20/06/2025

Governo fraco, Congresso destrutivo – Editorial Folha de S.Paulo

Governo fraco, Congresso destrutivo – Editorial Folha de S.Paulo

Diante da falta de liderança de Lula, parlamentares rejeitam propostas de ajuste fiscal e derrubam vetos corretos.

 

Se havia alguma dúvida quanto à fraqueza política do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso Nacional, esta semana tratou de dissipá-la.

 

A tentativa parlamentar de derrubar os decretos presidenciais de aumento do IOF tramitará em regime de urgência. Houve ainda ameaças abertas de que dificilmente será aprovada a medida provisória que elenca providências com o objetivo de diminuir, de modo precário, o déficit das contas do Tesouro Nacional.

 

Na terça-feira (17), foi instalada Comissão Parlamentar Mista de Inquérito destinada a investigar o roubo de parte de aposentadorias e pensões do INSS. Ademais, uma série de vetos presidenciais foi derrubada com facilidade, para não dizer com escárnio pelos interesses do país.

 

A debilidade política da administração petista, de fato, é evidente desde as eleições de 2022.

 

O presidente venceu a disputa por margem mínima de votos; no Congresso, é francamente minoritário em termos numéricos e ideológicos. Jamais conseguiu firmar coalizão que levasse para o governo apoios bastantes dos partidos que receberam ministérios e outros cargos. A articulação política foi desde sempre inábil.

 

A estratégia de elevar despesas de forma temerária e, a seguir, tentar obter receitas suficientes mostrou-se inviável desde meados de 2024, o que tornou a Fazenda muito dependente de medidas pontuais e da boa vontade decrescente dos parlamentares.

 

O governo fica cada vez mais acuado —situação que apenas se deteriora com a falta de vontade de apresentar um programa fiscal capaz de redundar em acordo político que ao menos atenue o perigo do endividamento.

 

A querela judicial das emendas parlamentares e a voracidade de deputados e senadores por recursos escassos, se não inexistentes, emparedam Lula 3, que, além do mais, padece de taxas baixas de aprovação do eleitorado.

 

Na terça (17), o Congresso não só derrubou vetos presidenciais. Também afrontou a racionalidade econômica e o planejamento da produção de energia elétrica, insumo essencial. Os parlamentares restabeleceram subsídios, reservas de mercado e outros favores a fontes de energia ditas alternativas ou mais caras, a fim de beneficiar lobbies empresariais.

 

A conta de luz aumentará para consumidores. Será gravemente prejudicado um planejamento que possa levar em consideração a demanda real de energia, preços de mercado, impactos ambientais, novidades tecnológicas e conveniências operacionais.

 

Dificultou-se a gestão de um setor já regulado de modo caótico.

 

O governo Lula desperdiçou a oportunidade de início de mandato para formar uma aliança partidária forte, com divisão efetiva de poder, e tomar medidas mais difíceis para o equilíbrio orçamentário. Na falta de liderança, o Congresso já se entrega a cálculos para as eleições de 2026, cuida de seus bilionários interesses paroquiais e deixa a economia do país à própria sorte (Folha, 19/6/25)