Futuro da economia global é elétrico, mas poluído
No futuro, uma parte maior do mundo funcionará com eletricidade, mas a maior fatia da energia será poluente.
Esta é a principal mensagem do último relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) sobre tendências de investimento, publicado nesta terça-feira. A organização com sede em Paris afirmou que a geração de eletricidade atraiu mais capital do que o petróleo e o gás natural pelo segundo ano consecutivo, mas o investimento em fontes renováveis diminuiu e deve continuar caindo.
Abastecer a economia com eletricidade é apenas uma parte da transição energética. A questão de onde a eletricidade vem também é fundamental. A eletrificação do transporte reduzirá a poluição atmosférica nas cidades, que é em grande parte atribuída às emissões de óxidos de nitrogênio dos veículos, mas o problema não será resolvido se as emissões simplesmente forem substituídas por dióxido de carbono e outras poluições de usinas que usam combustível fóssil.
“O investimento global em fontes renováveis e eficiência energética diminuiu cerca de 3 por cento no ano passado e, mais importante, poderia desacelerar novamente neste ano”, disse Fatih Birol, diretor executivo da AIE, por telefone. “Essa tendência é preocupante, especialmente quando pensamos em nossas metas de transição para a energia limpa e nas implicações para a segurança energética, para a mudança climática e para a poluição do ar.”
O setor de eletricidade atraiu US$ 750 bilhões em 2017, graças aos gastos robustos em redes. O valor se compara com os US$ 715 bilhões investidos no fornecimento de petróleo e gás. Cerca de US$ 298 bilhões foram investidos em geração de energia renovável, uma queda de 7 por cento em relação ao ano anterior.
Projeta-se que a eletrificação aumentará em quase todos os setores, do transporte à indústria pesada. A AIE informou no início do ano que projeta que a frota global de veículos elétricos vai mais do que triplicar até 2020. As vendas globais de carros elétricos totalizaram US$ 43 bilhões em 2017.
A participação dos combustíveis fósseis no fornecimento global de energia cresceu pela primeira vez desde 2014, para pouco menos de 60 por cento, porque aumentaram os investimentos em petróleo e gás e novas usinas foram construídas na Ásia. O setor atraiu US$ 132 bilhões em investimentos.
Carvão e renováveis
Globalmente, o carvão diminuiu, mas ainda há pelo menos 30 gigawatts em novas usinas prestes a serem construídas, em sua maioria nos países em desenvolvimento. A idade média de uma usina de carvão na Ásia é de 11 anos, em comparação com 40 na Europa e nos EUA, portanto as usinas existentes também estarão operando nas próximas décadas.
Embora parte do declínio do investimento em fontes renováveis possa ser atribuído à queda contínua no custo de equipamentos como painéis solares e turbinas eólicas, o crescimento da capacidade adicionada também foi menor, de acordo com Birol. Isto se deve a mudanças de política governamental, disse ele.
“Isto resulta principalmente do fato de que os investidores veem a incerteza política”, disse ele. “Portanto, os investidores hesitam em injetar dinheiro no setor de renováveis.”
A China, o maior mercado de renováveis do mundo, alterou recentemente sua política relativa à energia solar fotovoltaica, reduzindo as instalações domésticas. Esta medida pode provocar uma queda de até 35 por cento no preço dos módulos até o final do ano, segundo estimativas de analistas da Bloomberg NEF (Bloomberg, 17/7/18)