Feira projeta recorde de vendas impulsionado por dólar e grandes produtores
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Cenário no campo tem se mostrado favorável para o agro, apesar de problemas como a seca no Sul e a recente queda nos preços de commodities.
Impulsionada pela cotação favorável do dólar, pelo momento de forte produção agrícola no país e pela capitalização obtida por grandes produtores rurais, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), que será realizada em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), projeta bater novo recorde de comercialização.
No ano passado, o evento atingiu R$ 11,243 bilhões em vendas de máquinas agrícolas, de irrigação e de armazenagem (R$ 11,77 bi, em valores atualizados pela inflação). Foi a volta após dois anos de interrupção devido à pandemia de Covid-19.
As sobre a edição 2023 recaem especialmente sobre produtores de grãos do Centro-Oeste, que são o grande público-alvo para a venda de maquinário.
A região tem 16 das 20 cidades mais ricas do agronegócio brasileiro, e 10 delas estão em Mato Grosso —inclusive a líder, Sorriso. Isso faz com que os bancos projetem até dobrar o volume de crédito agrícola liberado nos cinco dias de duração da feira agrícola.
O cenário no campo tem se mostrado muito favorável para o agro, apesar de problemas como a seca no Sul ou a recente queda nos preços das commodities.
Nesta quarta-feira (26), a consultoria Datagro publicou estudo que projeta recorde de volume e receita nas exportações do complexo ligado à soja (em grão, farelo e óleo) neste ano.
A consultoria aponta para alta de 16,1% nas exportações em relação a 2022, chegando a 118,1 milhões de toneladas, ante as 101,68 milhões do ano passado. Se confirmado, o número superará o recorde, de 105,03 milhões de toneladas em 2021.
Para a Datagro, apesar do recuo nos preços médios, o volume a ser embarcado deve gerar alta de 9,4% no faturamento, que pode chegar a US$ 66,47 bilhões.
Já a cana-de-açúcar, principal cultura do agronegócio paulista, deverá ter alta de 4,4% na safra 2023/2024, alcançando 637,1 milhões de toneladas, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), graças à melhora na produtividade e à ampliação de área no país.
A produção de açúcar deverá alcançar 38,77 milhões de toneladas, a segunda maior marca da série histórica. A mesma Conab projeta que o país colha 13,8% mais grãos neste ano do que no ciclo anterior.
Também deve contribuir para que as vendas alcancem cifras ainda maiores que no último ano o fato de o valor das máquinas ter subido. Bancos projetam até dobrar o volume financiado na feira, mas preveem que a quantidade de negócios cresça entre 20% e 30%.
No lançamento da Agrishow, Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), disse que o grande agricultor tem comprado e que o mercado está "muito diferente entre o pequeno e o grande".
"A gente imagina que eles vão aumentar área mais uma vez, e para aumentar área precisam comprar máquinas. Como o aumento é maior no Centro-Oeste, que usa grandes máquinas, o mercado continua comprando", disse.
A Abimaq é uma das organizadoras da Agrishow, principal referência em tecnologia agrícola na América Latina, ao lado de Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura do Estado de São Paulo) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).
Desde a retomada dos eventos em 2022, as feiras agropecuárias têm alcançado expressivas movimentações financeiras.
Em março, a Tecnoshow Comigo, em Rio Verde (GO), anunciou faturamento de R$ 11,1 bilhões. A Show Safra, em Lucas do Rio Verde (MT), negociou R$ 9,2 bilhões, enquanto a Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), movimentou R$ 7,043 bilhões.
Como comparação, a Agrishow de 2019, última antes da interrupção devido à crise sanitária, vendeu, em valores atualizados pelo IPCA, R$ 3,7 bilhões.
"O mercado de máquinas agrícolas vem tendo uma performance muito boa nos últimos anos. Mesmo com fatores que interferiram, como a alta taxa de juros e os desajustes com a cadeia de suprimentos, fechamos 2022 com crescimento de 19,4% se comparado com 2021, segundo a Anfavea", disse Eduardo Penha, diretor de marketing e comunicação da Case para a América Latina.
Gerente de marketing da Trimble, Giancarlo Fasolin afirmou que o setor agrícola não vê sinais de desaceleração, apesar das recentes quedas nos preços de algumas culturas.
"Óbvio, os preços [do agronegócio] deram uma tombada por causa justamente do volume que vai vir, mas a agricultura vai continuar pujante", disse.
MAL-ESTAR
Quando a edição 2023 da Agrishow foi apresentada no início do mês em Ribeirão Preto, praticamente não houve críticas às políticas agrícolas do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas houve um atrito com o governo após o presidente do evento, Francisco Matturro, avisar ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura) que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participaria da abertura.
Bolsonaro chegou à edição de 2022 após uma motociata que interditou o trânsito no entorno da fazenda em que a feira acontece e desfilou pelas ruas do evento montado num cavalo.
O Ministério da Agricultura confirmou que Fávaro não estará na abertura do evento. A Agrishow espera, agora, convencê-lo a ir ao menos em outro dia.
A feira terá 800 marcas nacionais e estrangeiras expostas numa área de 530 mil metros quadrados, em que o produtor poderá comparar as máquinas das mais variadas empresas, ver o funcionamento nas demonstrações de campo e financiar no seu banco dentro do próprio evento. São aguardados 190 mil visitantes entre segunda (1º) e sexta (5).
A Agrishow será realizada no km 321 da rodovia Antônio Duarte Nogueira, em Ribeirão Preto, com funcionamento das 9h às 18h (Folha de S.Paulo, 27/4/23)