Folha de S.Paulo reacende graves denúncias contra Fábio e Tirso Meirelles

O ruralista Paulo Junqueira (de amarelo), ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO) - Reprodução Redes Sociais – Foto Douglas Intrabartolo
Federação do agro protagoniza briga e expulsa empresário próximo a Bolsonaro
A Folha de S.Paulo, o jornal de maior circulação do País, em sua edição deste sábado (7) publica a matéria abaixo e reascende denúncias que têm sido publicadas envolvendo a “Dinastia Meirelles” que há mais de 50 anos ocupa, ininterruptamente, o comando da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo – FaespSenar.
Nesta última 2ª feira (2), a sede da federação localizada no centro de São Paulo (Rua Barão de Itapetininga nº 224), transformou-se numa verdadeira praça de guerra com dezenas de viaturas da Guarda Civil Metropolitana e da Polícia Militar e policiais fortemente armados. Fora do prédio, um grupo de produtores rurais e dirigentes sindicais protestavam contra os abusos que vem sendo cometidos por Tirso Meirelles, presidente sub judice da entidade e que teve sua eleição de dezembro/2023 anulada pelo Tribunal da Justiça do Trabalho da 2ª Região.
O líder sindical rural Paulo Junqueira concede entrevista nesta 2ª feira (9), a partir das 10h, ao jornalista Alexandre Pittoli e à sua equipe de jornalismo com transmissão ao vivo através da Auriverde Brasil (https://auriverdebrasil.com.br/)
Tirso, filho de Fábio de Salles Meirelles, que comandou com “mão de ferro” durante 48 anos e com 12 reeleições sucessivas a Faesp, tenta impor o filho como seu sucessor, convocou uma assembleia geral extraordinária que acabou votando a exclusão do quadro de representantes Paulo Junqueira, presidente do Sindicato e da Associação Rural de Ribeirão Preto e da Assovale – Associação Rural do Vale do Rio Pardo.
Antes disto, por revanchismo explícito, reduziu no exercício de 2024 os repasses aos sindicatos de oposição na ordem de 60% a 80%. Neste exercício de 2025, o percentual saltou para 100%, lembrando que os produtores rurais pagam uma taxa relativa a emissão dos documentos fiscais do que produzem ao Serviço Nacional de Aprendizagem Rural Senar.
Com espírito antidemocrático e de tirania, Tirso Meirelles enviou documento apócrifo ao deputado estadual Lucas Bove (PL/SP) que foi retirado da assembleia da federação na manhã desta última 2ª feira pelo ex-comandante da Rota e seu “Assessor de Segurança” coronel reformado Alberto Sardilli. No documento, ele teve o escárnio de solicitar a “retratação” do parlamentar.
Neste momento, os produtores de cana-de-açúcar e de laranja, das duas principais regiões do Estado de São Paulo e do Brasil – Ribeirão Preto e Araraquara – estão alijados das verbas do Senar e embora condenada pelo Tribunal de Justiça do Estado, a Faesp através do seu presidente sub judice Tirso Meirelles se nega a retomar os repasses devidos (Da Redação, 8/6/25)
Federação do agro protagoniza briga e expulsa empresário próximo a Bolsonaro
Por Júlia Barbon
Líder rural Paulo Junqueira acusa Faesp de 'feudo' e promete criar novo grupo; entidade diz que decisão seguiu rito democrático
A Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), que reúne sindicatos patronais, tem protagonizado um embate que culminou, na última segunda (2), com a expulsão de Paulo Junqueira, empresário que hospedou o ex-presidente Jair Bolsonaro em Orlando (EUA) após as eleições de 2022.
Presidente do sindicato de produtores rurais de Ribeirão Preto, ele acusa a entidade de ser um "feudo", comandado há 50 anos pela mesma família —com o pai, Fábio Meirelles, e, mais recentemente, o filho Tirso Meirelles— e de ter sido impedido de concorrer nas eleições internas há dois anos.
A direção da Faesp, por sua vez, afirma que Junqueira foi expulso por fazer uma série de acusações infundadas contra a instituição e que "todas as suas ações são pautadas pela observância das leis, do seu estatuto social, pela democracia e pela transparência".
