Gripe aviária preocupa mais que peste suína e ameaça produção de proteínas
Legenda: Bombeiro desinfeta rua em região da Polônia em que focos de gripe aviária foram descobertos
Após peste suína, aumenta número de países com influenza aviária.
Em um período em que o mundo passa a exigir mais proteínas, devido ao aumento de renda em vários países, a oferta desses produtos fica ameaçada pelas doenças que se espalham.
Após os estragos da peste suína na China, que teve início em 2018, aumenta o número de países com a incidência de influenza aviária.
A combinação das duas é uma verdadeira bomba, afirma Francisco Turra, presidente da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
A essas duas doenças se soma o coronavírus, que ameaça humanos pelo mundo todo.
A peste suína africana já se espalhou por várias regiões da Ásia, da Europa e da África, enquanto a gripe aviária chegou a 12 países neste ano.
Alguns desses, como China e Índia, têm as maiores populações do mundo. Outros, como a Polônia, podem levar a doença para grandes produtores europeus.
Janice Zanella, chefe-geral da Embrapa Aves e Suínos, diz que o avanço da influenza é preocupante. A China tem um comércio mundial muito grande no setor de agronegócio e de insumos.
O vírus é o H5N1, de alta patogenicidade, trazido principalmente por aves migratórias. O problema, segundo a pesquisadora da Embrapa, é que a letalidade da gripe aviária é de 52%, quando afeta humanos, enquanto a do coronavírus é de 2%. Isso quer dizer que, de cada duas pessoas afetadas pela influenza, uma provavelmente morre.
Para Zanella, os vírus sempre existiram e estão em evolução. É preocupante, porém, que 75% das novas doenças são zoonoses. O homem invadiu o habitat dos animais, colocou-os em confinamento ou está criando espécies exóticas. Além disso, há uma maior mobilidade e a população envelhece e perde imunidade.
Do ponto de vista agroeconômico, esse cenário é complicado porque a gripe aviária é mais preocupante do que a peste suína. Nesta última, quando ocorre, o animal é abatido, faz-se a higienização e retoma-se a produção. No caso da influenza, faz-se o mesmo processo, mas há um retorno constante do vírus.
Se a influenza se alastrar pela China, vai trazer um grande problema para o país.
A peste suína africana fez a produção de carne suína cair do patamar de 55 milhões de toneladas para 37 milhões.
Parte desse déficit está sendo suprida com importações, mas o governo apostava no crescimento rápido da avicultura para elevar a oferta de proteína.
O surgimento constante dessas doenças na China tem muito a ver com o sistema tradicional de criação dos animais. Só agora os chineses começam a mudar o sistema, evoluindo para granjas com mais biossegurança.
Se ocorrer um déficit ainda maior de proteínas na China, o Brasil será um dos parceiros entre os que podem aumentar as exportações.
Turra diz, no entanto, que há um limite. Em 2019, os brasileiros já aumentaram em 34% as vendas de aves para a China e em 61% as de suínos.
Neste ano, a produção do Brasil deverá crescer 5% na suinocultura e 7% na avicultura. Há pouco espaço para volumes maiores.
Já o consumo de carne bovina dos chineses deverá ser de 9,5 milhões de toneladas, o de carne suína recua para 40 milhões, e o de frango vai a 15,2 milhões (Folha de S.Paulo, 4/2/20)