Ibovespa sobe 0,77% e avança 0,25% na semana; dólar fecha abaixo de R$ 5
Dólar Foto- José Patrício - Estadão
Exterior ajuda, com sinalização de acordo para evitar calote do governo dos Estados Unidos em negociação de teto da dívida
O Ibovespa encontrou fôlego para acentuar alta à tarde e colocar a semana no positivo, no fechamento desta sexta-feira. Na sessão, o índice da B3 subiu 0,77%, aos 110.905,51 pontos, e acumulou leve ganho de 0,15% na semana, em que abriu com perdas até a quarta-feira e encerrou com avanços entre ontem e hoje. Assim, a referência conseguiu encadear a quinta semana de alta, em intervalo positivo que retrocede a 24 de abril. Saiu então de patamar inferior a 104 mil pontos, a 103,9 mil, para nível bem próximo dos 111 mil, cerca de 7 mil pontos adiante. O dólar teve baixa de 0,93% e fechou cotado a R$ 4,9887, encerrando a semana com leve desvalorização (-0,14%).
Embora em alguns pontos do intervalo os avanços tenham sido muito discretos, em recuperação gradual para o índice, desde trecho entre janeiro e fevereiro do ano passado o Ibovespa não colhia cinco semanas sem quebra de ganhos. No mês, o Ibovespa sobe 6,20%, colocando a 1,07% a alta de 2023.
Em Nova York, em semana na qual o otimismo em torno dos efeitos disruptivos da inteligência artificial impulsionou o setor de tecnologia, o índice Nasdaq fechou a sexta-feira em alta de 2,19% e o S&P 500, de 1,30% - na semana, o primeiro acumulou ganho de 2,51% e o índice amplo, de 0,32%, ambos à frente do blue chip Dow Jones, que subiu hoje 1,00%, mas cedeu terreno na semana. O período foi marcado também pelas negociações em torno do teto da dívida americana, e a tensão inicial vai dando lugar à expectativa de que uma solução seja encontrada nos próximos dias - e votada pelo Congresso até o meio da próxima semana para impedir um default.
Segundo a Reuters, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, estão se aproximando de acordo que aumentaria o teto da dívida, de US$ 31,4 trilhões, por dois anos, limitando os gastos na maioria dos itens, de acordo com uma fonte com conhecimento do assunto.
O desdobramento positivo também animou os mercados acionários da Europa nesta última sessão da semana, com recuperação para as ações do setor de petróleo por lá, movidas também por avanço pouco acima de 1% para o Brent e o WTI. Aqui, Petrobras ON e PN encerraram o dia em alta de 1,66% e 1,32%, respectivamente, enquanto Vale ON subiu 2,28% com o alívio proporcionado pela relativa recuperação do minério de ferro na China nesta sexta-feira, de volta ao limiar de US$ 100 por tonelada. Ainda assim, as perdas na ação da mineradora ficaram em 4,16% na semana - no mês, os papéis cedem até aqui 8,38% e, no ano, caem 23,73%.
“Com o petróleo na faixa de US$ 70 a US$ 80 por barril como agora, Petrobras vai bem, considerando que suas ações seguem muito descontadas em relação aos ‘peers’ internacionais, com o Ebitda que a empresa tem. Vale está muito amassada: depende demais da demanda chinesa e, com a incerteza sobre o nível de atividade no país, uma recuperação do preço do minério, que tem se mantido ali pelos US$ 100, fica condicionada a anúncio de medidas de estímulo à economia pelo governo de lá, o que não tem ocorrido”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.
Por outro lado, ele ressalta o bom momento doméstico, com a confirmação de inflação mais acomodada no IPCA-15 e a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, ambos nesta semana: uma combinação positiva em momento no qual as projeções de mercado já vinham embutindo expectativa mais favorável para os índices de preços e os juros.
A percepção do mercado é de que cortes na Selic virão no segundo semestre, com a desaceleração dos índices de inflação e segurança maior em torno da disposição do governo em não deixar que os gastos públicos fujam ao controle, embutida no arcabouço fiscal. E de que os juros das principais economias (EUA e zona do euro) estejam perto do pico, ainda que o processo de redução das taxas de referência, como os Fed funds, leve mais tempo para ser iniciado por lá, como se espera.
“Mercado ainda otimista com relação à regra fiscal, e a gente observa isso especialmente na curva de juros, com todos os vértices hoje em queda, refletindo dissipação de preocupações em torno da condução das contas públicas”, diz Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos.
Bolsa
O dólar à vista recuou na sessão desta sexta-feira, 26, devolvendo parte da alta de 1,65% ontem, quando houve rearranjo das apostas para o rumo da taxa de juros aqui, após o IPCA-15 de maio, e nos Estados Unidos. A recuperação do real hoje veio no bojo de uma queda da moeda americana em relação a divisas emergentes, em meio ao avanço das commodities e ao aumento do apetite a risco no exterior, na esteira de sinais de progresso nas negociações para ampliação do teto da dívida dos EUA.
Afora uma alta pontual na primeira hora de negócios, quando registrou máxima a R$ 5,0330 o dólar operou com sinal negativo no restante do dia. Após tocar mínima a R$ 4,9802 à tarde, em sintonia com o ambiente mais benigno lá fora, a moeda fechou cotada a R$ 4,9887, em baixa de 0,93%, encerrando a semana com leve desvalorização (-0,14%). Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para junho teve bom giro, acima de US$ 14 bilhões. Operadores relataram internalização de recursos por exportadores e fluxo para ações domésticas.
“Houve uma reação positiva dos mercados hoje aos sinais de resolução do impasse nos Estados Unidos, já que um calote na maior economia do mundo teria impacto global, minando a confiança e a atividade econômica”, afirma o CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, ressaltando que os resultados expressivos das exportações brasileiras têm contribuído para o desempenho do real nas últimas semanas.
Referência do comportamento do dólar frente a seis moedas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY passou a tarde em leve baixa, por volta dos 104,200 pontos, com o mercado monitorando as tratativas em Washington. Na semana, o Dollar Index avança ao redor de 1%. Pela manhã, investidores digeriram dados divergentes sobre inflação nos EUA. O núcleo do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de inflação preferida pelo Federal Reserve, veio acima das estimativas em abril tanto em relação a março quanto na comparação anual. Já as expectativas para a inflação em um ano, segundo pesquisa da Universidade de Michigan, recuaram de 4,6% em abril para 4,2% em maio (Estadão 26/5/23)