18/02/2025

Impopularidade pode aumentar irresponsabilidade fiscal – Editorial Folha

Impopularidade pode aumentar irresponsabilidade fiscal – Editorial Folha

Menor taxa de aprovação de Lula no Datafolha poderá, no pior cenário, incentivar gastança que elevou dólar e inflação.

 

O tombo inaudito no índice de aprovação de Luiz Inácio Lula da Silva não é só má notícia para o petista, já que enseja temores no mercado de que o Planalto abrace de vez a irresponsabilidade fiscal daqui em diante, gerando impactos severos sobre a inflação que afeta sobretudo os mais pobres.

 

Segundo pesquisa do Datafolha, entre dezembro e janeiro, a taxa de entrevistados que consideram seu governo ótimo ou bom despencou de 35% para 24%. Na mão inversa, a reprovação subiu de 34% para 41%.

 

Ambas as marcas são inéditas para o mandatário, considerando seus governos de 2003 a 2010 e o atual. A desaprovação se espraia até mesmo em segmentos tradicionalmente lulistas.

 

A crise decorre de problemas pontuais e estruturais. No primeiro grupo, encontra-se o desastre de gestão e comunicação em janeiro, quando a edição de uma medida para vigiar transações acima de R$ 5.000 no Pix foi criticada e chegou a ser alvo de uma campanha de fake news.

 

Já as questões subjacentes à queda são mais complexas. Apesar de ter na Fazenda um ministro que se diz comprometido com o rigor fiscal, Fernando Haddad, na prática Lula tem minado qualquer ideia de austeridade.

 

De tal irresponsabilidade decorreu a disparada do dólar ao final de 2024, pressionando a inflação de alimentos e outros itens básicos, que afeta principalmente a renda dos mais pobres —nesse grupo, a aprovação do presidente caiu de 44% para 29%.

 

A recente alta do preço dos ovos é uma provável nova trincheira a ser explorada pela oposição, que na crise do Pix foi eficaz em maximizar danos. Manifestações contra o presidente, marcadas para 16 de março, poderão dar uma medida do desafio a ser enfrentado por Lula.

 

Em favor do petista, há divisão nas hostes rivais, cortesia da insistência de Jair Bolsonaro (PL) em dizer que será candidato em 2026, mesmo impedido.

 

Políticos mais óbvios que poderiam se colocar na disputa, como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), não o fazem e perdem exposição. Com isso, mutações do bolsonarismo —o cantor Gusttavo Lima é um exemplo— ocupam o noticiário.

 

Dadas as incertezas sobre a guerra tarifária proposta pelo americano Donald Trump, que pode impactar câmbio e inflação aqui, o horizonte visível é tenso e agravado por pressões políticas domésticas, como a expansão do apetite por cargos do centrão.

 

As medidas sugeridas para tentar melhorar a popularidade de Lula enfrentam obstáculos, como a ampliação dos programas Pé-de-Meia e Auxílio-Gás, além da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.

 

Embora o pior cenário seja o da elevação dos gastos, é bastante provável que tudo siga como está, sem o aumento na gastança, pois o presidente já deve ter percebido, pelos números da pesquisa, que a irresponsabilidade fiscal não está funcionando (Folha, 18/2/25)