Governo girou em falso nos casos do arroz e da desoneração
Foto Joédson Alves EFE
Por Bruno Boghossian
Leilão anulado e medida provisória devolvida são sintomas de uma ação política atabalhoada.
No último mês, o governo abriu a caixa de ferramentas para encarar dois problemas. Primeiro, Lula anunciou um leilão para segurar o preço do arroz após as enchentes gaúchas. Depois, a equipe econômica bolou uma medida que deveria cobrir um buraco bilionário em seu cofre.
Algumas horas foram capazes de fazer o presidente e seus auxiliares voltarem todas essas casas. Com a anulação da compra de arroz e a devolução da medida provisória que deveria compensar a prorrogação da desoneração da folha, o governo girou em falso.
Os dois casos são sintomas de uma ação política atabalhoada. Pouco depois dos temporais que inundaram o Rio Grande do Sul, o governo correu para preparar um leilão de importação de arroz com o objetivo de amortecer a variação de preços. O processo acabou correndo com empresas sem capacidade técnica e sob conflito de interesses.
A decisão de anular a compra manteve o fantasma dos preços e criou duas encrencas que o governo não tinha. O primeiro é o desgaste de um episódio que transita entre incompetência, improviso e suspeita de jogo sujo. O segundo é a dívida que Lula contraiu ao prometer que mandaria arroz barato para as prateleiras.
A pancada que o governo levou no caso da desoneração, por sua vez, pode até ser debitada na conta do lobby pesado da indústria e do agronegócio, mas o time de Lula deveria ter entrado em campo conhecendo o fôlego dos adversários.
A Fazenda e o Planalto editaram uma medida provisória que mordia benefícios generosos sem medir o tamanho da gritaria desses setores. Para completar, ficaram sem rede de proteção no Congresso porque não negociaram o texto com os presidentes da Câmara e do Senado.
A derrubada do veto das saidinhas havia sido amarga, mas o governo absorveu a derrota com o argumento de que sua prioridade era a pauta econômica. Os dois golpes sofridos nesta terça-feira (11) sugerem que o Congresso conservador não é o único problema de Lula (Folha, 12/6/24)