21/10/2024

Faesp/Senar: Escândalos e mal feitos de Fábio Meirelles e seu filho Tirso

Faesp/Senar: Escândalos e mal feitos de Fábio Meirelles e seu filho Tirso

Comendador Fábio de Salles Meirelles e Tirso Meirelles- Foto Reprodução Blog Faesp Senar

Comendador Fábio de Salles Meirelles, há quase meio século na presidência da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo, tem sido acusado de usar recursos da entidade em benefícios pessoais. Seu filho Tirso, tenta suceder o pai no comando da Faesp e teve sua eleição anulada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Produtores rurais paulistas articulam pedido de intervenção e severa auditoria nas contas da entidade pois há suspeitas de desvio de finalidade nos recursos transferidos do Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural.

 

No dia 23 de abril de 2023, a Revista Oeste em sua edição nº 162 (Íntegra publicada abaixo), circulou com extensa reportagem que mostrava alguns dos escândalos envolvendo Fábio de Salles Meirelles e as suas 12 reeleições no comando da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo e sua tentativa de impor, a qualquer custo, seu filho Tirso para sucedê-lo.

 

Parte dos dirigentes dos 230 sindicatos rurais, representando os 350 mil produtores, que formam a maior e principal federação da agricultura e são os responsáveis em manter o Estado de São Paulo no topo do ranking nacional de exportações do agro, tinham a expectativa de que a “capitania hereditária da dinastia Meirelles” estava fadada a encerrar seu ciclo que manchava o sindicalismo patronal nacional.

 

Mas não foi o que aconteceu, pois em dezembro do ano passado, Tirso Meirelles forjou uma eleição eivada em irregularidades, impedindo o registro da chapa de oposição “Nova Faesp”, que acabou sendo anulada pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Um ano e 9 dias da publicação da reportagem da Revista Oeste, houve nova manifestação do TRT-2 que impediu a “auto posse” de Tirso Meirelles no Theatro Municipal de São Paulo. Na sequência, a 10ª Turma dos Desembargadores do TRT-2 manteve, por unanimidade a nulidade da eleição.

 

Através de ações de efeitos suspensivos, Tirso Meirelles se mantém na presidência da Faesp embora sua eleição tenha sido anulada. Sindicalistas de oposição questionam a origem dos recursos para pagamento dos advogados e escritórios de advocacia contratados para impedir novas eleições na Federação da Agricultura do Estado de São Paulo.

 

“Num país onde um ex-presidente (Lula) foi condenado por corrupção em todas as instâncias e acabou voltando ao Palácio do Planalto, onde corruptores e corruptos denunciados na Lava Jato estão sendo inocentados e podem receber de volta os valores dos quais se apossaram indevidamente (Ministro Toffoli), num país onde um ministro do STF é ao mesmo tempo, investigador, acusador e juiz (Ministro Alexandre de Moraes), onde um ex-presidente da República tem seus direitos políticos suspensos por organizar uma reunião com embaixadores (Jair Bolsonaro) tudo é possível e pode acontecer” lamenta conhecido dirigente sindical rural.

Saimon Rosa. Foto Reprodução Blog Faesp Senar

Saimon Rosa, que se apresenta como “Assessor da Presidência”, usa seu tempo como funcionário e recursos da Faesp/Senar, inclusive seu e-mail oficial saimono@faespsenar.com.br,  para “construir” apoios de sindicatos rurais contra integrante da chapa de oposição “Nova Faesp”. Foto Blog Faesp/Senar

  

Ele é um dos dirigentes dos sindicatos de oposição que tiveram suas verbas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Senar reduzidos na proporção de 60% a 80% em termos comparativos com os valores liberados no exercício anterior. “É uma vergonha, e, pior, o presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária e também presidente do Conselho Deliberativo do Senar, João Martins, nada faz e seu silêncio e omissão remetem a uma triste conivência. Logo ele, que nas eleições de 2022 declarou em alto e bom som que não votaria em “ladrão”, referindo-se ao condenado Lula”, afirma o dirigente.

 

“Gastança e Festança”

Foto Blog Faesp - Senar

 

Outra crítica que é feita por dirigentes da oposição, diz respeito aos eventos promovidos pelo grupo “As Semeadoras do Agro”, integrado por Juliana Alcazar Farah, vice-presidente da Comissão Semeadoras do Agro da Faesp.

