FAESP: Nepotismo escancarado e desavergonhado, segundo a mídia nacional
Comendador Fábio Meirelles e Tirso, seu filho “ungido” para sucedê-lo na presidência da Faesp. Não satisfeito em comandar aquela que deveria ser a mais respeitada federação da agricultura do país, ele a transformou em centro de denúncias e escândalos veiculadas pelos maiores e principais órgãos da mídia nacional, e em em cabide de empregos para a sua família e a seus protegidos.
Quando em 1975 Fábio Meirelles deixou Franca para assumir a presidência da Faesp – Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, poucos imaginaram que ele se apropriaria da marca da bandeira de São Paulo “Non ducor, duco”, que em latim significa “Não sou conduzido, conduzo”, para ocupar o cargo por meio século e deixar como legado incontáveis denúncias de má gestão e distanciamento do ciclo virtuoso pelo qual passa e continuará passando o agronegócio brasileiro.
A tentativa de fazer do filho Tirso seu sucessor na presidência da Faesp, fez surgir em várias regiões do interior paulista um movimento de oposição que começa a tomar corpo. A reação ao movimento foi a prática do que denominam de “fraudes” no processo das eleições marcadas para o próximo dia 4 de dezembro.
Estas são, segundo os organizadores do movimento de oposição na Faesp, apenas as primeiras iniciativas. Outras, todas na esfera judicial, podem envolver denúncias aos Ministérios Públicos do Estado de São Paulo e Federal, que a Faesp representa o Senar no Estado.
Nepotismo escancarado e desavergonhado, segundo a mídia nacional
Denúncia Revista Veja: Dirigente paga até festa com contribuição sindical
Por Hugo Marques
Atualizado em 5 dez 2016, 8h24 - Publicado em 1 dez 2016, 18h19
Federação da Agricultura de São Paulo paga festa do presidente, Fábio de Salles Meirelles. A família dele tem empregos na estrutura da entidade.
Na festa de julho, os 350 convidados se serviram de uísque e champanhe, em uma estrutura montada por um dos buffets mais sofisticados da cidade. Procurada pela reportagem, a Faesp informou que a entidade teria feito apenas a reserva do salão e que depois Fábio Meirelles teria feito o reembolso.
Não é o que mostra a cópia do contrato. Lá está claro que a Faesp é quem pagou o dinheiro. Uma fonte ligada à direção da Faesp informou a VEJA que Fábio Meirelles, assim que foi procurado pela reportagem, pediu ao jurídico para redigir contratos com datas retroativas, para ludibriar a contabilidade.
Ao longo das últimas duas décadas, Fábio Meirelles empregou familiares na estrutura da Faesp e do Senar. Um dos filhos, Fábio Meirelles, é representante da Faesp junto ao Instituto Pensar Agropecuária e ganha para participar de reuniões.
O outro, Tirso Meirelles, tornou-se vice-presidente da Faesp e passou a controlar o Conselho Nacional de Pecuária de Corte. A filha Telma tornou-se sócia da empresa Connect, que faz a cobrança de imposto sindical para a Faesp e usa a estrutura da entidade.
A outra filha, Tânia, trabalha no gabinete da presidência da Faesp e ajuda a cuidar das festas. VEJA tentou falar com Fábio de Salles Meirelles, ao longo das últimas duas semanas, sem sucesso. Nas conversas reservadas com a diretoria, Fábio comentou que não tinha que dar satisfações à imprensa e que resolve qualquer problema pagando muito dinheiro.
NOTA DA FAESP
A Faesp enviou nota informando que firmou contrato para aluguel do Iate Clube, mas garantiu que o pagamento foi feito pelo presidente da entidade Fábio Meirelles. Na mesma nota, a entidade garante que todas as demais despesas de decoração e buffet também foram pagas pelo presidente.
Na nota, a Faesp informa que Tirso Meirelles foi eleito pela segunda vez vice-presidente da entidade. Telma Meirelles, segundo a nota, é sócia da Connect, que presta serviços para sindicatos e entidades federativas, dentre as quais a própria Faesp, “sendo que seu serviço é remunerado apenas em decorrência do êxito nas cobranças”.
Na nota, a Faesp informa que Tânia Meirelles é empresária e sócia de empresa de eventos musicais e que não tem vínculo com a entidade. A Faesp informa ainda que Fábio Filho exerce o cargo de vice-presidente do Instituto Pensar e que trata-se de cargo não remunerado, sem vínculo com a entidade.
