IBGE e ministério suspendem fundação criada por Pochmann
Servidores do IBGE fizeram protesto na frente da sede do instituto, no Rio, na manhã desta quarta-feira, 29. Foto Daniela Amorim
Medida foi divulgada em nota conjunta do ministério e do instituto, em dia de mais um protesto de servidores na frente da sede do instituto, no Rio.
O Ministério do Planejamento e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram nesta quarta-feira, 29, nota conjunta em que decidem, “em comum acordo”, suspender temporariamente a iniciativa da fundação privada IBGE+. O IBGE tem autonomia administrativa, mas é subordinado ao Planejamento, por isso receberá apoio, via lei orçamentária, para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola.
Como o Estadão/Broadcast vem mostrando, há meses o IBGE vive uma crise interna provocada por inúmeras razões, incluindo a criação da fundação de direito privado IBGE+. Contra o que apelidaram de “IBGE paralelo” e o “autoritarismo” de seu criador, Marcio Pochmann, servidores do órgão realizaram uma manifestação na manhã desta quarta-feira, 29, em frente à sede do instituto, na região central do Rio de Janeiro (saiba mais abaixo).
A suspensão foi anunciada poucas horas depois de Pochmann ter dado entrevista defendendo a criação da fundação como fonte para financiar as pesquisas.
Na nota conjunta, o Ministério do Planejamento e o IBGE informam que resolveram “em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”, diz o texto.
Os órgãos afirmam que, diante desse desafio, estão sendo mapeados modelos alternativos que podem implicar em alterações legislativas, “o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional”. O Planejamento e IBGE esclareceram ainda que “qualquer decisão que oportunamente for tomada seguirá o debate no IBGE e com o Executivo e o Legislativo”.
Sobre o aperfeiçoamento institucional, a nota ressalta que o IBGE foi reconhecido como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). Por isso, vai elaborar sua Política de Inovação, conforme determinação da Lei de Inovação para ICTs, com a instituição de um comitê próprio, composto por servidores de todas as diretorias e membros das superintendências.
O Planejamento também vai apoiar o IBGE para a formulação do Censo Agropecuário, via Lei Orçamentária Anual, em recursos para 2025. O cronograma envolve treinamento, contratação, entre outros.
Na nota divulgada nesta quarta-feira, 29, o IBGE é definido como um “órgão basilar na geração e na análise de dados referentes ao Brasil, produzindo informações que atendem a diversos setores governamentais e da sociedade civil”.
‘Verdadeiro IBGE paralelo’
No protesto realizado na manhã desta quarta-feira, 29, em frente à sede do instituto, na região central do Rio de Janeiro, o sindicato dos servidores, o Assibge-SN, ganhou o reforço do Sindicato Intermunicipal dos Servidores Públicos Federais dos Municípios do Rio de Janeiro (Sindisep-RJ).
“Essa não é uma luta só do IBGE, é uma luta de todo o serviço público. Feito de cima para baixo, (a fundação IBGE+) é um modelo que eles vão querer replicar em todo o serviço público, é para poder privatizar, para ceder aos liberais”, declarou Raul Bittencourt, secretário-geral do Sindisep-RJ. “Isso expõe a recusa de setores ditos progressistas de dialogar com sindicatos de trabalhadores.”
Presente no ato, o Sindisep-RJ já tinha emitido uma moção de apoio aos servidores do IBGE e, em especial, ao sindicato dos trabalhadores do instituto.
“Pochmann criou a IBGE+, uma ‘fundação privada de apoio’, verdadeiro IBGE paralelo, de forma autoritária e sem diálogo prévio com a casa. Quando questionado pelo sindicato, passou a fazer todo o tipo de ataque, inclusive levantando falsas suspeitas quanto os motivos da Assibge”, dizia o texto da moção do Sindisep-RJ, que convocava ainda os servidores públicos de demais órgãos para engrossar a manifestação em frente à sede do IBGE.
“Ele está atacando o sindicato. Nós somos o IBGE”, disse a servidora Maria Lúcia Vilarinhos. “Fortalecer o IBGE para nós é ter recursos próprios para sabermos que vai ter Censo Demográfico a cada dez anos, Contagem da População, Censo Agropecuário.”
Embora a demanda oficial do sindicato seja pela implementação de um efetivo diálogo entre a direção e os trabalhadores, já era possível ouvir gritos de “Fora, Pochmann” entre os presentes na manifestação.
“Seria bom que ele fosse embora, que arrumasse um cargo em outro lugar para ganhar mais. Ele não entende nada do IBGE, não entende como funciona, não entende nada das pesquisas”, discursou no protesto Gleice Assis, que integra um dos núcleos regionais do Assibge-SN.
Nos dizeres de faixas e camisas de protesto, os manifestantes pediam uma gestão efetivamente democrática, mais orçamento, mais servidores efetivos e respeito aos trabalhadores do órgão. O ato de protesto foi convocado pelo Assibge, após reunião virtual com a participação de mais de mais de 50 coordenadores de núcleos para debater a crise interna no instituto.
Além da manifestação na sede, estavam previstos atos, assembleias e panfletagens de protesto em outros Estados. A entidade que representa os trabalhadores já alertou que a crise interna tem sido usada por opositores do governo federal em tentativas de desgastar a credibilidade das estatísticas produzidas e já dificultam o trabalho de coleta de dados em campo.
“Nosso sindicato nunca lutou só por salários e direitos, nosso sindicato lutou pelo IBGE como instituição pública”, disse a servidora Susana Drummond, pedindo o fim da fundação IBGE+. “Não vamos recuar!”
Presidente do PT aponta ‘campanha contra Pochmann’
A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hofmann (PR), afirmou nesta quarta-feira, 29, que há uma campanha de “evidente” caráter político e partidário contra Pochmann. Por meio do X (antigo Twitter), Gleisi descartou qualquer risco para a credibilidade dos dados produzidos pelo órgão.
“O caráter político e partidário da campanha contra Pochmann é evidente e só interessa a quem teme o fortalecimento do IBGE”, afirmou a parlamentar, na sua conta na rede social.
Uma publicação divulgada pelo IBGE na terça-feira, 28, foi o gatilho de mais um episódio da crise interna que se arrasta há meses no órgão federal. Servidores repudiaram o fato de o conteúdo ter um prefácio assinado pelo governo de Pernambuco. No entender deles, o texto poderia caracterizar “propaganda política” e “campanha eleitoral” de Raquel Lyra — governadora que, apesar de integrar o PSDB, é contrária à oposição da sigla ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conforme já disse em entrevista.
O que Gleisi diz no post no X:
Na defesa de Pochmann, Gleisi afirma: “O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, enfrenta de fato resistência às mudanças que vem promovendo na instituição. Não apenas a criação do IBGE+, para reforçar as fontes orçamentárias do IBGE, mas também as orientações para o retorno ao trabalho presencial e a mudança da sede atual, que dispende aluguéis elevados. Daí a dizer que a credibilidade das estatísticas nacionais estaria em risco, como vem sendo plantado na mídia, vai uma enorme distância injusta e injustificável” (Estadão, 30/1/25)