 

“São convescotes, eventos sociais que reúnem mulheres em “puxadinhos VIP” que mais lembram reuniões para agregar e difundir temas que nada tem a ver com os objetivos e demandas dos produtores e das produtoras rurais paulistas. Afinal, de onde vem os recursos para custear estas reuniões? Seriam do Senar, cujas verbas e recursos deveriam ser investidos na formação de trabalhadores e trabalhadoras?”, revela o dirigente.



Juliana Alcazar Farah-vice-presidente da Comissão Semeadoras do Agro da Faesp-Foto Blog Faesp Senar

Juliana Alcazar Farah, vice-presidente da Comissão Semeadoras do Agro da Faesp. Qual a origem dos recursos e qual o custo de cada uma das reuniões sociais, festivas e irrelevantes promovidas pelas “Semeadoras do Agro?” Foto Blog Faesp Senar

 

 Há poucas semanas, quando o interior paulista ardia em chamas e os produtores somavam seus prejuízos na pior crise climática da história da agricultura do Estado e, ao mesmo tempo, estes produtores eram acusados pelo presidente Lula e pela sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de serem os culpados pelos focos de incêndio, o alegre e festivo grupo das “Semeadoras do Agro”, mantinha sua agenda de convescotes e “palestras” utilizando a estrutura da Faesp e do Senar com o objetivo de autopromoção. “Perderam a noção do necessário e do ridículo”, lamenta o dirigente (Da Redação, 21/10/24)



FAESP: Há meio século, uma capitania hereditária no agronegócio

Matéria transcrita e publicada na edição nº 162 da Revista Oeste de 28 de Abril de 2023

 

 

Como  a  dinastia  Meirelles  se  mantém  no  comando  da  Faesp  há  cinco  décadas —  e  a  campanha  do  presidente  para  transferir  o  cargo  para  o  filho.

 

Os  números  do  agronegócio  paulista  comprovam  a  importância  do  setor  no  cenário  nacional.  O  Estado  tem  mais  de  35O  mil  produtores  rurais,  ao  longo  do  tempo,  ajudaram  a   São  Paulo  a  se  tornar  referência  em  pecuária,  avicultura  e  agricultura,  segundo  a  Secretaria  Estadual  de  Agricultura  e  Abastecimento.  Também  é  o  maior  produtor  mundial  de  laranja  ( 53%  do  total  no  planeta).  De  cada  dez  copos  de  suco  de  laranja  consumidos  no  mundo,  cerca  de  seis  são  de  origem   paulista. 

 

É  o  maior  produtor  de  cana-de-açúcar  (51%  da  cultura  brasileira).

 

Além  de  registrar  índices  expressivos  nas  produções   de  café  e  banana.  Concentra  também  a  fabricação  de  açúcar  (64%)  e  etanol  (48).  O   Valor  Bruto  da  Produção  Agropecuária  (VBP)   fechou  2O22 em  quase  R$  140  bilhões,  o  maior  em  três  anos.  No  ano  passado,  o  agro  estadual  exportou  mais  de  US$ 25  bilhões  e  importou  aproximadamente  US$  5 bilhões.

 

Em  comparação  a  2021,  o  Estado  elevou  em  cerca  de  35%  as  vendas  externas  e  aumentou  em  10%  as  importações.  Os  resultados  consolidar  um  superávit  do  agronegócio  paulista  de  mais  de  US$ 20  bilhões.

 

Diante  de  gigantesca  modernização  da  agricultura,  o  Estado  mais  rico  do  país,  com  tamanha  importância  na  economia  nacional  mantém  algumas  características  do  século  passado.  Entre  elas  está  a  presidência  da  maior  federação  patronal  do  Brasil,  sob  comando  de  Fabio  Meirelles  há  quase  meio   século.

   

 

 Fabio  Meirelles.  Foto:  Divulgação  Faesp/Senar

 

 Aos  95  anos,  Meirelles  preside  a  Federação  da  Agricultura  e  Pecuária  do  Estado  de  São  Paulo  (Faesp)  há   cinco  décadas,  o  que  corresponde  a  12  reeleições  consecutivas  desde  1975.   Antes,  foi  o  primeiro  vice-presidente  da  diretoria  antecessora  desde  1964,  o  que  contabiliza  59  anos  ininterruptos  à  frente  da  Faesp.  Ele  também  acumula  a  gestão  do  Serviço  Nacional  de  Aprendizagem  Rural  (Senar).

