23/10/2024

Governo Lula erra na gestão de vacinas – Editorial Folha de S.Paulo

Governo Lula erra na gestão de vacinas – Editorial Folha de S.Paulo

Dinheiro público é desperdiçado com imunizantes contra Covid vencidos; urge melhorar logística e intensificar campanhas.

Mais uma vez o Ministério da Saúde se vê diante de problemas com seu programa de imunização, que denotam precariedade em distribuição e evidenciam desperdício de dinheiro público.

De 12,5 milhões de vacinas adaptadas à variante XBB do coronavírus adquiridas em maio deste ano por R$ 725 milhões, a pasta foi incapaz de entregar 4,2 milhões a estados e municípios.

Para piorar, 3 milhões estão vencidas e 1,2 milhão delas serão trocadas pela farmacêutica Moderna por doses com validade mais longa. Agora, o governo não possui imunizantes para entrega imediata. Ademais, das 8,26 milhões de doses repassadas, apenas 3,1 milhões foram aplicadas.

O ministério de Nísia Trindade reconhece que as unidades da Federação dispõem de poucas doses, notadamente do modelo infantil, e indica que as dificuldades se devem a fatores como validade, exigência de baixíssimas temperaturas de armazenamento e fake news contra vacinas.

Contudo os motivos elencados são justamente aqueles que devem ser diagnosticados e enfrentados pela gestão, com incremento em logística e em campanhas de conscientização —estas também deveriam ser intensificadas por estados e municípios.

O contrato com a Moderna foi emergencial. Em abril deste ano, um abaixo-assinado feito por integrantes da comunidade científica e profissionais da área da saúde já cobrava da pasta a entrega de vacinas para novas variantes do vírus e medidas para fortalecer o combate à doença. A vacina atualizada contra novas variantes foi aprovada pela Anvisa em dezembro de 2023.

Sinais de inépcia não são novidade. Em setembro de 2023, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adquiriu 10 milhões de doses da Coronavac, mesmo que esse imunizante já fosse secundário no SUS, por não ser atualizado para novas cepas do vírus.

Além disso, isentou o Butantan da obrigação de substituir lotes com validade inferior ao prazo definido no contrato. Passados 12 meses, 8 milhões de doses estavam vencidas ou prestes a vencer —desperdício de R$ 260 milhões.

Já em relação ao imunizante Qdenga, contra a dengue, a Anvisa deu aval para venda em março de 2023, mas, devido à burocracia, a permissão para distribuição no SUS só veio em dezembro.

De janeiro a outubro de 2024, a Covid-19 matou 5.157 pessoas no país; a dengue, 5.661.

Outras enfermidades também são afetadas. Estudo da Confederação Nacional dos Municípios mostra que 6 em cada 10 cidades relatam falta de vacinas para o público infantil contra doenças como meningite, sarampo, catapora e rubéola, além da Covid.

Mesmo considerando possíveis entraves no fornecimento pelas farmacêuticas, está claro que o Ministério da Saúde precisa instituir mudanças para garantir distribuição eficiente e evitar o desperdício de dinheiro do contribuinte. Exige-se tão somente que a pasta cumpra sua função (Folha, 23/10/24)