Denúncia Folha de S.Paulo: Entidade patronal da agricultura de SP favorece presidente e filhos
O presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), Fábio Meirelles.Foto Charles Sholl -20.fev.2017-Futura Press
REYNALDO TUROLLO JR. DE SÃO PAULO 02.03.2017 02h00
Sob o mesmo comando há quatro décadas, a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) vem sendo utilizada para atender aos interesses dos cinco filhos de seu presidente, Fábio Meirelles, 88, deputado federal pelo então PDS de 1991 a 1995.
Representante de empresários rurais do Estado, a Faesp é bancada principalmente pela contribuição sindical obrigatória. Em 2016, o repasse foi de R$ 16 milhões.
Meirelles comanda ainda o conselho do Senar-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), mantido pelo chamado "sistema S", também sustentado com contribuições compulsórias recolhidas pelas empresas. O Senar-SP recebeu em 2015, segundo o Tribunal de Contas da União, R$ 119,3 milhões.
Procurada pela Folha, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem.
FAMÍLIA
Para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não pagaram a contribuição sindical espontaneamente, a Faesp contratou a empresa Connect, que pertence a uma filha do presidente da federação, Telma Meirelles.
O contrato entre a Faesp e a Connect, obtido pela Folha, mostra que desde 2001 a empresa recebe, para enviar as guias de cobrança, 15% do imposto dos contribuintes.
O percentual é superior ao que a Faesp paga a advogados para receber os atrasados pela via judicial (12,5%).
A Connect foi criada, conforme registro na Receita Federal, três meses antes de ser contratada, em endereço vizinho ao da federação.
Outra filha, Tânia, dona da RLZ Decorações, presta serviços ao condomínio em que fica a sede da Faesp, na região da praça da República, centro de São Paulo.
A Faesp ocupa quase todo o prédio e, por isso, banca a maior parte do condomínio. A federação não informou quanto Tânia ganha nem que serviços presta.
No apartamento dela, a 400 metros da sede da Faesp, uma das copeiras contratadas pela entidade trabalha no período da manhã.
Como verificou a Folha na quarta-feira (22), a funcionária chegou à Faesp antes das 8h. Às 9h27, após bater o ponto e vestir o uniforme, saiu e caminhou até o prédio em que Tânia mora, onde entrou às 9h32, permanecendo pelas horas seguintes.
Além da empresa de decorações, Tânia é dona desde 2013 da S.O.S. Sertanejo, firma que agencia shows do cantor Eduardo Araújo (ex-Jovem Guarda), contratado para eventos da Faesp e de sindicatos rurais.
Contratada pela Faesp, copeira chega ao prédio de filha de presidenteda entidade, na quarta (22). Foto Danilo Verpa - 22.fev.2017
CARGOS E INDICAÇÕES
Há outros sinais de mistura com interesses privados. Meirelles preside a federação desde 1975.
Em maio do ano passado, a Faesp firmou contrato de R$ 20 mil com o Iate Clube para alugar três salões de festa, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, para um "evento corporativo" –como consta do contrato de locação– em 10 de julho. Nessa data, Meirelles celebrou suas bodas de diamante no local.
No Senar-SP, um filho de Meirelles, Tarso, trabalha como supervisor desde 1995, com salário de R$ 17 mil.
Já o CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) é presidido por Tirso, outro filho de Meirelles. O CNPC é independente, mas recebe repasses da Faesp, como um de R$ 500 mil para o período de julho a dezembro de 2016.
Um quinto filho de Meirelles, Fábio Filho, foi indicado em 2016 para representar a Faesp no Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que fornece dados à bancada ruralista no Congresso. Neste ano, ele assumiu o comando do IPA.
Em São Paulo, quem atua pela Faesp junto de deputados da Assembleia Legislativa é um sobrinho de Meirelles, Roberto Meirelles Junior. Pelo contrato, obtido pela Folha, ele ganha R$ 15 mil por mês, além de verbas para deslocamentos e hospedagens.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos.
Neste ano, dois diretores, José João Auad Júnior e Angelo Benko, passaram a questionar a gestão Meirelles. O advogado de Benko, Ricardo Campos, pediu à Justiça que obrigue a gestão Meirelles a abrir os balanços financeiros. Nesta quarta (1º), obteve uma liminar favorável.
OUTRO LADO
Procurada na quinta (23) e na sexta (24), por meio de sua assessoria, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem. Inicialmente, a entidade solicitou mais um dia para enviar as informações. O prazo foi concedido.
Nesta quarta-feira (1º), a assessoria afirmou que não conseguiu contato com a presidência da Faesp, que entrou em recesso até a próxima segunda (6), e que não tinha as informações.