29/11/2021

Gado que come algas marinhas se torna 90% menos gasoso

Gado que come algas marinhas se torna 90% menos gasoso

algas marinhas  Foto Universo das Flores

Por Jeff Kart

 Saiba como uma startup vai embolsar US$ 2 milhões em aportes, com uma tecnologia comercialmente viável e que pode ir para o mercado.

A alga vermelha, que gosta de águas tropicais ou temperadas quentes, é chamada de Asparagopsis taxiformis ou A. taxiformis para abreviar. A startup que está transformando essa alga em um suplemento para gado é chamada Symbrosia. Uma pesquisa mostrou que substituir apenas 0,4% da ração de uma vaca por A. taxiformis reduz a quantidade de metano que o animal emite em mais de 90%. O metano é 34 vezes mais potente do que o dióxido de carbono quando se trata de contribuir para a mudança climática.

 A startup Symbrosia usa um sistema de aquicultura terrestre para cultivar as algas. Eles secam as algas marinhas para preservá-las naturalmente, e então a transformam em um produto para ração com o nome não tão cativante de SVD.

 Apenas uma pitada de SVD para a alimentação do gado e puf: menos metano da vaca. Symbrosia foi recentemente selecionada como parte da classe 2020 Solver, pelo MIT Solve, uma iniciativa do Massachusetts Institute for Technology. A startup receberá um aporte de cerca de US$ 2 milhões em prêmios de financiamento e mais oportunidades por meio de investidores e de venture capital.

 Essa é a notícia mais recente, pelo menos. Também empolgante é a solução “Algas marinhas para gado com baixo teor de metano” da Symbrosia, que visa combater a causa de 6% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, que vêm de 1,5 bilhão de vacas que arrotam muito metano.

  Seria uma solução para que as pessoas possam desfrutar do prazer de comer carne, sem todas as desvantagens propagandeadas de que comer bifes e hambúrgueres contribui para as mudanças climáticas.

 Conforme descrito aos juízes do MIT: “À medida que escalamos o desenvolvimento e a distribuição de nosso novo suplemento alimentar, estamos ajudando a indústria global de carne a reduzir drasticamente as emissões líquidas de uma forma que antes se pensava ser impossível. Simultaneamente, estamos permitindo que os criadores de gado se recuperem das interrupções causadas pela Covid-19, evitando impostos sobre emissões agrícolas e cobrando preços mais altos por carne ecologicamente correta.”

 Mas por que não um hambúrguer de algas marinhas?

“Priorizamos uma solução eficaz para a redução de emissões que destaca uma transição significativa para os produtores rurais e atende muitos consumidores que não desejam deixar o consumo de carne”, disse Alexia Akbay, CEO da Symbrosia, com sede em Kailua-Kona, no Havaí. “Como veganos e vegetarianos, os fundadores do Symbrosia começaram a trabalhar nessa solução com plena compreensão do tempo que temos para vencer o aquecimento catastrófico.”

 “Vemos nossos esforços como complementares à indústria de alimentos de origem vegetal e entendemos que, apesar da tendência de fazer declarações generalizadas sobre o setor agrícola, é uma indústria muito diversificada, com inúmeros bons atores fornecendo sustento para o mundo. Estamos de olho nas gigatoneladas de redução de metano nos próximos 5 a 10 anos para desacelerar a mudança climática.” Os efeitos positivos do suplemento também são aplicáveis à indústria de laticínios e outros ruminantes como cabras e ovelhas, diz ela.

  Alexia, uma química de formação, cofundou a Symbrosia há cerca de dois anos e meio com Jonathan Simonds. A startup aponta para uma pesquisa da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth, em Penn State, e da University of California-Davis, que mostra que a substituição de apenas 0,4% da ração de uma vaca por A. taxiformis reduz a quantidade de metano que a vaca produz em mais de 90%. A alga marinha atua no estômago do bovino para inibir a combinação de hidrogênio e dióxido de carbono para formar metano.

 A Symbrosia já recebeu financiamento do Usda (Departamento de Agricultura dos EUA) para analisar o uso de seu suplemento de ração de algas marinhas na Z Farms Organic, em Dover Plains, Nova York. Um piloto começou nessa fazenda em junho, testando as algas marinhas como suplementação da dieta dos animais em pastejo.

