Grupo Montesanto Tavares pede recuperação judicial
Dívidas começaram a se acumular após quebra de safra no ciclo 2021/22.
Empresa atua na produção e trading e é uma das maiores exportadoras de café do Brasil. Foto Reprodução - Facebook
O grupo mineiro Montesanto Tavares, um dos maiores exportadores de café do Brasil, entrou com pedido de recuperação judicial na 2ª Vara
Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, após tentar, sem sucesso, renegociar com credores dívidas de R$ 2,13 bilhões.
O grupo é composto pelas empresas Cafebras Comércio de Cafés do Brasil, Atlântica Exportação e Importação, e suas controladoras Companhia Mineira de Investimentos em Cafés e Montesanto Tavares Group Participações. As empresas têm unidades nos municípios mineiros de Varginha, Manhuaçu, Caparaó, Patrocínio, Alto Caparaó e Belo Horizonte.
O juiz Murilo Silvio de Abreu, da 2ª Vara Empresarial da Comarca de Belo Horizonte, no entanto, determinou a realização de uma constatação prévia, antes de decidir sobre o pedido de recuperação judicial.
A legislação permite que o juiz peça uma constatação prévia, feita por perito por ele definido, para avaliar as condições reais de funcionamento do grupo, antes de decidir se autoriza a recuperação judicial. O juiz nomeou o perito Wagner Miranda Rocha, da WMR Peritos Associados, para apresentar um laudo sobre a situação financeira do grupo no prazo de cinco dias.
Contexto
Na petição assinada pelo advogado Daniel Vilas Boas, do escritório VLF Advogados, alega que o Grupo Montesanto acumulou dívidas de R$ 2,13 bilhões relacionadas com perdas devido a problemas de safra, à alta dos preços internacionais do café e à desvalorização do real em relação ao dólar.
O grupo conta com uma rede de aproximadamente 2 mil produtores de café e 177 empregados. Em 2023, o grupo comercializou 166,3 mil toneladas de café, exportando para 58 países. A receita da Cafebras atingiu R$ 999,5 milhões em 2023, com lucro de R$ 20,2 milhões. A Atlantica, por sua vez, atingiu receita de R$ 1,61 bilhão, com prejuízo de R$ 42,4 milhões.
De acordo com o grupo, os problemas começaram na safra 2021/22, quando as lavouras no sul de Minas Gerais foram fortemente prejudicadas por seca, geada e granizo. Produtores deixaram de entregar a produção que o grupo havia contratado previamente, o que o obrigou a comprar café no mercado físico a preços mais altos para honrar os acordos de exportação.
Para pagar essas compras, o grupo fez dívidas contratando operações de adiantamento em contratos de câmbio (ACCS).
Em 2024, a crise do grupo foi agravada pela alta dos preços internacionais do café arábica e pela desvalorização do real ante o dólar. O grupo passou a sofrer com constantes “chamadas de margem” por parte das corretoras e bancos para cobrir o aumento dos preços.
Em maio de 2024, os compromissos com derivativos representavam 74% do volume de recebíveis do grupo. Em novembro, o volume de compromissos com derivativos representava 158% do salto de recebíveis. Em termos nominais, o valor de derivativos passou de R$ 50 milhões para R$ 470 milhões.
Negociações
O grupo pediu, no fim do ano passado, carência de 60 dias para negociar as dívidas de forma extrajudicial com os credores. O pedido foi concedido e até prorrogado por mais 30 dias, mas não houve acordo.
Da dívida de R$ 2,13 bilhões, R$ 1,4 bilhão é de dívidas com bancos e corretoras. Entre os maiores credores estão Cargill, Banco do Brasil, Santander, Safra, Bradesco, BTG Pactual e Itaú Unibanco.
No pedido de recuperação judicial, o grupo solicitou a suspensão das execuções judiciais de dívidas e a proteção de bens e direitos que integram o seu patrimônio por 60 dias. O grupo também solicitou a inclusão das ACCs nas dívidas protegidas pela recuperação judicial. Na decisão, o juiz aceitou a inclusão das ACCs no pedido de recuperação judicial e a suspensão da entrega de ativos do grupo em garantia para credores, incluindo as sacas de café que ainda estão com o grupo (Globo Rural, 5/3/25)