25/05/2022

Glencore assumirá culpa em acusações de suborno e pagará multa de US$ 1,5 bilhão

Glencore assumirá culpa em acusações de suborno e pagará multa de US$ 1,5 bilhão

LOGO GLENCORE Foto Arn Wiegmann - 20.nov.2012 Reuters

A Glencore vai assumir a culpa em várias acusações de suborno e pagará multas de aproximadamente US$ 1,5 bilhão (R$ 7,2 bilhões) após investigações dos Estados Unidos e do Reino Unido que revelaram corrupção numa das maiores traders de commodities do mundo.

O Escritório de Fraudes Graves do Reino Unido (SFO, na sigla em inglês) acusou na terça-feira (24) a subsidiária do grupo Glencore Energy UK de sete casos de suborno e corrupção com fins lucrativos relacionados a operações de petróleo em Camarões, Guiné Equatorial, Costa do Marfim, Nigéria e Sudão do Sul.

Em um comunicado, o SFO disse: "Agentes e funcionários da Glencore pagaram subornos no valor de mais de US$ 25 milhões por acesso preferencial ao petróleo, com a aprovação da empresa".

A Glencore disse que pagará cerca de US$ 1,5 bilhão ao todo em multas: US$ 1 bilhão às autoridades americanas, US$ 40 milhões (R$ 192 milhões) ao Ministério Público brasileiro e o valor devido ao Reino Unido, que será fechado em audiência no próximo mês. A empresa fez uma provisão de US$ 1,5 bilhão para o acordo em fevereiro.

O Departamento de Justiça dos EUA também instalará um monitor de compliance independente na Glencore durante três anos para verificar seus controles internos.

Alexandra Gillies, conselheira da ONG Natural Resource Governance Institute, disse que "os negociantes de commodities, incluindo a Glencore, têm um histórico sombrio no que se refere a corrupção, por isso é bom verem que há consequências".

"O desempenho financeiro da Glencore não sofrerá muito com essa multa, especialmente devido à situação atual dos preços das commodities. Mas [a multa] é grande pelos padrões antissuborno, e isso envia um sinal importante para a indústria."

Em 2018, o Departamento de Justiça dos EUA lançou uma ampla investigação e pediu que a empresa entregasse registros relacionados ao cumprimento das leis contra lavagem de dinheiro e da Lei de Práticas de Corrupção no Exterior na Nigéria, na República Democrática do Congo e na Venezuela.
O SFO do Reino Unido seguiu o exemplo em 2019 e abriu uma investigação da Glencore por "suspeitas de suborno", que chamou de Operação Azoth.

Um advogado da Glencore indicou na terça-feira que a empresa vai se declarar culpada. Ela enfrenta acusações que incluem o pagamento de subornos de 10,5 milhões de euros (R$ 54,29 milhões) para induzir funcionários das empresas Société Nationale des Hydrocarbures e Société Nationale de Raffinage a tirar proveito das operações da Glencore em Camarões.

Representando o SFO, o advogado Faras Baloch disse que a empresa havia subornado agentes para "ajudá-los a obter cargas de petróleo bruto ou obter um preço indevidamente favorável para essas cargas".

A Glencore também é acusada de pagar 4,7 milhões de euros (R$ 24,3 milhões) em propinas entre julho de 2011 e abril de 2016 para influenciar autoridades a favorecer a empresa em transações de petróleo na Costa do Marfim. Ainda é acusada de não impedir que indivíduos ligados à empresa subornassem autoridades para a concessão de cargas de petróleo bruto na Guiné Equatorial.

As investigações lançaram uma grande sombra sobre a companhia e atraíram dúvidas sobre a cultura de um dos maiores traders de commodities do mundo.

Seu antigo executivo-chefe Ivan Glasenberg se aposentou no ano passado, tornando-se o último de uma linha de figuras importantes a deixar a empresa, incluindo o ex-chefe da divisão de petróleo, Alex Beard, que saiu em 2019.

Lisa Osofsky, diretora do SFO, disse: "Esta investigação significativa, que o SFO levou à Justiça em menos de três anos, é o resultado de nossa experiência, nossa tenacidade e a força de nossa parceria com os Estados Unidos e outras jurisdições".

A empresa, que transporta milhões de toneladas de metais, minerais e petróleo em todo o mundo, também enfrenta investigações de autoridades suíças e holandesas, cujo prazo e resultado permanecem incertos (Financial Times, 24/5/22)