 

Investigado  pelo  Ministério  Público  por  suspeitas  de  nepotismo  e  favorecimento   a  familiares,  Meirelles  é  o  mais  longevo  dos  líderes  do  patronato  brasileiro,  praticamente  eternizado  no  poder.  O  feudo  da  família  de  Fabio  Meirelles  pode  ser  comparado  às  capitanias  hereditárias,  sistema  implementado  pela  Coroa  Portuguesa  no  Brasil  em  1534.  As  terras  eram  divididas  e   administradas  por  donatários,  responsáveis  por  desenvolver  e  investir  na  capitania,  embora  o  poder  fosse  centralizado  no  rei.

 

Quase  500  anos  depois,  a  cena  se  repete  na  Faesp.  Os  associados  investem  e  promovem  o desenvolvimento  do  setor  e  da  instituição,  enquanto  o  presidente  e  seus  familiares  usufruem  da  contribuição  do  produtor  rural  para  benefícios  pessoais.  Diferentemente  das  capitanias,  que  tiveram  vida  curta  —  foram  abolidas  16  anos  depois  da  criação —,  o  império  Meirelles  perdura  por  meio  século,  “com  troca  de  pequenos  favores  e  à  base  de  festinhas  regadas  a  chope  e  churrasco”.

 

Tirso  Meirelles . Foto  Divulgação  Faesp/Senar

 

Agora ,  Meirelles  articula  para  deixar  o  comando  da  Faesp  para  o  filho  Tirso,  o  que  manterá  a  Federação  sob  os  braços  da  dinastia  Meirelles.  “Aceito  a  indicação do  meu  pai  para  ser  o   próximo  presidente  da  Faesp”,  disse  Tirso,  durante  um  evento  agrícola  em  Franca,  em  março.

A  federação  paulista  reúne  quase  240  sindicatos  rurais  e  está  presente  em  mais  de  560  dos  645  municípios  do  Estado.  Mantida por  meio  de  contribuição  sindical,  tem  em  caixa,  pelo  menos,  R$ 100  milhões.

 

Oeste    conversou  com  produtores  rurais,  e  eles  são  unânirnes:  querem  renovação,  transparência  e  representatividade  por  quem,  de  fato,  é  do  setor.

 

Eduardo  Ferreira, 55  anos,  agrônomo  e  neto  de   produtor,  trabalha  na  área  desde  os  14  anos.  É  pecuarista,  além  de  cultivar  cana  e  eucalipto.  Para  ele,  o  setor  rural  precisa  de    representante  que  vista  a  camisa  dos  produtores.  “Todos  os  associados  precisam  exigir  dos  presidentes  que  votem  contrário  a  essa  chapa”,  afirma.  “Parece  brincadeira,  dois  anos  para  completar  meio  século  de  gestão  de  urna  só  pessoa.  Precisa  haver  renovação.”

 

Segundo  Luís  Arakaki,  os  sindicatos  de  produtores  rurais  e  a  Faesp  não  são  empresas  familiares,  mas  representações  de  classe.  “Por  esse  motivo,  as  pessoas  não  podem  se  perpetuar  no  poder  e  muito  menos  com  sucessão  familiar  ou  até  mesmo  ramificações  de  prestações  de  serviços  de  empresas  de  filhos  e  parentes  de  diretores.”

 

Para  Antonio  Sodré,  85  anos,  produtor  rural  há  mais  de  50  anos,  filho  e  neto  de  homens  do  agro,  a  Faesp  não  pode  ser  um  feudo.  “Novas  pessoas,  novas  ideias  irão  arejar  a  instituição,   dando  chance  aos  jovens  de  exercerem  suas  respectivas  lideranças.  O  agro,  nos  dias  atuais,  é  outro,  é  uma  potência  e  precisa de  outros  líderes  no  comando  das  suas  instituições  de  classe.”

 

Corrupçăo  dos  Meirelles  ganha  manchetes  de  jornais

 

Em  2017,  uma  reportagem  do  jornal  Folha  de  S.Paulo  mostrou  que  os  filhos  de  Meirelles  eram  beneficiados  por  cargos,  contratos  e  indicações.  Denúncias  revelaram  que  urn  deles,  Fabio  Meirelles  Filho,  era  representante  da  Faesp  no  Instituto   Pensar   Agropecuária   (IPA),   em   2016,   e   ganhava   para   participar   das   reuniões   da   entidade.   Em  2022,   Fabio  Filho   assumiu  a  presidência  da  Aprosoja-MG.