A federação abriu um processo administrativo contra ele e, em assembleia geral no centro da capital paulista, decidiu afastá-lo com 145 votos dos 160 presentes —outros cerca de 80 membros não compareceram. A sessão foi precedida por um tumulto envolvendo o deputado estadual bolsonarista Lucas Bove (PL), aliado de Junqueira.
O parlamentar diz que foi impedido de se manifestar: "Eu dei bom dia e comecei a falar. Elogiei a atual gestão e falei que seria totalmente antidemocrático expulsar uma pessoa porque ela é oposição", afirmou ele à coluna, acrescentando que alguns membros começaram a xingá-lo e ele foi retirado.
Do lado de fora, um grupo pequeno de manifestantes protestava em favor de Junqueira, que criticou o "aparato exagerado" de viaturas da GCM (Guarda Civil Metropolitana) presentes no local.
O empresário acusa a Faesp de falta de transparência nas finanças, que incluem verbas do Senar ("sistema S"), e afirma que a expulsão é uma forma de lhe impedir de disputar novas eleições, já que os pleitos passados tiveram chapa única. Ele compara a decisão com o caso de Bolsonaro, "que já está condenado pelo STF" antes de se defender.
"Quero montar uma nova federação da agricultura e pecuária no estado, com estatuto, cláusula pétrea e que não permita nepotismo. Recebi muitas ligações [de produtores rurais insatisfeitos com o comando da Faesp], nunca tive tanto voto", diz Junqueira.
A eleição de 2023 da entidade chegou a ser anulada pela Justiça do Trabalho em primeira e segunda instâncias, mas as decisões foram suspensas mediante recursos até que o caso seja avaliado pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Procurada, a Faesp respondeu que "não há qualquer decisão judicial que deslegitime a atual diretoria" e que a decisão do processo disciplinar que resultou na exclusão de Junqueira "foi tomada pelo Conselho de Representantes, órgão soberano da entidade", aprovada pela grande maioria dos presentes.
Sobre o tumulto, a federação respondeu que o deputado Lucas Bove "infringiu as normas da entidade ao usar o microfone sem autorização e de forma ofensiva", negou postura truculenta contra ele e acrescentou que solicitou formalmente à Alesp (assembleia legislativa) que avalie a conduta do parlamentar.
Uma série de reportagens da Folha de 2017 (Vide abaixo) mostrou indícios de irregularidades da gestão de Meirelles à frente da Faesp, com favorecimento a seus filhos (Coluna Painel; Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Danielle Brant e Carlos Petrocilo; Link https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2025/06/federacao-do-agro-de-sp-protagoniza-briga-e-expulsa-empresario-proximo-a-bolsonaro.shtml?utm_source=jornalportaldoparana.com.br&utm_medium=referral&utm_content=portal_primenews&utm_campaign=hotfixpress; Folha, 7/6/25)
Entidade patronal da agricultura de SP favorece presidente e filhos
Por Reynaldo Turollo Jr.
Sob o mesmo comando há quatro décadas, a Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) vem sendo utilizada para atender aos interesses dos cinco filhos de seu presidente, Fábio Meirelles, 88, deputado federal pelo então PDS de 1991 a 1995.
Representante de empresários rurais do Estado, a Faesp é bancada principalmente pela contribuição sindical obrigatória. Em 2016, o repasse foi de R$ 16 milhões.
Meirelles comanda ainda o conselho do Senar-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), mantido pelo chamado "sistema S", também sustentado com contribuições compulsórias recolhidas pelas empresas. O Senar-SP recebeu em 2015, segundo o Tribunal de Contas da União, R$ 119,3 milhões.
Procurada pela Folha, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem.
FAMÍLIA
Para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não pagaram a contribuição sindical espontaneamente, a Faesp contratou a empresa Connect, que pertence a uma filha do presidente da federação, Telma Meirelles.
O contrato entre a Faesp e a Connect, obtido pela Folha, mostra que desde 2001 a empresa recebe, para enviar as guias de cobrança, 15% do imposto dos contribuintes.
