Fim de TV analógica impulsiona internet no campo
Desligamento de sinal permite desenvolvimento de projeto para ampliar o acesso à internet na zona rural do Brasil.
O desligamento do sinal da TV analógica tem impulsionado o desenvolvimento de um projeto que prevê ampliar o acesso à internet nas áreas rurais do país.
Oito empresas ligadas ao agronegócio ou às telecomunicaçõesdesenvolveram um sistema de conexão de internet 4G em uma faixa de frequência de 700 MHz, justamente a que era usada pela TV analógica.
Ao fazer esse movimento, as companhias envolvidas buscam vender mais —de planos telefônicos a máquinas e implementos agrícolas.
Sem a internet no campo, o maquinário moderno não consegue disponibilizar em tempo real a situação das lavouras, o que retarda decisões.
Apenas na Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) deste ano, entre 27 de abril e 1º de maio, foram gerados R$ 2,9 bilhões em intenções de negócios.
A conectividade agrícola permite que todos os dados gerados pelas máquinas —em alguns casos, mais de 40— sejam transmitidos imediatamente aos gestores do negócio.
Com isso, é possível ganhar eficiência e tempo, reduzir custos e tomar decisões mais qualificadas nas lavouras.
A fabricante de maquinário americana John Deere se mostrou à frente quando lançou, em 2018, um serviço de internet com o fornecedor de telecomunicações Tropico, oferecendo-se para instalar antenas LTE em fazendas para conectar máquinas e veículos.
A diferença agora, afirmam os participantes da iniciativa, intitulada Conectar Agro, é que a rede é aberta, o que significa que qualquer pessoa que trafegar por estradas rurais cobertas pelo sinal da operadora envolvida poderá usar seu smartphone como se estivesse na zona urbana.
Dados da TIM, uma das participantes do projeto, mostram que a cobertura de sinal no campo não chega a 10% do total. A expectativa da operadora é conectar 5 milhões de hectares —o equivalente a 7 milhões de campos de futebol padrão Fifa— neste ano.
Hoje, a operadora atende 700 mil hectares. O Brasil tem cerca de 65 milhões de hectares de cultivos de grãos e oleaginosas. A frequência está disponível em 1.497 localidades.
Além da operadora, o negócio foi desenvolvido em parceria com AGCO, Climate FieldView, CNH Industrial, Jacto, Nokia, Solinftec e Trimble, que uniram forças para desenvolver a plataforma de código aberto que opera a conexão 4G.
“Conseguimos, em cima da frequência liberada pela TV analógica, ter alcance de cobertura em uma antena bastante interessante, de baixa frequência”, diz Rafael Marquez, diretor de marketing do segmento corporativo da TIM Brasil.
“Dependendo da antena, é possível atender uma área muito grande. [O sinal] Chegou a 35 mil hectares com uma única antena”, afirma.
O custo aos produtores rurais irá variar conforme cada propriedade, mas deve ficar em cerca de meia saca de soja (R$ 35) por hectare.
A implementação será gradual, conforme a limpeza da faixa, nome dado ao procedimento adotado para evitar interferências entre canais de TV e o sinal de internet.
A frequência não é exclusiva da TIM. Quando houve o leilão da internet 4G, em 2014, Claro, Vivo e Algar também obtiveram direito de operar a faixa.
A frequência de 700 MHz tem como vantagem, diz Marquez, não ter restrição geográfica em nenhuma região.
“O grande salto é levar ao campo. Densidade populacional sempre foi o que determinou o crescimento de cobertura [de sinal]. Começa a ter novos mercados, principalmente o corporativo”, diz ele.
Marquez considera um contrassenso um dos principais motores da economia do Brasil, cada vez mais tecnológico, estar desconectado.
Christian González, vice-presidente para a América do Sul da Case IH, divisão de máquinas agrícolas da CNH Industrial, afirma que as máquinas modernas, como plantadoras e colheitadeiras, podem ser ajustadas a todo momento durante as operações em busca de maior eficiência.
Esse processo só pode ser realizado quando estão conectadas a uma sala de operações.
Rival da TIM, a Oi fechou um acordo para fornecer internet para uma das fazendas controladas pela produtora e trading Amaggi, levando a conexão para a fazenda Tucunaré, de 87 mil hectares, em Mato Grosso (Folha de S.Paulo, 2/6/19)