24/08/2022

Gestão dos fertilizantes está melhor no Brasil, diz diretor da Nutrien

Gestão dos fertilizantes está melhor no Brasil, diz diretor da Nutrien

APLICACAO FERTILIZANTES  (Imagem REUTERS Michaela Rehle)

Por Erich Mafra

 

Para Roberto Carlos Oliveira, head da América Latina da multinacional canadense, cadeia do insumo se organizou com a crise gerada pela guerra.

 

A crise dos fertilizantes gerada pela guerra na Ucrânia, e que tirou o sono dos agricultores na safra passada, já não é uma ameaça à produção de alimentos no Brasil, mas o momento ainda é de alerta. As dificuldades da cadeia ajudaram a unir os dependentes desse suprimento e impulsionar as possíveis soluções sobre a sustentabilidade do setor.

 

É no que acredita o engenheiro agrônomo Roberto Carlos Oliveira, head de fertilizantes da gigante Nutrien para a América Latina. “O grande aprendizado é que nesse ano vimos de fato uma união de pesquisadores, consultores e todos para falar sobre a nutrição de plantas, agricultura sustentável e uso racional de fertilizantes”, diz ele. “Nunca se usou tantos mapas de produtividade quanto esse ano”, se referindo a uma melhor gestão do uso de insumos nas lavouras.

 

A canadense Nutrien, com operações também nos Estados Unidos, Europa e na Austrália, é uma das maiores do mundo na produção de potássio, com estimativa de sair de 15 milhões de toneladas neste ano, para 18 milhões de toneladas até 2025.

 

No Congresso Nacional dos Fertilizantes, hoje (23), evento promovido pela Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) em conversa com a Forbes, Oliveira reforçou a estratégia da Nutrien e explicou como o país, um cliente cativo do potássio da companhia, se encaixa na estratégia global da empresa. Atualmente, a empresa possui cinco unidades industriais no exterior.

 

“Já temos no Brasil quatro misturadores operando e novos investimentos que vão dobrar nossa capacidade. Isso nos ajuda a minimizar o risco eventual que possamos ter aqui”, diz. “O agricultor está no centro da nossa estratégia e o que estamos fazendo globalmente é aumentar a produção justamente para suprir a produção e não deixar faltar essa demanda.” No final do ano passado, a empresa anunciou que investiria R$ 600 milhões no Brasil.

 

Segundo a Anda, 85% dos fertilizantes utilizados nas lavouras do país em 2021 foram importados. Do total de 45,8 milhões de toneladas, o volume foi de 39,2 milhões. O país é o quarto maior consumidor de fertilizantes do mundo. Fica atrás, apenas, de Estados Unidos, Índia e China, que também são grandes produtores. O Brasil, ao contrário, não faz parte desse clube de elite. No caso do potássio, o percentual importado é de cerca de 95%, com volumes superiores a 10 milhões de toneladas por ano.

 

 

O engenheiro agrônomo, André Pessôa, presidente da consultoria Agroconsult, afirma que o país deve consumir um pouco menos de fertilizantes neste ano, algo em torno de 800 mil toneladas, volume que não compromete o desempenho das lavouras. “Nós ainda cresceremos 2,5 milhões de hectares de área plantada, com a soja puxando o crescimento”, diz ele, se referindo à safra 2022/23 que começa a ser plantada nos próximos meses. Em 2021/22, foram cultivados 79,1 milhões de hectares de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar e trigo, mais o café.

 

Além disso, para este período já está comprada boa parte dos fertilizantes que serão utilizados nas lavouras. Para soja, algodão e a primeira safra de milho, a Agroconsult estima que entre 90% e 95% dos insumos estão garantidos para o Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Sul de São Paulo, Goiás, e o Matopiba (região de junção dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O mesmo ocorre para a segunda safra de milho, com índices de compras nas principais áreas produtoras entre 54% e 71% (Forbes, 23/8/22)