaro (PL) e foi um dos responsáveis por sua participação na Agrishow deste ano.
Em nota, a Faesp afirma que a assembleia foi convocada para votar a prestação de contas de 2022 e que "talvez a objetividade do tema tenha gerado algum questionamento".
Convocação para Assembleia da Faesp publicada no Diário Oficial empresarial em 27 de abril - Reprodução
"Ressaltamos que todas as contas dos anos anteriores já foram aprovadas. Portanto, não existe nada de abusivo quando a única intenção é encaminhar a pauta para otimizar o tempo dos delegados dos sindicatos rurais filiados", completa.
Uma série de reportagens da Folha mostrou indícios de irregularidades da gestão de Meirelles à frente da Faesp, com favorecimento a seus filhos. A entidade contratou, por exemplo, uma empresa da filha do presidente para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não estavam pagando a contribuição sindical espontaneamente. Tirso Meirelles, também filho, é vice-presidente da Faesp e também do Sebrae-SP.