Governos federal e de São Paulo se reúnem com empresários hoje

Reprodução Canal Gov
Governos Lula e Tarcísio recebem empresários sobre tarifas nesta terça; chefe de embaixada dos EUA vai a reunião em SP. Eventos foram marcados no mesmo dia; Alckmin afirma não ter sido procurado por representante americano e não ver problema em encontros.
Emissários do governo federal e da gestão paulista entraram em contato com empresários e representantes de diversas indústrias para realizar reuniões nesta terça-feira (15), para discutir os efeitos e eventuais medidas que podem ser tomadas para lidar com a sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a todos os produtos exportados pelo Brasil àquele país.
A gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) marcou um encontro para as 9h, no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. O empresário Paulo Skaf, ex‑presidente da Fiesp, ligou diretamente para empresários nesta segunda-feira (14), para formalizar o convite.
Nomes da indústria do suco, café e plástico estão entre os convidados. O encontro paulista vai contar com a participação do chefe da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, que esteve com Tarcísio na sexta-feira (11).
"Amanhã, o encarregado de negócios dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, vai se reunir com o setor privado em São Paulo, o estado com a maior concentração de investimento americano no Brasil. Ressaltamos que a Embaixada promove os interesses das empresas americanas e a cooperação bilateral", afirmou a assessoria de comunicação da embaixada dos EUA no Brasil.
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou nesta segunda-feira que não foi procurado por Escobar, que já se reuniu na semana passada com Tarcísio. Alckmin disse que não enxerga problemas em encontros desse tipo e que o governo federal já vinha mantendo diálogo com representantes da gestão americana desde os primeiros anúncios de Trump sobre tarifas.
"No dia 16 de maio foi encaminhada, em caráter confidencial, uma proposta para os EUA de negociação e ela não foi respondida ainda. Até sexta-feira antes do anúncio [dia 4] estavam ocorrendo reuniões no nível técnico", afirmou o vice-presidente, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Nesta segunda, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) informou que teve uma reunião com presidentes das federações do setor e com a secretária de Comércio Exterior do Mdic, Tatiana Lacerda Prazeres.
No encontro, representantes da indústria defenderam um adiamento de no mínimo 90 dias para a aplicação das sobretaxas, para que o setor possa analisar os efeitos da medida e buscar soluções diplomáticas. A Confederação estimou uma possível perda de 110 mil postos de trabalho caso a medida do presidente americano entre em vigor nos termos anunciados.
Paralelamente, o governo Lula (PT) também disparou convites a empresários, para dois encontros com Alckmin na manhã e na tarde de terça, em Brasília. É possível, portanto, que um encontro possa esvaziar a agenda de outro.
Para além da emergência econômica que a situação carrega, com efeitos potenciais da vida de milhares de empregados em diversos setores do país, há uma acirrada disputa política em curso sobre quem vai "colher os louros" de ter resolvido o impasse.
Lula determinou na noite de domingo (13) a criação de um comitê interministerial para conversar com os setores mais afetados pela sobretaxa de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos brasileiros. Ele já tinha avisado aos ministros que se reunirá pessoalmente com empresários para tratar desse tema, de acordo com fonte que participou da reunião organizada pelo petista no domingo.
Alckmin irá presidir esse comitê, que também será formado pelos ministros Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda).
Segundo o vice-presidente, a primeira tarefa do comitê será "conversar com o setor privado". Ele afirmou na tarde de segunda que uma reunião, pela manhã, reunirá representantes de setores da indústria que têm maior relação comercial com os EUA, entre eles do alumínio, da celulose, dos calçados e das autopeças.
À tarde, ocorrerá reunião com setores do agronegócio (como suco de laranja, carnes, frutas, pescados e mel). O presidente da República não deverá participar desses encontros, mas ministros que integram o comitê e outros cujas pastas têm relação com os setores serão convidados.
Ele afirmou ainda que deverá ocorrer novos encontros desse tipo, inclusive com entidades e empresas americanas. "Evidente que as empresas americanas também vão ser atingidas. Vamos conversar, também, com as empresas americanas e a com as entidades do comércio Brasil-Estados Unidos, como a Amcham [Câmara Americana de Comércio para o Brasil]", disse.
O vice-presidente também afirmou que o governo não pediu prorrogação de prazo para que a sobretaxa de 50% passe a valer (estabelecido pelos EUA em 1º de agosto) nem fez propostas sobre a alíquota em si.
"O governo não pediu nenhuma prorrogação de prazo e não fez nenhuma proposta sobre o percentual. O que estamos fazendo é ouvindo os setores mais envolvidos, para que o setor privado também possa participar e se mobilizar com seus parceiros nos EUA. A responsabilidade é todo o empenho em rever essa questão, porque ela é totalmente inadequada", disse.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), se reuniu nesta segunda-feira (14) com Alckmin para falar da sobretaxa. Segundo Casagrande, quase 30% das exportações que saem do Espírito Santo vão para os Estados Unidos. O governador confirmou que Alckmin vai se reunir com empresários e demais representantes dos setores da agricultura e indústria para discutir a questão.
Ainda de acordo com a conversa, o objetivo da reunião com os empresários deve ser estimular a interlocução com os empresários americanos e reforçar a negociação com os EUA.
