24/06/2024

Fraude na história e tiro no pé com Petrobras – Editorial Folha de S.Paulo

Fraude na história e tiro no pé com Petrobras – Editorial Folha de S.Paulo

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursa durante a posse de Magda Chambriard na presidência da Petrobras - Claudia Martini Xinhua

 

Lula tenta reescrever história de corrupção nas gestões do PT; ímpeto intervencionista se volta contra o próprio governo.

Luiz Inácio Lula da Silva (PT) insiste em tentar reescrever a história para apagar os malfeitos de administrações petistas anteriores. A esta altura de seu governo está claro que nem ele nem o PT se preocuparam em refletir sobre os fracassos passados ou em considerar as necessidades atuais do país.

A semana que passou foi pródiga em evidências de sua conduta sectária. Na cerimônia de posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, escolhida para novamente tornar a companhia caudatária de projetos caros ao partido, Lula se pôs a atacar gestões anteriores —que resgataram a estatal de uma crise sem precedentes.

Entre 2016 e 2022, não houve conluio de elites para desmontar a empresa. O que houve foi uma paciente reconstrução financeira após anos de desvios e incompetência administrativa, que legaram os maiores prejuízos da história, durante os mandatos petistas.

No período, a gigante petroleira voltou a obter lucros elevados que propiciaram polpudos dividendos para seus acionistas, em especial o Tesouro Nacional, ou, vale dizer, para toda a sociedade.

"O que queriam eles mesmo era entregar esse extraordinário patrimônio nas mãos de petrolíferas estrangeiras", discursou o mandatário, em retórica populista desabrida, sobre as investigações da Operação Lava Jato na empresa —que, por sinal, também o atingiram.

Em uma mesma tacada, Lula procura tanto desqualificar as revelações de corrupção nas administrações petistas quanto culpar terceiros pelo desastre econômico da correligionária Dilma Rousseff. São fatos incontestáveis, não alterados pelos erros da Lava Jato que levaram à anulação das condenações do líder petista.

Por fim, a surrada demonização das privatizações é uma busca por inimigos imaginários, dado que nenhum governo propôs a venda da Petrobras. No entender desta Folha, esse tabu político é um erro que prejudica a produtividade da empresa e da economia, para nem falar de desvios criminosos.

Felizmente, a Lei das Estatais, de 2016, trouxe melhorias de governança também incorporadas ao estatuto da petroleira. Foram esses aperfeiçoamentos que impediram Lula e seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), de mandar nos preços da gasolina e dos demais derivados do petróleo como gostariam.

Espera-se que o ímpeto intervencionista conheça nova frustração sob o novo comando da Petrobras. Se Lula for bem-sucedido, não terá ninguém mais a quem culpar por consequências ruinosas —mas isso nunca o constrangeu (Folha, 22/6/24)