 

O  outro,  Tirso Meirelles,  tornou-se  vice-presidente  da  Faesp,  sendo  reeleito  diversas  vezes,  e  passou  a  controlar  o  Conselho  Nacional  de  Pecuária  de  Corte.  A  filha Telma   Meirelles  se  tornou  sócia  da  empresa  Connect,  que  fazia  a  cobrança  de  imposto  sindical  para  a  Faesp  e  usava  a  estrutura  da  entidade  como  escritório  pessoal.

 

A   outra  filha,  Tânia  Meirelles,  trabalhava  no  gabinete  da  presidência  da  Faesp  e  era  dona  da  S.O.S.  Sertanejo,  empresa  que  agencia  shows  do  cantor  Eduardo  Araújo,  contratado  para  os  eventos  da  Faesp  e  de  sindicatos  rurais .Outra  reportagem  denunciou  que  a  copeira  da  Faesp  trabalhava  no  apartamento  de  uma  das  filhas  de  Meirelles,  a  400  metros  da  sede  da  entidade,  no  centro  de  São  Paulo.

 

Uma  reportagem  da  revista  Veja  revelou  que  Meirelles  foi  acusado  de  pagar  a  celebração  de  suas  bodas  de  diamante  com  dinheiro  dos  associados.  Em 2016,  em  nome  da  Faesp,  o  presidente  alugou  o  salão  do  late  Clube  de  Santos,  na   Avenida Higienópolis,   na  capital  paulista,   para   a  festa,  regada  a  uísque  e  champagne,  para  350  convidados.  À  época,  documentos  obtidos  por  Veja  mostraram q ue  a  Faesp  pagou  R$ 20  mil  pela  locação  do  espaço.

 

Menos  politicagem  e  mais  representatividade

 

O  produtor  de  soja  Azael  Pizzolato  Neto,  33  anos,  defende  a  ideia  de  que  os  cargos  de  liderança  de  uma  entidade  de  classe  devem  ser  ocupados  por  agricultores.

 

“O  produtor  rural  consegue  se  organizar  e  dedicar  um  breve  período  da  sua  vida  em   benefício  da  classe,  mas dificilmente  alguém  que  tern  a  entidade  como  profissão  consegue  ser  produtor  rural”,  enfatiza.  “Ao  meu  ver,  a  liderança  da  entidade  precisa  estar  ligada  umbilicalmente

com  a  atividade  agrícola,  de  tal  forma  a  conhecer  os  anseios,  as  aflições  e as  aflições  e  as  necessidades,  como  a  gente  diz  no  campo:  “Saber  onde  o  calo  aperta”  —  e  não  simplesmente  ser  um  órgão  político r eativo  à  base.  É  necessário  um  órgão  propositivo.”

 

A  afirmação  de  Pizzolato  Neto  está  relacionada  aos  diretores  e  aos  conselheiros  da  Faesp  que  não  são  produtores  rurais.  Ex-delegada,  médico,  contadora  aposentada  e  dono  de  posto  de  combustível  são  alguns  exemplos  de  profissionais  que  ocupam  cargos  na  diretoria  da  federação.

 

  Segundo  relatos  ouvidos  por  Oeste,  vários  membros  da  diretoria  que  não  atuam  no  agronegócio   fraudaram  contratos  de  parceria  com  produtores  rurais  para  “maquiar”  o  estatuto  e,  desta  forma,  poder  participar  das  eleições.

 

 Um  dos  vice-presidentes  da  Faesp  e  presidente  do  Sindicato  Rural  de  Ourinhos,  Eduardo  Bicudo  Ferrado,  disse  não  ter  “lembrança exata”  se  a  propriedade  está  no  nome  dele  ou  dos   filhos,  porque  o  contador  é  quem  cuida  da  burocracia.

 

Siuze  Davanzo,  conselheira  da  federação  e  presidente   do  Sindicato  Rural  de  Uchôa  afirmou  que  tem  urna  pequena  propriedade  e  não  soube  precisar  o  tamanho  da  produção  de  hortaliças.  Ela  está  como  presidente   do  sindicato  há  14 anos  e  há  oito  no  conselho  da  Faesp.  Contou  que  é  mantida  no  cargo  com  estímulo  de  Fabio  Meirelles.  “Recebi   um  telefonema  que  ficaria  no  lugar  do  presidente  do  sindicato,  que  morreu;  levei  um  susto  tremendo”,  lembra.