Aliados do presidente Lula (PT) avaliam que o governador de São Paulo tenta se desviar das críticas geradas pelo tarifaço de Donald Trump, ao projetar uma imagem de possível negociador com os Estados Unidos, mas há ceticismo na hipótese de que o governador possa ser aceito por Washington como um interlocutor.
Até agora, a atuação de Tarcísio no caso só serviu para abalar as suas pretensões presidenciais para 2026, envolvendo uma série de idas e vindas em suas declarações públicas, além do acirramento em público de sua relação com Eduardo Bolsonaro (PL), o deputado licenciado que tem pretensões de ser o candidato de seu pai no ano que vem.
Tarcísio não foi o único a bater cabeça no cenário atual. O bolsonarismo enalteceu o movimento de Donald Trump a favor de Jair Bolsonaro no começo da semana passada e partiu para a ofensiva contra Lula quando o americano anunciou o tarifaço. Dois dias depois, deu um passo atrás diante da repercussão negativa e agora se divide em relação às estratégias para enfrentar a crise. (Folha, 15/7/25)
Tarcísio seguirá com plano de redução de tarifaço dos EUA
Governador do Estado de São PauloTarcísio de Freitas (Republicanos). Foto Divulgação
Aliados afirmam que governador de São Paulo avançará com estratégia para evitar danos a setores como aeroespacial e citricultores.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), decidiu levar adiante a defesa dos interesses dos exportadores do estado e, com isso, enfrentar o clã Bolsonaro.
Em entrevista à Folha, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que Tarcísio errou ao tentar negociar uma saída para as tarifas de 50% com a embaixada dos EUA. O filho do ex-presidente afirmou ter feito pressão por retaliações tarifárias ao Brasil nos EUA e que só voltará ao país se o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), sofrer sanções dos EUA.
Aliados de Tarcísio afirmam que a divergência abriu um racha político e levou o governador a cogitar não migrar para o PL —partido ligado a Bolsonaro—, permanecendo no Republicanos se Eduardo não desistir dessa estratégia. Consultado, Tarcísio negou.
Nos bastidores, no entanto, assessores do governador afirmam que ele está determinado e seguirá com o plano de operar pela redução das tarifas.
Caso a sobretaxa de 50% passe a valer, São Paulo será o estado mais prejudicado do país. A Embraer e produtores de laranja, por exemplo, serão muito afetados.
Em 2024, o estado exportou quase US$ 13,6 bilhões aos EUA, o que representa 33,6% do total do exportado ao país pelo Brasil.
O governador levará para representantes dos EUA dados dos setores para ajudar a diplomacia brasileira.
Ainda segundo os relatos, Tarcísio tem como exemplo o Canadá, onde as províncias ajudam o governo central.
Politicamente, isso coloca o governador em rota de colisão com Bolsonaro. Internamente, esse movimento vem sendo avaliado como uma sinalização de que Tarcísio não quer ser candidato à Presidência da República.
O assunto, no entanto, é algo que o governador se recusa a comentar (Folha, 15/7/25)
Governo se reúne com o agro para debater estratégia sobre taxação dos EUA
Geraldo Alckmin vai liderar as tratativas com o setor privado — Foto: Cadu Gomes/VPR
O objetivo do encontro será ouvir as demandas das entidades de produtores e exportadores.
Representantes dos segmentos do agronegócio que mais exportam para os Estados Unidos, como café, suco de laranja e carne bovina, vão se reunir nesta terça-feira (15/7), a partir das 14h, com o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em Brasília, para discutir estratégias de negociação com os norte-americanos após anúncio da taxação de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de agosto.
Alckmin, que também é ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, vai liderar as tratativas com o setor privado e demais ministros do comitê interministerial que será criado para avaliar medidas de reciprocidade que poderão ser aplicadas aos EUA. Ele vai conceder uma entrevista coletiva no Palácio do Planalto logo mais para atualização a situação.
A princípio, não haverá participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesses debates. Há possibilidade de participação de membros da indústria nessa primeira reunião ampliada com governo e setor privado.
O objetivo do encontro será ouvir as demandas das entidades de produtores e exportadores e buscar um entendimento entre setor público e privado para alinhar ações, apurou a reportagem. Após especulações que circularam nesta segunda-feira (14/7), sobre a possibilidade de o Planalto negociar com Donald Trump o adiamento da entrada em vigor da tarifa ou a criação de cotas para exportação isenta de café e suco de laranja, integrantes do governo pregam cautela e dizem que não deve haver decisão nesses primeiros encontros.
As negociações serão coordenadas pelo comitê interministerial que a presidência irá criar nos próximos dias. A tendência é que o comitê tenha pelo menos cinco ministros, além de empresários de setores impactados negativamente pela taxação. Se não avançar as negociações, o governo irá adotar a lei da reciprocidade. O decreto que institui a lei deve ser publicado até terça-feira (15/7).
O setor privado também terá uma agenda intensa de reuniões em Brasília para tentar encontrar uma saída viável em meio ao tarifaço de Trump. Antes da reunião com Alckmin e Fávaro, empresários do agronegócio devem se reunir com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e outros ministérios, como o Itamaraty.
"Estamos buscando a negociação mais pragmática possível diante da realidade dos dois mercados", disse uma liderança do setor cafeeiro. O Brasil é maior produtor de café do mundo e os Estados Unidos, o maior consumidor, lembrou a fonte. "É uma relação para os dois países. Eles são insubstituíveis, cada um com a sua consolidação" (Globo Rural, 14/7/25)