Imposto sobre açúcar aumenta preço da Coca-Cola em 40% no Reino Unido
Nesta sexta-feira (6) entra em vigor no Reino Unido uma lei que obriga fabricantes de refrigerantes e outras bebidas não alcoólicas a pagar uma taxa sobre os produtos com adição de açúcar.
Nesta sexta-feira (6) entra em vigor no Reino Unido uma lei que obriga fabricantes de refrigerantes e outras bebidas não alcoólicas a pagar uma taxa sobre os produtos com adição de açúcar. A medida tem como objetivo ajudar a combater a obesidade, um problema que atinge um a cada quatro adultos do país – o maior percentual de toda a Europa Ocidental. Mas a medida já encontra críticos que duvidam de sua eficácia.
O novo imposto, chamado de “sugar tax”, ou “taxa do açúcar”, foi anunciado há dois anos ainda pelo governo do então primeiro-ministro David Cameron e será cobrado dos fabricantes sobre a produção e importação de todos os refrigerantes, energéticos e outras bebidas com açúcar adicionado. Estão isentos os sucos naturais e as bebidas contendo pelo menos 75% de leite.
A taxa varia de acordo com a quantidade de açúcar por cada 100ml de bebida: quanto maior a presença, mais o fabricante terá que pagar impostos. Certamente, esse custo será repassado ao consumidor no preço final do produto. Para se ter uma ideia, os refrigerantes mais populares e tradicionais do mercado, como a Coca-Cola e a Pepsi, contêm entre 10g e 11g de açúcar por 100 ml, e podem sofrer um aumento de cerca de 40% em relação ao que se paga hoje.
Segundo o Ministério das Finanças, mais da metade dos fabricantes já anunciou que está mudando a fórmula de suas bebidas para cortar o teor de açúcar e evitar o imposto. Um bom exemplo é um conhecido energético que antes tinha 13g de açúcar por 100ml e agora passou a ter menos de 4,5g – uma redução de cerca de 60%. Já outras marcas estão substituindo o açúcar por adoçantes artificiais, que não são taxados.
Reino Unido é campeão de obesidade na Europa Ocidental
O Reino Unido não é o primeiro país a introduzir esse tipo de taxação, que já existe na Noruega, no México e na França, e também entra em vigor neste mês na Irlanda. A diferença é que os britânicos têm a maior incidência de obesidade em toda a Europa Ocidental, segundo um estudo da FAO, a agência alimentar da ONU.
Os números sobre a obesidade no Reino Unido são alarmantes: um em cada quatro adultos é obeso, uma taxa que quadruplicou nos últimos 25 anos. A previsão dos especialistas é de que até 2050 essa incidência aumente e mais da metade da população britânica seja qualificada como obesa ou acima do peso.
A obesidade é hoje um dos maiores desafios da saúde pública do país. Por causa dos problemas decorrentes do excesso de peso, como a diabetes e doenças cardiovasculares, o número de internações no sistema público de saúde mais do que dobrou nos últimos quatro anos, segundo o Ministério da Saúde, que divulgou uma pesquisa nesta sexta-feira (6), mostrando que a cada 10 minutos uma criança tem um dente retirado em um procedimento hospitalar por causa de cáries.
O açúcar é um fator importante por trás desses problemas. Pesquisas apontam que crianças e adolescentes britânicos consomem o triplo da quantidade de açúcar recomendada diariamente, sendo um quarto disso na forma de refrigerantes e outras bebidas doces. O governo britânico calcula que deve arrecadar o equivalente a mais de 1 bilhão de reais por ano com a nova taxação e pretende investir o valor no incentivo a atividades físicas nas escolas.
O novo imposto foi bem recebido por especialistas e grupos de apoio a pacientes de doenças ligadas à obesidade, principalmente com a notícia da redução do açúcar nas bebidas por metade dos fabricantes. Mas alguns especialistas questionam a eficácia da taxa, já que nada garante que o consumidor vá fazer escolhas mais saudáveis só porque os refrigerantes estão mais caros. É bom lembrar que outros alimentos com alto teor de açúcar não são afetados pelo imposto.
Redução do álcool
Em maio a Escócia pretende adotar uma lei para tentar conter o consumo de bebidas alcóolicas, que não poderão ser vendidas por menos de £0,50 (cerca de R$2,50) por unidade alcóolica. Para se ter uma ideia, uma lata de cerveja contém 1,5 unidade. A diferença é que essa taxa se reflete diretamente no bolso do consumidor, porque não é aplicada para o fabricante nem para o importador.
Os preços também sobem: uma caixa com 20 latas de cerveja, por exemplo, passa a custar o dobro do que era até agora para o consumidor final. Novamente, profissionais de saúde, especialistas e ativistas deram as boas-vindas ao novo imposto, mas há quem duvide da eficácia da medida, principalmente porque os fabricantes poderão aumentar sua margem de lucro. Se eles decidem investir em marketing, podem acabar minando os esforços do governo para reduzir o consumo de bebidas alcoólicas (G1, 6/4/18)