“IBGPea” pode ser o grande think tank do governo
A fúria consolidadora da equipe econômica do ministro da Paulo Guedes está triscando o IBGE e o Ipea. As duas instituições sempre primaram pela independência. Nos últimos tempos, têm sido bolinadas pelo governo, que aproveita da inanição orçamentária de ambas para buscar influir mais do que deveria nas atividades de uma e de outra. No governo Bolsonaro, o IBGE entrou em pé de guerra com as mudanças que a equipe do ministro da Economia ensaiou fazer no censo demográfico.
O IBGE, de Isaac Kerstenetzky, e o Ipea, de João Paulo dos Reis Veloso, estão entre os órgãos governamentais mais lapidares da história da produção de bens públicos do país. Dito isto, é bom que se ressalte: não consta sequer a insinuação de que Guedes e sua turma pensem em uma virtual fusão dos dois institutos porque queiram transformá-los em pau mandados. Essa alusão é não mais do que pura intuição.
Se quiser influenciar as decisões de ambas as casas o ministro já conta com o instrumento do orçamento – quer melhor mecanismo de pressão? A união entre o IBGE e o Ipea estaria mais para as decisões reformistas-modernizantes por meio das quais Guedes quer deixar sua marca no governo. Medidas como juntar a Susep e a Previc e transferir o Coaf para o Banco Central, entre outras ideias menos votadas.
O Ipea até tem pontos em comum com o IBGE. Ambos lidam com base de dados. Mas cabe ao primeiro uma atuação bem mais crítica, questionando, fundamentalmente, o próprio governo. O IBGE, ao contrário, é um órgão eminentemente de produção de estatísticas. A criação do “IBGEpea” permitiria ao ministro da Economia fortalecer a estrutura de mais uma área do governo.
Deixariam de ser organismos “desinteressantes” para se transformarem em uma única agência influente, o grande think tank do governo. Pode ser que sejam só especulações. Mas a ideia é à feição exata de Paulo Guedes (Relatório Reservado, 26/8/19)