Governo argentino pede que fazendeiros vendam safra de soja
Diante da forte queda do peso, o presidente Mauricio Macri – Foto - esperava que a maior fonte de dólares da Argentina aparecesse para devolver um favor. Em vez disso, ele levou uma bofetada.
Macri apostou alto nos fazendeiros quando chegou ao poder, em dezembro de 2015, eliminando impostos às exportações, desvalorizando a moeda e subsidiando empréstimos para reverter as políticas hostis do governo anterior. Mas agora que precisa desesperadamente dos dólares das exportações deles, os produtores não estão vendendo soja suficiente.
Os fazendeiros venderam 17 milhões de toneladas da safra atual, segundo dados do Ministério da Agroindústria, que estima a safra em 37,6 milhões de toneladas. As vendas recentes têm sido lentas. No último mês, até 2 de maio, os produtores venderam apenas 2,6 milhões de toneladas de grãos, contra 4,7 milhões no mesmo período do ano passado.
Não há sinal também de que estejam se preparando para se desfazer de milhões de toneladas de grãos estocados da safra anterior. Os agricultores argentinos geralmente confiam mais na commodity física do que na economia e na moeda imprevisíveis de seu país. A invenção do silo bolsa — algo ridicularizado pelos apoiadores de Cristina Kirchner, a antecessora de Macri — também deu aos agricultores a capacidade de armazenar grãos e esperar uma taxa de câmbio e preços de safra favoráveis.
Integrante de destaque da coalizão do governo de Macri, a deputada Elisa Carrió mostrou irritação. “Nós ajudamos o campo nos momentos difíceis… Agora eu digo a eles: Não segurem a soja, comecem a liquidar para que entrem divisas”, escreveu em um tuíte, na semana passada. Em declaração televisionada, ela acrescentou: “Façam isso pela pátria”.
Mas é pouco provável que os fazendeiros atendam o pedido enquanto houver volatilidade no mercado de câmbio. “Temos que vender pelo melhor preço e este não é o momento certo de tomar essa decisão”, disse Francisco Perkins, que cultiva cerca de 7.000 hectares de soja, em entrevista por telefone, de Pehuajó, na província de Buenos Aires.
Além de os agricultores preferirem aguentar a tempestade no mercado de câmbio, as vendas caíram ainda mais porque a colheita foi adiada devido à grande quantidade de chuvas (Bloomberg, 16/5/18)