O percentual é superior ao que a Faesp paga a advogados para receber os atrasados pela via judicial (12,5%).
A Connect foi criada, conforme registro na Receita Federal, três meses antes de ser contratada, em endereço vizinho ao da federação.
Outra filha, Tânia, dona da RLZ Decorações, presta serviços ao condomínio em que fica a sede da Faesp, na região da praça da República, centro de São Paulo.
A Faesp ocupa quase todo o prédio e, por isso, banca a maior parte do condomínio. A federação não informou quanto Tânia ganha nem que serviços presta.
No apartamento dela, a 400 metros da sede da Faesp, uma das copeiras contratadas pela entidade trabalha no período da manhã.
Como verificou a Folha na quarta-feira (22), a funcionária chegou à Faesp antes das 8h. Às 9h27, após bater o ponto e vestir o uniforme, saiu e caminhou até o prédio em que Tânia mora, onde entrou às 9h32, permanecendo pelas horas seguintes.
Além da empresa de decorações, Tânia é dona desde 2013 da S.O.S. Sertanejo, firma que agencia shows do cantor Eduardo Araújo (ex-Jovem Guarda), contratado para eventos da Faesp e de sindicatos rurais.
CARGOS E INDICAÇÕES
Há outros sinais de mistura com interesses privados. Meirelles preside a federação desde 1975.
Em maio do ano passado, a Faesp firmou contrato de R$ 20 mil com o Iate Clube para alugar três salões de festa, no bairro de Higienópolis, em São Paulo, para um "evento corporativo" –como consta do contrato de locação– em 10 de julho. Nessa data, Meirelles celebrou suas bodas de diamante no local.
No Senar-SP, um filho de Meirelles, Tarso, trabalha como supervisor desde 1995, com salário de R$ 17 mil.
Já o CNPC (Conselho Nacional da Pecuária de Corte) é presidido por Tirso, outro filho de Meirelles. O CNPC é independente, mas recebe repasses da Faesp, como um de R$ 500 mil para o período de julho a dezembro de 2016.
Um quinto filho de Meirelles, Fábio Filho, foi indicado em 2016 para representar a Faesp no Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que fornece dados à bancada ruralista no Congresso. Neste ano, ele assumiu o comando do IPA.
Em São Paulo, quem atua pela Faesp junto de deputados da Assembleia Legislativa é um sobrinho de Meirelles, Roberto Meirelles Junior. Pelo contrato, obtido pela Folha, ele ganha R$ 15 mil por mês, além de verbas para deslocamentos e hospedagens.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos.
Neste ano, dois diretores, José João Auad Júnior e Angelo Benko, passaram a questionar a gestão Meirelles. O advogado de Benko, Ricardo Campos, pediu à Justiça que obrigue a gestão Meirelles a abrir os balanços financeiros. Nesta quarta (1º), obteve uma liminar favorável.
OUTRO LADO
Procurada na quinta (23) e na sexta (24), por meio de sua assessoria, a Faesp não respondeu às perguntas da reportagem. Inicialmente, a entidade solicitou mais um dia para enviar as informações. O prazo foi concedido.
Nesta quarta-feira (1º), a assessoria afirmou que não conseguiu contato com a presidência da Faesp, que entrou em recesso até a próxima segunda (6), e que não tinha as informações (Folha, 2/3/2017)
Justiça anula eleição de entidade do agro que tem mesmo presidente há 48 anos
O ruralista Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto - Reprodução
Por Guilherme Seto
Ruralista Paulo Junqueira, próximo de Bolsonaro, tenta desbancar clã Meirelles do comando da Faesp.
O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região anulou nesta terça-feira (28) a eleição da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), comandada desde 1975 por Fábio Meirelles, 95, e que seria assumida pelo seu filho, Tirso Meirelles, que encabeçava a chapa única da disputa.
O concorrente de Tirso, Paulo Junqueira, ruralista ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acionou a Justiça após ter tido sua chapa com mais de 50 produtores rurais barrada pela atual gestão, que argumentou que a documentação entregue estava incompleta e foi complementada fora do prazo.
