Governo Lula gostaria de censurar TikTok e outras redes – Editorial Folha

Rosângela Lula da Silva, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Xi Jinping, presidente da China, em Pequim - Huang Jingwen - 13.mai.25/Xinhua
Pedir auxílio à China para regular internet não tem cabimento; PT não se incomodaria se aliados tivessem força nas redes.
A viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Rússia e à China acumulou desgastes como raramente ocorre nesses périplos em regra soporíferos. Não bastasse o serviço prestado ao autocrata Vladimir Putin, em meio a tiranos de várias procedências, a passagem por Pequim não deixará saudades.
Ficará marcada por um episódio que mistura intrigas no círculo mais próximo de Lula a um tema da agenda pública, a regulação de redes sociais, impropriamente tratado numa mesa de refeições em que se sentava o dirigente máximo de uma das mais repressivas ditaduras do planeta.
Suscitado pela primeira-dama, Rosângela Lula da Silva, ou por seu marido, diante do dirigente Xi Jinping, o incômodo em relação à atuação da rede social chinesa TikTok no Brasil poderia ter sido mais uma dessas conversas ligeiras que ocorrem em jantares apenas para entreter os comensais.
Foi o presidente brasileiro, porém, que levou o tópico à agenda bilateral. Ele disse que perguntou "ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa de confiança para a gente discutir a questão digital —sobretudo o TikTok".
Mensagens da China logo mostraram que a ditadura comunista se engajou no tema. O TikTok mandou uma carta ao governo brasileiro, devidamente intermediada pelo Itamaraty, na qual se coloca à disposição para dialogar com o Palácio do Planalto.
Nesse episódio chega-se a duvidar da decantada sagacidade de Lula, reconhecida até por oponentes. Qual teria sido a vantagem política para o presidente de conclamar representantes de uma ditadura para dar lições sobre controle das redes sociais na democracia brasileira?
A chegada de um comissário chinês para auxiliar a gestão petista em assuntos de censura, pois é disso que se trata, seria um estimulante apenas para a oposição, que já está explorando, no TikTok inclusive, a derrapagem de Lula. Congresso e Judiciário independentes não existem no país asiático, mas aqui sim.
O desconforto do casal presidencial com as redes sociais decorre de avaliações desapaixonadas sobre os malefícios dessas corporações? Manteria as suas críticas fossem os situacionistas, não os oposicionistas, as forças dominantes nesses meios?
A resposta é negativa. É por essa razão que quem está no governo não tem legitimidade para colocar-se na posição de árbitro da expressão alheia. Por isso as democracias maduras desenvolveram proteções fortes contra quem, como Lula e Janja, desejaria controlar o que é publicado (Folha, 18/5/25)