09/04/2025

Famílias do MST ocupam usina investigada por morte de milhares de peixes

Famílias do MST ocupam usina investigada por morte de milhares de peixes

Cerca de 400 famílias ocupam área da Usina São José em Rio das Pedras. Foto Reprodução-MST

 

Ocupação aconteceu na manhã desta segunda-feira (7), na Usina São José, investigada pela morte de peixes no Rio Piracicaba.

 

A Usina São José teve a licença de funcionamento suspensa em 2024, foi multada em R$ 18 milhões por crime ambiental e é investigada após o despejo irregular de resíduos agroindustriais responsáveis por matar toneladas de peixes no Rio Piracicaba

 

Famílias do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra)ocuparam terras pertencentes à Usina São José, localizadas às margens do Rio Piracicaba na manhã desta segunda-feira (7). Segundo a Polícia Militar, cerca de 150 famílias montaram um acampamento e bloquearam a via de acesso à usina com faixas, bandeiras e pedaços de madeira, dando início a uma manifestação no local.

 

A Usina São José teve a licença de funcionamento suspensa em 2024, foi multada em R$ 18 milhões por crime ambiental e é investigada após o despejo irregular de resíduos agroindustriais responsáveis por matar toneladas de peixes no Rio Piracicaba – leia mais abaixo.

 

Versões divergentes

 

De acordo com o MST, a ação integra a Jornada Nacional em Defesa da Reforma Agrária. O movimento afirma que cerca de 400 famílias participaram da ocupação, número superior ao estimado pela PM.

 

Os organizadores alegam ainda que o protesto foi motivado pela recente mortandade de peixes no Rio Piracicaba e pela reivindicação de posse das terras da usina, que, segundo o movimento, estariam improdutivas. Já segundo a PM, “foi constatado que a área invadida estava sendo utilizada para o cultivo de cana-de-açúcar”.

 

“Os “sem terra” em luta em Rio Das Pedras pleiteiam a realização da reforma agrária em áreas onde ocorreram crime ambiental, como as terras do Grupo Farias, para substituir a morte e envenenamento pela produção de alimentos saudáveis e respeito ambiental em assentamentos rurais”, afirmou o MST em nota.

 

Atuação da Polícia Militar na usina

 

A PM informou que foi acionada para o local e tentou negociar com os líderes do movimento, pedindo a liberação da via e a desocupação da propriedade. Após diálogo, os manifestantes desbloquearam a estrada de acesso, mas permaneceram dentro da área da usina.

 

Diante da recusa em deixar completamente o local, a PM realizou a dispersão com uso de munição química. Após a desocupação forçada, os integrantes do MST se deslocaram para a Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba.

 

Usina São José

 

A Usina São José foi multada em R$ 18 milhões após a mortandade de mais de 50 toneladas de peixes no Rio Piracicaba e na APA (Área de Proteção Ambiental) do Tanquã, conhecida como “minipantanal paulista”.

 

O relatório da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), concluído em 19 de julho de 2024, apontou a usina como única responsável pelo desastre ambiental. Segundo o documento, os peixes morreram por falta de oxigênio causada por despejo de águas residuais e mel de cana-de-açúcar no rio.

 

“A Cetesb identificou a relação direta entre o extravasamento de substância poluente (águas residuárias do processo industrial e mel de cana-de-açúcar) pela usina. O incidente resultou na morte de mais de 235 mil espécimes de peixes (em estimativas conservadoras) na região urbana de Piracicaba em 7 de julho e na APA (Área de Proteção Ambiental) Tanquã em 15 de julho”,

diz a nota da companhia.

 

Relembre o caso

 

O Rio Piracicaba e afluentes registraram no ano passado duas grandes mortandades de peixes. A primeira foi em 7 de julho, na altura da Rua do Porto, na zona urbana de Piracicaba. Já outro caso foi registrado no dia 15 de julho, no bairro Tanquã, local conhecido como minipantanal paulista, e que é uma área de proteção ambiental. O caso ganhou grande repercussão nacional e impacta a vida de pelo menos 50 famílias e pescadores que dependem da pesca para sobreviver.

 

“No extravasamento das águas residuárias, no dia 7, foi arrastado para o Ribeirão Tijuco Preto mel de cana-de-açúcar, substância densa, de difícil diluição na água. O mel foi encontrado cristalizado em uma das vistorias na Usina São José”, disse o relatório da Cetesb.

 

Essa carga orgânica foi levada pela água para o Rio Piracicaba, o que fez com que a oxigenação da água fosse reduzida, chegando a zero, e inviabilizando a vida aquática, segundo a Cetesb.

 

O que a usina disse sobre a acusação?

 

A Usina São José afirma que não é responsável pelas mortes dos animais e que as causas do desastre são desconhecidas. Em resposta ao Ministério Público de São Paulo, a empresa admitiu um vazamento de resíduos após rompimento de tubulações, mas alegou que a quantidade extravasada não seria suficiente para provocar o impacto registrado.

 

“Cabe lembrar que as operações da usina estavam interrompidas desde 2020, tendo sido retomadas somente em maio deste ano, e que nos últimos 10 anos houve mais de 15 ocorrências dessa natureza na região”, comunicou.

 

O que diz a usina sobre a ocupação

 

Em nota, a Usina São José lamentou a ocupação desta segunda-feira e afirmou que mantém o compromisso com a responsabilidade socioambiental e o respeito à comunidade.

 

“Desde agosto de 2024, são registrados diversos episódios de poluição. Esses eventos continuam ocorrendo mesmo após a paralisação total das atividades da usina, conforme documentos técnicos e reportagens públicas. A ocorrência dos casos de poluição, sem qualquer participação da Usina São José, reforça a ausência de nexo causal entre suas atividades e a mortandade de peixes no rio Piracicaba” (A Cidade On, 7/4/25)