Em sua ação, Junqueira argumentou que o estatuto social prevê que a Faesp mantenha expediente normal de 8 horas nos dias que antecedem o pleito, nos cinco dias de registro de chapa. Como isso não aconteceu, a eleição atual deveria ser anulada, com a reabertura de um novo processo. O argumento foi acatado pela juíza substituta Marcia Sayori Ishirugi, que concedeu tutela de urgência.
A eleição agora poderá contar com dois concorrentes, abrindo espaço para que Tirso tenha um adversário e não seja automaticamente escolhido como novo presidente na condição de cabeça de uma chapa única.
"A Faesp é uma entidade de classe muito importante para o agronegócio e entendo que a transparência no processo eleitoral é fundamental. Sou favorável à renovação do quadro diretivo da Faesp, acho que a alternância é necessária em qualquer processo democrático, mas nesse caso a questão em discussão é outra, é a lisura das eleições", afirma o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP), representante do setor na Assembleia Legislativa de São Paulo.
A magistrada determinou também a publicação de novo edital de convocação das eleições no prazo de 10 dias, a disponibilização de pessoa habilitada para prestar informações sobre a disputa durante todo o prazo para registro de chapas (cinco dias) e a realização de nova eleição até 3 de janeiro.
A Faesp é a entidade patronal da agricultura paulista, com 235 sindicatos rurais patronais filiados e 340 extensões de base que abrangem os 645 municípios paulistas. Além disso, embora minoritária, é uma das associações donas da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação), principal feira do agronegócio brasileiro, realizada em Ribeirão e que gerou R$ 13,29 bilhões em intenções de negócios neste ano.
Tirso Meirelles, vice-presidente da Faesp - Karime Xavier-7.jan.2019 Folhapress
Uma série de reportagens da Folha de 2017 mostrou indícios de irregularidades da gestão de Meirelles à frente da Faesp, com favorecimento a seus filhos.
A entidade contratou, por exemplo, uma empresa da filha do presidente para fazer a cobrança administrativa de empresários e proprietários rurais que não estavam pagando a contribuição sindical espontaneamente (Folha, 28/22/23)
Justiça suspende posse do presidente da entidade patronal da agricultura de SP
Por Guilherme Seto
Evento está marcado para domingo (14), no Theatro Municipal; eleição de Tirso Meirelles é questionada por opositor.
O Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região determinou a suspensão da posse formal de Tirso Meirelles como presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo), marcada para domingo (14), com cerimônia no Theatro Municipal de São Paulo.
A desembargadora Ana Maria Moraes Barbosa Macedo concedeu liminar pedida pelo produtor rural Paulo Junqueira, presidente do Sindicato Rural de Ribeirão Preto, opositor de Meirelles que contesta a eleição do rival realizada em outubro do ano passado.
Tirso é filho de Fábio Meirelles, 95, que deixou o cargo de presidente da Faesp em 2023, após 48 anos à frente da instituição.
Tirso Meirelles, presidente da Faesp (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo) - Karime Xavier-7.jan.2019 Folhapress
Como mostrou o Painel, Junqueira acionou a Justiça em novembro do ano passado após ter tido sua chapa com mais de 50 produtores rurais barrada pela gestão Fabio Meirelles, que argumentou que a documentação entregue estava incompleta e foi complementada fora do prazo.
Inicialmente, a Justiça acolheu o pedido de Junqueira e anulou o pleito, decisão que posteriormente foi revertida.
A magistrada decidiu, na quinta-feira (11), que como a eleição que levou Tirso ao comando da Faesp segue sob contestação judicial, os efeitos da posse agendada para domingo (14) estão suspensos.
Junqueira afirma, na peça, que a cerimônia marcada no Theatro Municipal custará R$ 100 mil em recursos públicos.
A Faesp tem sido bancada historicamente pela contribuição sindical obrigatória. Com o fim da obrigatoriedade nos últimos anos, os recursos do tipo caíram, mas ainda assim acumularam mais de R$ 3 milhões em 2021. Em 2016, o repasse chegou a R$ 16 milhões.
A Faesp representa empresários rurais, médios e grandes proprietários paulistas, reunindo 237 sindicatos rurais (Folha, 12/4/24)