Fornecedores do Brasil, EUA e Argentina têm menos trigo para exportar
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Países foram afetados por sérias adversidades climáticas durante a evolução das lavouras.
A principal fornecedora de trigo para o Brasil, a Argentina, terá bem menos cereal para exportar nesta safra 2022/23 do que teve na anterior.
Os Estados Unidos, que ocupam a segunda posição entre os maiores fornecedores deste ano para o Brasil, também têm previsão de uma menor oferta do cereal para colocar no mercado externo.
Dois importantes produtores de trigo, ambos foram afetados por sérias adversidades climáticas durante a evolução das lavouras.
A preocupação maior é com a Argentina, responsável por 87% do trigo importado pelo Brasil no ano passado. Neste ano, os argentinos já colocaram 4 milhões de toneladas no mercado brasileiro, 82% de todo o cereal que o Brasil importou até outubro.
Para a safra 2022/23, a Bolsa de Comércio de Rosário estima uma safra de apenas 11,8 milhões de toneladas na Argentina, bem abaixo dos 23 milhões do período anterior.
Com um volume tão baixo, os argentinos teriam apenas 7 milhões de toneladas para exportar. Na safra anterior, exportaram 14,5 milhões.
Ruim não só para o Brasil, que tem uma dependência forte do trigo argentino, mas também para produtores e para o governo do país vizinho.
A produtividade do trigo, devido à seca, é uma das mais baixas em 15 anos, e as receitas com as exportações vão recuar bastante.
Pelos preços atuais de exportação, se confirmados os 7 milhões de toneladas, as receitas recuariam para US$ 2,4 bilhões, 44% a menos do que as estimativas de julho. Menos dólares tanto para os produtores como para o governo, que depende das exportações agrícolas para melhorar suas contas.
Segundo a Bolsa de Rosário, neste ano os argentinos acumulam a maior perda de área semeada e não colhida com trigo nas últimas quatro décadas. Inflação elevada e contratos de exportação já negociados farão o consumo interno do país recuar para próximo de 6 milhões de toneladas.
Os Estados Unidos, que tinham previsão de exportar 23 milhões de toneladas, vão colocar 21 milhões no mercado externo, o menor volume em 50 anos.
Neste ano, 8% do trigo importado pelo Brasil veio dos EUA. Já são 315 mil toneladas, bem acima das 90 mil de janeiro a dezembro de 2021.
Uruguai e Paraguai também aumentam a disponibilidade do cereal para o Brasil. Até outubro, os dois colocaram 522 mil toneladas no mercado brasileiro, 13% das compras do país.
A queda na oferta de trigo na Argentina ocorre em um ano em que o Brasil tem uma safra recorde de 9,5 milhões de toneladas. O país, no entanto, também fez uma exportação recorde de 2,48 milhões de toneladas neste ano.
A Índia, a segunda maior produtora mundial, também foi afetada pelo clima e terá redução na produção do cereal. Os indianos têm safra de 103 milhões de toneladas, abaixo da líder mundial, a China, que produz 138 milhões.
O governo indiano restringiu as exportações do país em maio e, mesmo assim, os estoques atuais recuaram para 21 milhões de toneladas, a metade do volume de há um ano, segundo a Reuters.
Mesmo com quebra de safra em produtores importantes, a produção mundial de trigo sobe para o recorde de 783 milhões de toneladas. Inferior, no entanto, ao consumo de 791 milhões, de acordo com o Usda (Departamento de Agricultura dos EUA).
O Usda, no entanto, ainda não considera uma quebra tão acentuada na produção da Argentina, como prevê a Bolsa de Rosário.
Os estoques mundiais caem para 268 milhões de toneladas, o menor volume dos últimos seis anos, não dando muita margem para reduções de preços. Os estoques finais dos norte-americanos serão os menores em 15 anos.
O Brasil, após a safra recorde neste ano, deverá colher 8,4 milhões de toneladas em 2023, conforme dados preliminares do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
As importações, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), sobem para 6,1 milhões de toneladas em 2022, volume superior aos de 2020 e de 2021.
O estoque final brasileiro fica em 1,33 milhão de toneladas, acima do da safra anterior, mas ainda abaixo da média do período de 2016 a 2020, que foi de 2,5 milhões de toneladas, conforme acompanhamento da Conab (Folha de S.Paulo, 15/11/22)