 

Em  2008,  quando  conheceu  Meirelles,  ganhou  apoio  total  para  permanecer  na  instituição.  “Ele  me  ajudou  demais,  falei  que  queriam  que  eu  renunciasse,  e  Meirelles  disse:  “Não,  de  jeito   nenhum.  Você   vai   ficar   lá   e   vamos   te   ajudar;   você   tem capacidade,  é  mulher  e  mais  sensível.”

 

O  produtor  de  cana  e  soja  na  região  de  Jaboticabal  Roberto  Cestari,  69 anos,  alega  que  a  atual  administração  da  Faesp  sempre  trabalhou  para  perpetuar  seus  dirigentes.  “Não   podemos  alimentar   essa   estratégia.   Somos   a   favor   da   renovação.”

 

Produtores  rurais  fizeram  ’tratoraço’  em  cidades  da   região  de  Jales (SP). Foto. Reprodução  TV/TEM

 

 

 Os  produtores  citam  a  falta  de  representatividade  e  a  omissão  da  federação,  como  no  caso  do  “tratoraço”  —  um  protesto  de  agricultores  em  2021,  decisivo  para  o  então  governador  João  Doria  recuar  do  aumento  do  Imposto  sobre  Circulação  de  Mercadorias  e  Serviços  (ICMS)  para  insumos  agrícolas.

 

 “Ficou  nítida  a  total  falta  de  competência,  de  participação  e  principalmente  de  liderança  da  Faesp”,  afirmou  Gabriel  Afonso  Alves,  68  anos,  produtor  de  café.  “Jamais  vimos  a  presença  do  presidente  ou  sua  fala  em  defesa  da  não  aprovação  do  projeto  de  lei  enviado  pelo  governador  autorizando  o  aumento  do  ICMS.  Só  quando  o  movimento  realmente  tornou  corpo  e  importância  pelos  próprios  produtores  é  que  apareceu  a  Faesp  para  sair  na  foto.”

 

Auditoria

 

Uma  auditoria  independente, contratada  para  analisar  as  contas  da  instituição  em  2018,  apontou  diversas  irregularidades,  entre  elas,  a  verificação  da  falta  de  relatórios  que  demonstrem,  de  forma  sintética,  se  os  valores  repassados  pela  Confederação  da  Agricultura  e  Pecuária  do  Brasil  (CNA)  estão  corretos.  A  auditoria  também  não  localizou  a  documentação  referente  à  apuração  e  à  base  de  cálculo  da  compra  da  Agrishow (a  Faesp  teria  comprado  10%  da  Agrishow,  por  R$  6  milhões,  mas  o  dinheiro  não  aparece).

 

A  propósito  da  Agrishow,  em  artigo  assinado  por  Fabio  Meirelles  e  publicado  no  site  da  Faesp  no  último  dia  25  de  abril,  o  presidente  fala  sobre  a  tecnologia  para  controle  de  qualidade  e  aumento  da  eficiência  nas  lavouras.   Ele  cita  o  Centro  de  Excelência  da  Cana-de-Açúcar,  projeto,  segundo  Meirelles,  viabilizado  em  parceria   com  a  Faesp,  a  CNA  e  o  Senar- SP.  No  texto,  Meirelles  diz  que  o  Centro  está  localizado  na  sede  do  Sindicato  Rural  de  Ribeirão  Preto  e  que  já  desenvolveu  diversos  projetos  para  a  implementação  de  novas  tecnologias  nas  lavouras  de  cana.

 

No  entanto,  o  presidente  do  Sindicato  Rural  de  Ribeirão  Preto, Paulo  Junqueira,  59  anos,  desconhece  tal  Centro  de  Excelência  na  sede  que  administra.  “Estou  na  presidência  desde  2021  e  não  existe  nenhum  Centro  de  Excelência  aqui  no  Sindicato  Rural  de  Ribeirão  Preto.”

 

Processos

 

 Há,  também,  pelo  menos  dois  processos,  por  “suspeita  de  desvio  de  recursos  e  corrupção”,  tramitando  no  Tribunal  de  Justiça  do  Estado  de  São  Paulo  —  a  “Ação  Civil  Pública  por  Ato  de  Improbidade  Administrativa” (Processo 1088797-96.2018.8.26.0100 — código A500363) e a “Ação Anulatória com Pedido de Tutela de Urgência” ( Processo  1054773-03.2022.8.26.0100  —  código  DI9E639).  Ambas  foram  movidas  contra  a  Federação  da  Agricultura  e  Pecuária  do  Estado  de  São  Paulo  e  seu  presidente.

