Fávaro, Agrishow e Bolsonaro: O erro de Lula na relação com o agro
Por Pasquale Augusto
Analista falou acerca da tensão entre o governo e o agro, o trabalho de Fávaro e as manifestações de apoio ao ex-presidente na Agrishow ( Agrishow-Imagem Divulgação Agrishow)
Nesta segunda-feira (1º), ocorreu a abertura da Agrishow, principal feira de tecnologia do agro brasileiro, que iniciou a edição de 2023 cercada de polêmicas.
Na última semana, o Governo Federal recebeu de forma indigesta o “desconvite” dos organizadores da feira ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, após o ex-presidente Jair Bolsonaro confirmar presença no evento, o que, na avaliação de Francisco Maturro, presidente da Agrishow, poderia acarretar em manifestações contrárias ao governo.
A decisão fez com que o Governo Federal ameaçasse retirar o patrocínio do Banco do Brasil (BBAS3) à Agrishow, o que não se confirmou.
O agro no governo Lula
Na análise de Cortez, o terceiro mandato de Lula peca pela falta de coesão entre as pastas ministeriais LULA-Imagem- Flickr- LulaOficial-Ricardo Stuckert-PR
Conversamos com Rafael Cortez, cientista político e sócio da Tendências Consultoria, que falou à cerca da tensão entre o governo Lula e o agronegócio, o trabalho do ministro Carlos Fávaro no ministério da Agricultura e as manifestações de apoio ao ex-presidente que ocorreram na Agrishow.
Na visão de Cortez, a relação entre o governo Lula e o agro deve ser de tensão, em função do histórico recente das pautas defendidas pelo governo, não apenas na área econômica.
“Existe também uma confusão entre os recursos que são expressados ao setor do agronegócio. Dessa forma, eu enxergo um cenário de aproximação no campo econômico, já que há uma maior necessidade por valores, no entanto, há distanciamentos pela questão ideológica, com isso, não será um setor que dará apoio ao capital político do governo, o que se traduz neste cenário de tensão e ambiguidade”, diz
Para Cortez, a viagem à China realizada pelo ministro Carlos Fávaro foi fundamental para reestabelecer pontes diante do potencial do mercado consumidor chinês. No entanto, o setor manifestou apoio a Bolsonaro durante a Agrishow, em meio ao “desconvite” ao ministro.
“Me parece que o grau de autonomia da ministra Tereza Cristina era muito maior do que o ministro Fávaro”, diz (Foto: Mapa)
“Bolsonaro, sabedor da sua influência no agronegócio, retomou suas atividades políticas no Brasil em um evento super importante do setor, ainda mais dado ao contexto de tensão com Fávaro.
Para o especialista, esse cenário de turbulência deve permanecer, ainda mais com este cenário de invasões de terra por parte do MST com possibilidade para uma abertura de CPI, um tema que está bem presente no início do governo Lula 3.
“O conflito político vivido hoje é muito expresso no agronegócio, essa polarização parece ocorrer com maior força em um ambiente associado à indústria e a cadeia produtiva”, explica Cortez.
O que falta ao governo Lula na relação com o agro?
Na análise de Cortez, o terceiro mandato de Lula peca pela falta de coesão entre as pastas ministeriais, e não apenas nas que impactam o agronegócio.
“Podemos ver diversos ministérios com posicionamento distintos. O ministério do Desenvolvimento Agrário deve ter uma relação mais tensa com a Agricultura do que outras pastas, incluindo o Ministério da Fazenda, ator central na definição do valor do Plano Safra e outras agendas”, comenta.
Por fim, o cientista político vê a governança em torno de questões que afetam o agro bastante afetada na transição Bolsonaro-Lula, e enxerga o ministro Carlos Fávaro tentando minimizar ruídos das novas agendas incorporadas pelo novo governo.
“Me parece que o grau de autonomia da ministra Tereza Cristina era muito maior do que o ministro Fávaro. Vemos uma relação internamente muito mais difícil entre o Mapa e outras pastas. Até por conta da composição do governo, existem outras agendas que potencialmente vão gerar alguma tensão, como o fortalecimento do Ministério do Meio Ambiente, o que pode trazer um foco de atrito, além de algumas agendas particulares como a demarcação de terras indígenas”, finaliza (Money Times, 2/5/23)