24/09/2018

Guerra comercial converte mercado mundial de soja em carrossel

Guerra comercial converte mercado mundial de soja em carrossel

A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, com a China está transformando o mercado global da soja em um carrossel.

Como as exportações brasileiras estão diminuindo nesta época do ano, os traders estão tendo que ser criativos para abastecer o maior comprador do mundo. Uma estratégia é levar a soja americana para a Argentina e enviar a produção do país sul-americano para a China, evitando assim a tarifa de 25 por cento que o país asiático deve pagar pelo produto americano.

 Três navios estão programados para carregar soja argentina com destino à China depois que uma remessa partiu no início deste mês, segundo dados da Agencia Marítima Nabsa. Embora a Argentina normalmente envie parte de sua produção para a China, os traders não esperavam nenhuma exportação nesta época do ano por causa de uma seca que reduziu as colheitas.

“A Argentina está comprando grãos dos EUA para o mercado doméstico e exportando sua própria produção para a China”, disse Matt Ammermann, gerente de risco de commodities da corretora de futuros e opções INTL FCStone, por telefone.

Os navios Rosco Banyan, Sunshine Bliss e Seacon 9 deverão carregar um total de 167.740 toneladas de soja argentina de 23 de setembro a 1º de outubro, segundo dados da Nabsa. Um navio partiu no início deste mês transportando 36.119 toneladas de soja argentina e um pouco da oferta uruguaia.

A Argentina normalmente produz mais soja do que a que consome, deixando de 8 milhões a 9 milhões de toneladas para os mercados de exportação. Mas neste ano uma seca reduziu a produção em 31 por cento, obrigando as esmagadoras do país a importar. Os traders dos EUA venderam 840.000 toneladas de soja para a Argentina na semana encerrada em 13 de setembro, contra zero no mesmo período do ano passado, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA.
Há uma “boa margem” para importar soja dos EUA para esmagar na Argentina, disse Ammermann.

A Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), do Brasil, afirmou no início deste ano que o país poderia acabar importando até 1 milhão de toneladas de soja dos EUA como resultado da guerra comercial (Bloomberg, 21/9/18)


Soja barata dos EUA atrai compradores chineses 

Embarques chamaram a atenção de operadores que querem ficar longe do mercado americano por causa do risco de bloqueios à soja do país.

Pelo menos duas cargas de soja dos Estados Unidos estão a caminho da China, com alguns compradores dispostos a correr o risco diante dos preços baixos da oleaginosa no país, mesmo em meio a preocupações de que Pequim possa adotar novas medidas para conter importações dos EUA pelas crescentes tensões comerciais com Washington.

O transporte da soja dos EUA para a China praticamente parou desde que Pequim impôs pesadas tarifas sobre US$ 50 bilhões em importações americanas, incluindo soja, em retaliação a um movimento similar de Washington. Ainda assim, o navio graneleiro Ultra Panther era esperado para chegar ontem ao sul da China, enquanto o Elsa S atracará no Porto de Qingdao, na Província de Shandong, no dia 26 deste mês, segundo dados de navegação do Thomson Reuters Eikon.

Os compradores da soja, que é usada para fabricação de ração animal e óleo de cozinha, não são conhecidos, e as cargas podem ter sido encomendadas antes da introdução das tarifas. Mas os embarques chamaram a atenção de operadores que querem ficar longe do mercado americano por causa do risco de maiores bloqueios à soja dos país.

“Quem quer que esteja comprando essas cargas é realmente grande. Nós não ousaríamos comprar dos EUA agora”, disse um operador de uma empresa estatal.

Alguns operadores temem que as alfândegas chinesas possam ser mais lentas na liberação de compras dos EUA, ao intensificar inspeções, como aconteceu com carne de porco e frutas mais cedo neste ano.

A soja ganhou um lugar central na prolongada disputa comercial entre as duas maiores economias globais, com Pequim mirando produtores em Estados como Iowa, que votou por Donald Trump na eleição de 2016.

A oleaginosa, muito cultivada em Iowa e Nebraska, foi o maior produto agrícola de exportação dos EUA para a China no ano passado, com US$ 12,8 bilhões em valor. “Quem tem a coragem de importar soja americana? O risco político é alto demais”, disse um importador. “Nunca nos atreveríamos a ser os primeiros”, adicionou.

O incentivo, no entanto, é grande, uma vez que os preços de exportação FOB (Free On Board, quando o exportador é responsável pela mercadoria até ela estar dentro do navio, para transporte) do Golfo dos EUA caíram 30% desde abril, para mínimas na década de cerca de US$ 316 por tonelada, enquanto os preços de exportações do Brasil subiram com a busca dos chineses por outras fontes de suprimento.

Brasil

Mesmo com a tarifa adicional de 25%, a soja dos EUA ainda está mais barata que a oferta do Brasil, e a diferença entre os dois produtores em outubro cresceu para um recorde nesta semana.

Ainda assim, a maior parte dos compradores chineses aumentou os negócios com a soja do Brasil nos últimos meses, com medo de uma oferta mais apertada no quarto trimestre, quando a soja dos EUA domina o mercado com a chegada da colheita de outono.

“O preço de importação da soja brasileira saltou para cerca de 3.500 yuans por tonelada depois dos impostos, o que está em torno dos mesmos níveis que a soja dos EUA”, disse Tian Hao, analista sênior da First Futures. “Mas os processadores não estão trazendo soja dos EUA, pois não ousam fazê-lo, a menos que o governo dê uma aprovação explícita. É uma questão política”, disse Tian (O Estado de S.Paulo, 22/9/18)