 

Candidato  à  presidência  da  Faesp  foi  condenado

 

Tirso  de  Salles  Meirelles,  filho  de  Fabio  de  Salles  Meirelles,  próximo  candidato  à  presidência  da  Faesp  no  pleito  agendado  para  o  fim  de  2023,  acumula  diversos  cargos.  Contudo,  também   não  atua  no  agronegócio,  conforme  fontes  ouvidas  por  Oeste.

 

Veja  as  ocupações  de  Tirso,  segundo  informações  do  Sebrae : 

 

Vice-presidente (reeleito  várias  vezes)  do  mesmo  sistema

 

Faesp / Senar-SP;

 

Vice-presidentedo  Sebrae-SP;

 

Presidente  do  Conselho  Deliberativo  Estadual  (CDE) , eleito  em  novembro  de  2018  para  um  mandato  de  janeiro  de  2019  a  2022 .  Desde  junho  de  2018 , já  comandava   interinamente  o  Sebrae-SP,  depois  de  Paulo  Skaf  sair  do  cargo  para  disputar  o governo  de  São  Paulo.  Desde  2000,   participa  ativamente  de  suas  atividades,  como  conselheiro,  assessor  da  presidência  e  secretário-executivo  do  CDE,  além  de  ter  sido  presidente  interino  do  colegiado,  de  julho  a outubro  de  2018;

 

  •  Presidente  do  Conselho  Nacional  da  Pecuária  de  Corte  (CNPC);

 

 Conselheiro  da  Companhia  de  Desenvolvimento  Agrícola  de  São  Paulo  (Codasp);

 

  • Conselheiro  do  Conselho  Superior  do  Agronegócio  da  Federação  das  Indústrias  do  Estado  de  São  Paulo  (Fiesp).

 

 

Novo  presidente  do  Sebrae- SP  é  condenado  por  acidente  de  carro  que  matou  uma  família

 

Advogado  afirma  que  Tirso  de  Salles  Meirelles  é  inocente  e  recorre  no  STJ  da  condenação

  

Tirso  Meirelles  foi  condenado,  em  2016,  a  dois anos  e  11  meses  de  prisão,  por  triplo  homicídio  culposo.  O  laudo  da  perícia  revelou  que  o  Ford  Edge  conduzido  por  Tirso  cruzou  a  frente  e  se  chocou  ao  Fiat  Uno  da  família  Silva,  vitimando  no  local  três  de  quatro  de  seus  membros:  Jandemi  Missias  da  Silva,  47  anos;  sua  esposa,  Elizete  Aparecida  Silva,  46  anos;  e  a  filha  deles  Izabella  Missias  da  Silva,  12  anos.  O  acidente  aconteceu  na  Rodovia  Fábio  Talarico,  perto  de  Franca,  em  19  de  junho  de  2010.  Tirso  voltava  de  uma  festa,  e  os  exames  identificaram  vestígio  de  álcool  ou  drogas  em  seu   sangue.

 

A  pena  foi  transformada  em  prestação  pecuniária  de  30  salários  mínimos,  a  ser  revertida  em  favor  de  entidade  a  ser  indicada  pelo  juízo  da  execução  e  na  “punição  restritiva  de  direitos”.  Por   recurso  da  defesa  ao   Superior  Tribunal  de  Justiça,  a   pena  ainda  não  começou  a   ser  cumprida.

 

“Se  Tirso  Meirelles  foi  proibido  de  frequentar  estabelecimentos  de  lazer  noturno,  ele  estaria  em  condições  para  exercer  a  liderança  de  sistemas  de  alta  complexidade  e  de  entidades  de  classe  representativas  do  bilionário  setor do  agronegócio  brasileiro”,  perguntou  um  dos   produtores  entrevistados.

 

Um  em  cada  oito  pratos  de   comida  servidos  no  mundo  tem  contribuição  do  Brasil, segundo  estudo  da  Empresa  Brasileira  de  Pesquisa  Agropecuária   (Embrapa). A  representação  dos  vários  segmentos  do  agronegócio  num  Estado  com  a  importância  econômica  de  São  Paulo  precisa  ter  maior  alternância  do  que  a  observada   na administração  das  Redes  Faesp  e  Senar-SP,  durante  as  últimas  cinco  décadas.  Está  na  hora  de  essa  capitania  hereditária  também  acabar.

 

A  Assessoria  de  Imprensa  da Faesp  não  quis  responder  à  reportagem ( Revista  Oeste,  Edição  nº 162, 28 /4  /23)