04/02/2025

Fraqueza de Haddad se deve à política econômica de Lula – Editorial Folha

Fraqueza de Haddad se deve à política econômica de Lula – Editorial Folha

Presidente é o real titular da Fazenda; a despeito de declarações sensatas, ministro não pode se contrapor à gastança.

 

Podem-se apenas formular hipóteses sobre os motivos que levaram o presidente do PSDGilberto Kassab, a fazer crítica pública ao ministro Fernando Haddadchamado de fraco por não ter o comando da política econômica. Tal exercício especulativo será dificultado pela maleabilidade do líder partidário, dado a jogar ao centro, à esquerda e à direita.

 

Na essência, porém, a declaração suscita questões pertinentes quanto ao papel de titulares da Fazenda em geral —não raro os ministros de Estado de maior visibilidade no noticiário nacional— e do atual em particular.

 

Dos ocupantes do cargo espera-se, idealmente, que sejam capazes de expor com autoridade as diretrizes e os próximos passos da gestão da economia; de transmitir segurança quanto ao cumprimento de compromissos; de falar com o respaldo do presidente da República sobre sua área.

 

Haddad realmente não faz das melhores figuras nesses quesitos —e isso independe de não ser um especialista, pois entre os ministros mais fortes das últimas décadas estão o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que foi uma espécie de premiê do Plano Real, e o médico Antonio Palocci (ex-PT), que contrariava com desenvoltura as teses do partido que ajudou a fundar.

 

Haddad, embora tenha conquistado respeito fora do governo por afirmações responsáveis, com frequência é obrigado a ressalvar que ainda aguarda o sinal verde de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para levar a cabo esta ou aquela medida. Não poucas vezes, aliás, o chefe desautorizou abertamente os planos do auxiliar.

 

Existem peculiaridades no caso de Haddad. Trata-se de um quadro importante do partido, que chegou ao ponto de substituir Lula na disputa presidencial de 2018. Ao mesmo tempo, precisa conviver com as contestações de correligionários que incluem ninguém menos que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, ora cotada para uma vaga na Esplanada.

 

Durante entrevista coletiva, o mandatário respondeu às farpas de Kassab com longos elogios ao ministro, que pareceram mais protocolares. Na mesma ocasião, disse que, se depender só dele, não haverá novas medidas para conter o déficit do Orçamento.

 

O trecho no condicional não deixa de abrir alguma possibilidade de influência da Fazenda.

 

Desde o início deste governo, os comportamentos de Haddad e Lula se repetem. O primeiro, ainda que diplomaticamente, mostra ter consciência da péssima situação das contas públicas e acena com ajustes mais ambiciosos, enquanto o segundo desdenha sem meias palavras da austeridade fiscal e, quando muito, permite algum remendo aqui e ali.

 

Esse vaivém talvez tenha lá seu sentido para as maquinações palacianas e eleitorais do presidente. Para a política econômica, como se mostra óbvio a esta altura, o resultado é perda contínua de credibilidade que leva de roldão o ministro, a solvência do governo e a estabilidade do país (Folha, 4/2/25)