24/01/2018

Frigoríficos se recuperam e voltam a gerar empregos

Frigoríficos se recuperam e voltam a gerar empregos

Após as turbulências de 2015 e 2016, período no qual a restrição de boi gordo e a recessão da economia provocaram o fechamento de mais de 50 frigoríficos e a demissão de 7,9 mil pessoas, a indústria de carne bovina parece ter entrado em nova fase, embalada pela inversão do ciclo da pecuária e pela retomada da economia.

Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Valor, o saldo de empregos nos abatedouros de bovinos do país ficou positivo em 8,7 mil vagas entre janeiro e novembro – o dado de dezembro ainda não foi divulgado. Trata-se do melhor desempenho desde 2012, quando os frigoríficos geraram 10,2 mil vagas. Dono do maior rebanho do Brasil, Mato Grosso lidera o movimento, seguido por Rondônia, Mato Grosso do Sul, Goiás e Pará (ver infográfico).

 

As vagas criadas no último ano representam um crescimento de 7,5% ante com o estoque de 113,1 mil empregados em abatedouros de bovinos em dezembro de 2016, de acordo com os dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho.

A tendência é que o saldo de empregos do setor cresça ainda mais, incluindo unidades que serão reabertas neste ano pelo Frigol em Juruena, pela Marfrig em Pontes e Lacerda e pelo Frigoestrela em Rondonópolis, ambos em Mato Grosso. Aos dados também devem ser acrescidos o frigorífico do Rodopa em Cachoeira Alta (GO), que foi arrendado pelo Frigol e voltou a funcionar em dezembro, gerando 380 vagas, segundo o presidente da empresa paulista, Luciano Pascon.

Além da conjuntura econômica favorável e da maior oferta de bois, o ressurgimento de frigoríficos reflete o rearranjo provocado pela delação premiada dos irmãos Batista, donos da JBS. Ao longo do último ano, a empresa entregou três frigoríficos em Mato Grosso que estavam alugados e fechados há alguns anos. Entre as plantas estavam as de Juruena e Pontes e Lacerda – que agora serão reabertas.

“Com essa saída da JBS, você traz um novo cenário a essas regiões”, avalia o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), vinculado à Escola de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), Thiago Bernardino de Carvalho. Para ele, a concentração do setor restringia as alternativas aos pecuaristas do país.

No Mato Grosso, a JBS chegou a ter mais de 50% da capacidade de abate – incluindo unidades abertas e fechadas -, conforme o relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Frigoríficos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, concluído em 2017.

Conforme o pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso (UMFT), Ernani Pinto de Souza, a maior concorrência no setor é positiva, mas exige competência dos novos entrantes. “A JBS está tentando retomar a credibilidade”, diz (Assessoria de Comunicação, 23/1/18)

Perspectiva é favorável também para pecuarista

Os pecuaristas não tiveram motivos para comemorar no ano passado. Além de sofrerem com os impactos da Operação Carne Fraca e da delação premiada dos Batista, que restringiram os abates da JBS, a maior oferta também pressionou as cotações do boi gordo.

Nesse cenário, o preço médio do boi gordo no Estado de São Paulo – referência para os preços no país – recuou 9,3% em termos nominais em 2017, para R$ 138,80 por arroba. “Foi uma das maiores quedas desde o Plano Real”, observa o coordenador de pecuária da Agroconsult, Maurício Nogueira.

Para 2018, porém, a tendência é de recuperação também porque é muito difícil repetir um ano tão catastrófico como foi o último, afirma o sócio- diretor da Radar Investimentos, Leandro Bovo. De acordo com ele, a ampliação da capacidade de abates proporcionada pelas aberturas de frigoríficos favorece os pecuaristas.

Em Ji-Paraná (RO), os preços do boi já reagiram ao aumento da demanda, diz o prefeito Jesualdo Pires (PSB). Segundo ele, a arroba do animal pronto para o abate saiu de R$ 120 para R$ 134 desde que a Marfrig reabriu uma planta na cidade.

De acordo o especialista, mesmo que a JBS tenha reduzido o ritmo de abates, o apetite dos concorrentes mais do que compensa o encolhimento da líder do setor.

Além disso, a JBS garante que retomou os abates aos níveis anteriores à Operação Carne Fraca.

Para Nogueira, da Agroconsult, a maior demanda deve fazer com que o preço do boi gordo suba 3% neste ano, mas os produtores não estão livres de problema. O pagamento dos débitos do Funrural representam risco, afirma ele (Assessoria de Comunicação, 23/1/18)