Falta visão ao governo Lula – Por Alexander Busch
LULA - Foto Yves Herman Reuters
Falta de visão e de abertura a soluções novas e contemporâneas limita o sucesso do governo Lula, escreve Alexander Busch.
É louvável que o petista esteja revertendo institucionalmente a destruição e os retrocessos promovidos por Bolsonaro. Mas Lula repete políticas de 20 anos atrás. Será que o governo quer continuar assim até o fim de 2026?
O tempo parou no mundo político brasileiro por quase um mês: no Congresso, no Supremo, e até os governadores quase não deram notícia. O motivo dessa calmaria política: o presidente Lula fez uma cirurgia no quadril no fim de setembro e desapareceu por quatro semanas. Agora ele está de volta – e a política despertou de seu sono. Mas não há sinal de otimismo.
No final da semana passada, Lula sugeriu, para espanto do mercado financeiro, que um orçamento equilibrado no próximo ano não era importante. Ele se recusa a cortar gastos do governo. Um orçamento sem déficit seria apenas do interesse dos mercados gananciosos, segundo o presidente.
Ao fazer isso, Lula transmite exatamente o oposto do que o governo prometeu com seu plano orçamentário há seis meses. É uma derrota para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que neste momento tenta garantir mais receitas governamentais com o Congresso.
Agora, com seu criticismo populista contra mercados financeiros perversos, Lula repete fórmulas passadas – que podem até entusiasmar seu próprio partido, mas além dele quase ninguém mais.
Alguém no Brasil ainda acredita realmente que mais dinheiro do governo naquela que é hoje a terceira tentativa da Petrobras de reconstruir sua indústria naval em 50 anos pode fazer avançar a indústria petrolífera e criar novos empregos duradouros?
Ou que programas especiais de combate à seca no Nordeste, que já existem há quase um século, vão trazer melhorias para a população local, e não ficar atolados na burocracia? Ou que novas centrais nucleares vão melhorar o fornecimento de eletricidade no Brasil – enquanto as antigas praticamente não funcionam direito e são extremamente caras?
Mesma fórmula de seu primeiro governo
É louvável que o governo Lula esteja revertendo institucionalmente a destruição e os retrocessos civilizacionais promovidos por seu antecessor. Mas na educação, nas questões sociais e no meio ambiente, ele simplesmente repete as políticas que fez há 20 anos. Daí vem a pergunta: com que visões o governo federal quer governar o país até o fim de 2026?
Onde estão as decisões estratégicas que realmente farão o Brasil e seu povo avançarem?
Onde estão os planos inteligentes para a segurança pública – que é prioridade para muitos brasileiros?
Existe alguma ideia de como melhorar fundamentalmente a primeira infância, ou seja, os primeiros anos de vida antes da escola primária, para as famílias pobres? Semelhante ao que aconteceu com programas sociais daquela época como o Bolsa Família, que foi copiado em todo o mundo.
Como o Brasil poderia exercer um papel inteligente de liderança na redução das emissões de gases de efeito estufa? Por exemplo, por meio de biocombustíveis, eletromobilidade e hidrogênio verde?
Brasil tem posição privilegiada
O Brasil tem uma posição predestinada para encontrar soluções para muitos problemas atuais e, assim, exercer influência global: é um país de proporções continentais com uma grande população. Tem acesso a capital. Possui pesquisa e desenvolvimento próprios. É politicamente significativo o suficiente para ser levado a sério.
Mas infelizmente Lula está respondendo a essas demandas com as receitas antiquadas que costumava usar no início de sua carreira política. Essa falta de visão e de abertura a soluções novas e contemporâneas limita o sucesso do governo do petista.
"O aumento do apoio popular dependerá muito de se ter mais sucesso em políticas que vão além da receita de combater os fracassos governamentais de Bolsonaro", analisa sabiamente o cientista político Fernando Abrucio. "Há um conjunto de temas, mais antigos e mais novos, nos quais o governo ainda não tem soluções adequadas." (Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul. Ele trabalha para o Handelsblatt e o jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil; DW, 1/11/23)