 “Todas as pesquisas anteriores ocorreram em um confinamento de uma universidade ou em um ambiente leiteiro controlado”, diz Alexia. “Enquanto isso, a maioria das emissões de metano na cadeia de abastecimento de carne ou laticínios vem do ciclo de pastejo – digerir grama [ou capim] é mais difícil do que milho ou soja.” A alga marinha foi incluída como parte do suplemento alimentar mineral fornecido aos animais que pastam.

 “Na prática, também encontramos mais de 70% de redução de metano em 45 ovelhas. A redução de 70% versus 90% depende da qualidade do produto e destaca o quão longe nossa equipe avançou em crescimento e processamento, e também as melhorias extras de 20% necessárias para replicar essa redução alvo de 90%.”

 Além de menos metano, a proprietária da Z Farms, a doutora Diane Zlotnikov, constatou que encontrou melhorias gerais de saúde dos olhos, da pelagem e da pele de suas ovelhas e espera usar o suplemento comercialmente no futuro.

 A startup destaca que hoje ela já conta com vários concorrentes (a startup Blue Ocean Barns foi notícia no ano passado), mas acredita que seu produto cria maiores reduções de metano e é mais fácil de escalar do que outras soluções apresentadas até agora.

 Alga tem gosto de quê?

Alexia brinca que não conseguiu perguntar a nenhuma vaca, mas disse que A. taxiformis, conhecida localmente pelo nome havaiano de limu kohu ou limu līpehe, foi amplamente consumida pelos havaianos, por gerações.

 O nome havaiano kohu significa “meios” ou “último”. “As lendas havaianas que detalham a origem da cor vermelha escura de limu kohu as conectam a Ali’i (realeza), sugerindo que a alga marinha também pode ter sido uma alga desejável para a realeza havaiana”, explica a CEO.

 A startup coleta A. taxiformis em todo o entorno das oito ilhas havaianas como fonte de diversidade genética. “Nós as cultivamos em sistemas terrestres modificados para o nosso organismo, semelhantes aos métodos eficazes usados para a produção de safras como a espirulina” (uma alga rica em nutrientes).

  Pesquisa sobre algas pode ganhar escala comercial nos próximos anos

  Diz-se que a alga marinha é um pouco salgada ao paladar. “Não tivemos nenhum problema específico ao alimentar ovelhas, mas outros pesquisadores incluíram melaço para compensar o sabor salgado”, diz Alexia. “O gado pode, como ocorre com outros suplementos, não se adaptar rapidamente a novas ofertas no cocho, então os períodos de ajuste são normalmente dados.”

 Alexia prevê que o suplemento estará disponível em maior escala nos próximos dois anos, dependendo da aprovação da Food and Drug Administration dos EUA. Mas ela observa, também, que “essa alga não vai funcionar em nenhum de seus familiares”, ou seja, não faz efeito em humanos.

 De volta à recente vitória da startup no MIT Solve, Symbrosia foi uma das 35 equipes a entrar na Classe Solver 2020, vencendo mais de 2.600 candidatos de 135 países. Alexander Dale, líder da Comunidade de Sustentabilidade do MIT Solve, diz que a startup Symbrosia “tem um produto com grande potencial para reduzir as emissões de carbono da pecuária e uma clara oportunidade de mercado, dados seus co-benefícios para os pecuaristas. Os juízes do MIT Solve ficaram impressionados com o impacto potencial da Symbrosia, junto com o foco e experiência da equipe de liderança, uma história clara de mudança e o potencial do Solve para apoiar a empresa em seu estágio atual.”

 A startup fez parte do Desafio de Sistemas Alimentares Sustentáveis do MIT Solve. “O sistema alimentar é responsável por cerca de um quarto das emissões globais de gases de efeito estufa, entre muitos outros impactos negativos”, diz Dale. “Ao mesmo tempo, há muito potencial de inovadores sociais e tecnológicos para impulsionar mudanças importantes.” (Jeff Kart é colaborador da Forbes EUA, mestre em estudos ambientais pela University of Illinois at Springfield e consultor de comunicação ambiental; Forbes, 28/11/21)