Frigoríficos usarão unidades no exterior para atender China
Legenda: Um funcionário corta charros de carne bovina em um frigorífico da Marfrig em Promissão, interior de São Paulo - Paulo Whitaker - 7.out.11/Reuters
Minerva e Marfrig possuem plantas no Uruguai e na Argentina aptas para vender ao país asiático.
Frigoríficos afirmam que as suas vendas não serão abaladas pelos dois casos atípicos da doença da vaca louca confirmados no Brasil na semana passada, um em Nova Canaã do Norte (MT) e outro em Belo Horizonte (MG).
As exportações de carne bovina do Brasil para a China foram suspensas no sábado (4) após a confirmação dos registros pelo Ministério da Agricultura. O país asiático é o maior importador do produto brasileiro. A suspensão atende a protocolo sanitário firmado entre os dois países e dura até que as autoridades chinesas concluam a avaliação das informações repassadas.
Tanto a Minerva quanto a Marfrig informaram que outros frigoríficos que possuem na América do Sul, localizados na Argentina e no Uruguai, aptos a atender a demanda chinesa.
A Minerva, líder na América do Sul em exportação de carne bovina, informou nesta segunda-feira (6) que a subsidiária Athena Foods –que tem três unidades no Uruguai e uma na Argentina– seguirá com as vendas para a China, "sem comprometer" sua participação do mercado.
"A Minerva acredita que, tal qual em períodos anteriores, a suspensão das exportações brasileiras é temporária e deverá ser retomada em um curto espaço de tempo", afirmou.
Já a Marfrig afirmou que possui, na América do Sul, treze plantas habilitadas para China. Além de sete no Brasil, tem quatro no Uruguai e duas na Argentina.
No acumulado dos primeiros seis meses do ano, as exportações brasileiras da Marfrig para o mercado chinês representaram 5,6% da receita líquida consolidada.
"A Marfrig acredita que a situação está dentro dos parâmetros regulares envolvendo questões sanitárias e espera que as exportações sejam retomadas em breve", comentou.
O frigorífico ainda defendeu que, por serem casos atípicos, a OIE (Organização Internacional de Epizootias) deveria manter inalterado o status do Brasil, de risco insignificante para a doença, "encerrando o episódio".
"O tratamento que vem sendo dado ao caso comprova a eficiência e a transparência dos mecanismos brasileiros de rastreabilidade e de controle sanitário", disse a Marfrig.
Já o Frigol, quarto maior frigorífico de carne bovina do país, dará 15 dias de férias coletivas aos funcionários da unidade de São Félix do Xingu (PA). A decisão vem após a suspensão temporária de exportações da proteína do Brasil para a China, de acordo com uma pessoa com conhecimento da situação que pediu para não ser identificada.
No entanto, segundo a companhia, as férias coletivas não têm relação direta com a interrupção temporária dos embarques ao país asiático, mas sim com uma baixa demanda sazonal de Israel. A planta de São Félix do Xingu não está entre as habilitadas para o mercado chinês e foca o mercado israelense.
"Estão aproveitando um intervalo nesse calendário [judaico], por isso esta unidade foi escolhida para as férias coletivas", disse a empresa por meio de sua assessoria.
Questionada sobre a suspensão de embarques à China, a assessoria disse não ter informação. O Frigol acrescentou que as demais unidades que são habilitadas para a China, em Lençóis Paulista (SP) e Água Azul do Norte (PA), não terão férias.
IMPORTADORES CHINESES
Os importadores chineses de carne bovina disseram nesta segunda que a suspensão das exportações do Brasil, seu principal fornecedor, não teve impacto imediato no mercado, com alguns ainda fazendo compras em antecipação a uma rápida retomada do comércio.
Apesar da participação dominante do Brasil de 40% nas importações de carne bovina pela China, os preços não mudaram até esta segunda e alguns importadores ainda estavam em busca de negócios.
"Ainda estamos comprando, as fábricas precisam manter seus estoques", disse Grace Gao, gerente geral da importadora Goldrich International, de Dalian.
"Presumo que o governo chinês não banirá as importações", disse Pan Chenjun, analista sênior do Rabobank. "O Brasil é muito importante."
O Brasil embarcou mais de 500 mil toneladas de carne bovina para a China de janeiro a julho deste ano, ou 38% das importações totais da país asiático, mostram dados da alfândega chinesa, colocando-o bem à frente do fornecedor ao segundo maior, a Argentina, que forneceu pouco menos de 300 mil toneladas.
As ofertas globais de carne bovina estão muito restritas e os preços já estão em níveis recordes, acrescentou outro grande comprador de carne bovina da China.
"Se durar apenas 15 dias, não haverá impacto nenhum. O Brasil ainda está produzindo e leva dois meses para embarcar carne para cá", acrescentou, recusando-se a se identificar porque não tem permissão para falar com a mídia.
Enquanto as importações de carne suína da China estão caindo devido à recuperação da oferta doméstica, a demanda chinesa por carne bovina continua crescendo.
A Irlanda, um fornecedor menor de carne bovina da China, relatou um caso de doença atípico da vaca louca em maio do ano passado. Ainda não foi possível retomar as exportações.
CASOS ATÍPICOS
A vaca louca "atípica" é considerada de menor risco do que a forma clássica da doença, pois ocorre de forma natural e apenas esporádica em bovinos mais velhos.
Os dois casos do episódio de agora foram detectados em vacas de idade já avançada, de acordo com o Ministério da Agricultura, e de descarte, que não eram mais úteis para a reprodução de bezerros ou leite.
A Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) concluiu que os casos não representam risco para a cadeia de produção bovina do Brasil, segundo nota divulgada pelo Mapa nesta segunda (6).
A doença "clássica" da vaca louca é transmitida por alimentos contaminados e foi associada à variante da doença de Creutzfeldt-Jakob em pessoas.
O Brasil suspendeu anteriormente as exportações por dez dias em 2019, após relatar um caso atípico (Folha de S.Paulo, 7/9/21)