Importação de etanol continua elevada mesmo com taxação
Motivo de desavenças dentro do setor sucroalcooleiro no ano passado, as importações de etanol deste mês estão tão aquecidas quanto um ano atrás, mesmo após o governo brasileiro ter limitado o volume de importação livre de tarifa a uma cota de 150 milhões de litros por trimestre. O que excede esse volume paga 20% de tarifa. Agora, o Ministério da Agricultura está reavaliando a cota.
Os portos brasileiros devem receber, até o fim do mês, 18 navios carregados de etanol, de acordo com dados da agência marítima Williams Brazil. São dois a mais do que em janeiro de 2017, carregando em torno de 48 milhões de litros, um aumento de 6%.
Na safra passada (2016/17, encerrada em março), os baixos preços do etanol americano, reflexo da supersafra de milho dos EUA, tornaram a importação mais vantajosa para alguns players do que comprar etanol das usinas brasileiras. O volume foi tão alto que as importações superaram as exportações de etanol do Brasil na temporada – algo que deve se repetir neste ciclo.
Agora, a importação tem sido vantajosa mesmo para volumes que ultrapassam a cota isenta de 20%. Na semana passada, cargas que entravam pagando a tarifa ainda proporcionavam ao importador lucro de US$ 80 por metro cúbico, segundo a consultoria Datagro. Nesta semana, a importação passou a dar resultado negativo de ao menos US$ 25 o metro cúbico, em função da alta do etanol dos EUA e da moeda americana.
Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), diz que a arbitragem favorável ao produto importado "ajuda", mas o aquecimento da demanda por etanol hidratado (vendido diretamente nas bombas) no país tem estimulado a importação.
Segundo ele, as usinas têm importado etanol anidro (que é misturado à gasolina) e o transformado em hidratado para garantir uma oferta elevada do produto, compatível com o consumo em alta, e evitar elevação de preços. No início de 2017, as vultosas importações derrubaram os preços internos do hidratado, dado que a demanda ainda era fraca.
Uma alteração na cota, como aventado pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, é vista pela Unica como fonte de insegurança para o setor, já que as empresas fizeram seu planejamento comercial com base na vigência de dois anos da medida.
Como as importações estão ocorrendo mesmo fora da cota, Plinio Nastari, presidente da Datagro, acredita que o Brasil deve continuar importando na próxima safra (2018/19) o mesmo volume desta, com ou sem a tarifa. Ele estima que o volume ficará em 1,75 bilhão de litros, sendo 550 milhões de litros destinados ao Centro-Sul, sobretudo no primeiro trimestre.
A princípio, ele não vê uma mudança de programação de produção das usinas, já que o etanol está proporcionando remuneração superior ao açúcar. "Se houver [mudança], vai ser pequena", diz.
Contexto:
As usinas do Centro-Sul venderam 656,4 milhões de litros de etanol hidratado na primeira metade de janeiro, 50% a mais do que o mesmo no período da safra passada, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Única). No acumulado da safra 2017/18, as vendas já somaram 12,2 bilhões de litros, aumento de 2%.
Na primeira quinzena do mês, apenas seis usinas operaram na região, e a previsão da Única é de que a moagem até fevereiro será marginal. Desde o início da safra, foram moídas 583,6 milhões de toneladas de cana, queda de 1,63%.
Mas como o teor de sacarose está elevado, a oferta de matéria-prima é maior. A quantidade de açúcares totais recuperáveis (ATR) está quase 0,95% maior do que na safra passada, em 80,1 milhões de toneladas (Assessoria de Comunicação, 25/1/18)